Vacinas da poliomielite não protegem contra bombas, diz mãe palestina em Gaza

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A OMS (Organização Mundial da Saúde) começou nesta quinta-feira (5) a segunda fase da campanha de vacinação contra a poliomielite na Faixa de Gaza. Na primeira etapa, a OMS aplicou a primeira dose da vacina em mais de 185 mil crianças, de acordo com o órgão da ONU, no que chamou de uma campanha bem-sucedida.

Mas pais e mães palestinos temem o que pode acontecer com seus filhos depois do fim da pausa humanitária entre Israel e o Hamas para aplicação das doses –as duas partes concordaram com a trégua no último dia 29, mas apenas em determinadas áreas e apenas pela duração da campanha de vacinação.

“Vacinei meus filhos contra a poliomielite para protegê-los dessa doença. Mas não posso protegê-los dos bombardeios e outros perigos mortais a não ser que nos ajudem, como nos ajudaram ao trazer essas vacinas”, disse a palestina Ghada Judeh à emissora Al Jazeera.

Bombardeios israelenses continuam a atingir áreas não cobertas pelo acordo. Na quinta, um ataque de Tel Aviv atingiu uma área ao lado de um hospital onde pessoas haviam acabado de se reunir para vacinar crianças –quatro pessoas morreram, segundo o jornal The New York Times.

Um comunicado da ONU disse que, embora as pausas humanitárias sejam bem-vindas, apenas um cessar-fogo poderia estabilizar a grave situação humanitária na Faixa de Gaza, cujos moradores enfrentam fome, doenças e bombardeios constantes.

“Assim que essas crianças forem vacinadas, voltarão para áreas onde, imaginamos, serão alvos de bombas uma vez mais”, disse James Elder, porta-voz do Unicef. “Isso não pode ser aceitado como normal.”

“Queremos brincar com nossos amigos. Queremos ir à escola, comer e beber. Mas a vacina não ajuda com essas coisas. Só contra a poliomielite”, disse Karam Yassin, de cerca de dez anos de idade, à Al Jazeera.

Na segunda fase da campanha, a OMS espera aplicar a primeira dose da vacina em 340 mil crianças de dez anos ou menos até o próximo domingo (8). Depois, a terceira fase tem como alvo 150 mil crianças, que serão vacinadas entre 9 e 11 de setembro. É necessária uma cobertura vacinal de pelo menos 90% para que uma epidemia de poliomielite seja evitada.

As doses chegam após o primeiro caso da doença no território em 25 anos ter sido confirmado neste mês. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse em um comunicado no último dia 29 que uma criança de 10 meses em Gaza contraiu poliomielite e ficou com uma perna paralisada.

“É encorajador ver que milhares de crianças puderam ser vacinadas, com o apoio de suas famílias e corajosos profissionais de saúde, apesar das condições deploráveis dos últimos 11 meses”, disse o representante da OMS para o território ocupado da Palestina, Richard Peeperkorn.

A poliomielite, também chamada de paralisia infantil, é uma doença altamente contagiosa causada por um vírus que foi erradicada em uma série de países do mundo, inclusive o Brasil, graças a campanhas de vacinação.