SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Centenas de pessoas foram às ruas da Venezuela para protestar contra o regime nesta quarta-feira (28), data que marcou o primeiro mês desde a controversa eleição na qual Nicolás Maduro foi declarado vencedor.
Os atos foram estimulados por líderes da oposição, incluindo María Corina Machado, que, em tom de desafio, afirmou que fará o chavismo ceder às pressões internacionais e domésticas para “respeitar a vontade expressa” nas urnas opositores e parte da comunidade internacional apontam fraude no pleito.
“Dizem que o regime não vai ceder, mas vocês querem saber de uma coisa? Nós vamos fazer com que ceda. E ceder significa respeitar a vontade expressa em 28 de julho”, afirmou María Corina, diante dos apoiadores. Desde a eleição, ela diz que vive escondida em seu país e que teme ser alvo de repressão devido a declarações sobre o resultado da eleição.
Maria Corína chegou ao ato vestindo um moletom com capuz preto para que as pessoas não a reconhecessem. Ela só tirou a peça em cima do palco, pouco antes de começar o discurso em que voltou a criticar o regime e pediu que seus apoiadores fossem persistentes. “Este protesto é imparável”, afirmou.
“Aqueles que acreditam que o tempo favorece o regime estão enganados. É exatamente o contrário: a cada dia que passa eles estão mais isolados. Não há como voltar atrás. Estamos indo em frente”, disse.
Na véspera, a líder opositora já havia dito à agência Reuters que protestos de rua e pressão internacional ainda são capazes de derrubar o ditador Maduro um mês após a eleição. Segundo a líder opositora, que não entrou em detalhes, seu campo político tem uma “estratégia robusta” para chegar ao poder.
Não há mandado de prisão emitido contra María Corina, embora o presidente do Legislativo venezuelano e ex-chefe da campanha de Nicolás Maduro, Jorge Rodríguez, já tenha pedido a detenção da líder e de Edmundo González, que representou a coalizão opositora no pleito de 28 de julho.
Manifestantes interromperam a fala de Maria Corína várias vezes com gritos de “corajosa, corajosa”. “Temos de nos proteger e cuidar de nós mesmos”, disse a líder opositora. “Temos de pensar nas coisas que fizemos neste mês. É uma fase difícil e nós sabíamos disso. E conseguimos transformar a causa da liberdade da Venezuela em uma causa mundial, em uma causa global.”
Logo após o comício, a oposição disse que o líder do partido Convergencia Venezuela, Biagio Pilieri, e seu filho foram detidos ambos participaram da manifestação, e o político chegou a subir no palco ao lado de María Corina. Segundo opositores, a última localização de Pilieri foi registrada próxima de uma prisão em Caracas.
“Ele sabia do risco e acompanhou os venezuelanos em Caracas como testemunho de sua responsabilidade e dedicação à causa. O regime perdeu completamente o senso de realidade e isso é mais um sinal de seu colapso. Sem mais prisioneiros! Não há como voltar atrás, e o mundo deve reagir!”, escreveu María Corina na plataforma X.
A oposição sustenta que venceu as eleições do dia 28 de julho, apesar da declaração oficial do CNE (Conselho Nacional Eleitoral) da Venezuela confirmando a reeleição de Maduro, sem apresentar as atas eleitorais, documentos detalhando os votos por urna, que comprovariam esse resultado.
O regime ainda não veio a público com as atas, mas diz que as entregou ao TSJ (Tribunal Supremo de Justiça) quando pediu à corte suprema que referendasse a vitória de Maduro o que aconteceu na última quinta-feira (22). Tanto o CNE quanto o TSJ são considerados órgão controlados pelo regime.
A coalizão opositora, por sua vez, diz ter publicado as atas eleitorais às quais teve acesso e afirma que elas comprovam a vitória de González sobre Maduro. Análises independentes vêm corroborando essa versão, e órgãos internacionais dizem que os documentos publicados têm alta probabilidade de serem verdadeiros.
Manifestantes distribuíram cópias de atas de votação nesta quarta. “As atas matam a sentença!”, gritavam. Foi o quarto ato convocado pela oposição desde que Maduro foi declarado vencedor em julho.
Além de Caracas, foram registrados atos contra o regime em pelo menos mais cinco cidades. Manifestações pró-regime, menores, também ocorreram. Em Caracas, Andres Guillen, apoiador de Maduro, disse em um comício que “fascistas tentam desestabilizar o país” após a eleição.