SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – É comum circularem no dia das eleições informações falsas sobre as urnas e o processo eleitoral, com a finalidade de interferir na lisura do pleito.
Frequente também é a circulação de fake news diretamente relacionadas aos candidatos.
Não deve ser diferente na atual eleição, em que o conteúdo falso mais rumoroso foi publicado por um dos líderes de intenção de votos na maior cidade do país: Pablo Marçal (PRTB) publicou na noite de sexta (4) um laudo falso para tentar associar o também candidato Guilherme Boulos (PSOL) ao uso de drogas.
As eleições no Brasil também têm sido marcadas pela reciclagem de fake news antigas, fenômeno que ocorreu nas duas últimas disputas, a geral de 2022 e a municipal de 2020.
Segundo o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo), costuma circular na data informação falsa sobre urnas que dificultariam o voto em algum candidato e sobre transporte irregular das máquinas em veículos particulares.
“Em eleições gerais, é comum eleitores tentarem votar em candidatos de outros estados e, por isso, afirmarem que seu candidato não está na urna”, afirma o tribunal.
Neste ano, voltou a circular um vídeo no qual o ex-deputado federal Fernando Chiarelli (PDT-SP) afirma, sem provas, que o sistema eleitoral é uma fraude, e que os programas das urnas estariam “preparados para criar quem vai ganhar e quem vai perder”.
O vídeo foi gravado em 2010 durante sessão plenária. Ao contrário do que diz a gravação, a urna não favorece candidatos. Além disso, o TSE sempre abre o código-fonte do equipamento para a auditoria de entidades fiscalizadoras um ano antes da votação.
Outra desinformação antiga que voltou a circular aponta que o código-fonte da urna teria sido quebrado, o que daria acesso a informações sobre quando, onde e em quem o eleitor votou.
De acordo com a Justiça Eleitoral, a imagem com a fake news trata, na verdade, de informações dos logs dos equipamentos, “que registram todas as atividades de funcionamento e eventuais falhas ocorridas durante o processo de votação”, sem relação com a escolha que os eleitores fazem dos candidatos.
Ainda segundo a Justiça, a imagem foi inicialmente compartilhada em novembro de 2022.
Outra desinformação recentemente checada pelo tribunal é sobre um site falso que promete emitir o título de eleitor por R$ 49. O endereço é divulgado por meio de anúncios online e diz ter outras finalidades, como a quitação de multas.
Serviços oferecidos pela Justiça Eleitoral como a emissão de título, porém, são gratuitos. O pagamento de multas deve ser feito por meio de canais oficiais, como o aplicativo e-Título e cartórios.
Já a última eleição municipal, de 2020, foi marcada por boatos questionando a segurança das urnas e a veracidade dos resultados, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Em novembro daquele ano –mês no qual ocorreram as eleições em razão da pandemia de Covid–, chegaram à Justiça para checagem informações falsas sobre voto facultativo para maiores de 60 anos e a impossibilidade de votar sem levar à seção eleitoral uma caneta, entre outros tópicos.
Uma desinformação que circulou no primeiro turno dizia que as justificativas eram computadas como votos para “candidatos de esquerda”. Todas essas informações são falsas.
Para o mesmo pleito, o site boatos.org, voltado à checagem de notícias, dividiu as fake news que viralizaram em quatro tópicos principais: fraude nas urnas –com cinco histórias antigas, de 2018, envolvendo a ideia de favorecimento a candidatos de esquerda– regras das eleições, com duas delas desinformando sobre o voto de maiores de 60 anos–, ataques a candidatos e histórias “bizarras”, como a de um candidato a vereador que teria oferecido a esposa em troca de votos.
Nas eleições de 2022, o destaque foi para desinformação sobre o desempenho das urnas. Uma delas dizia que o voto seria anulado ao se apertar “confirma” durante a tela “confira seu voto”.
O foco também foi em ataques diretos aos candidatos, como mensagem falsa sobre títulos de eleitor com QR Code que transferiria votos para Lula (PT), então postulante ao cargo de presidente.
Segundo o boatos.org, outras fake news que mais viralizaram no primeiro turno diziam respeito a Lula ter recebido respostas de um jornal para ajudá-lo em entrevista e pesquisa Ipec no Jornal Nacional que mostraria Jair Bolsonaro (PL) na frente do petista com 46% das intenções de voto.
De acordo com pesquisa feita pelo DataSenado em junho deste ano, 81% dos brasileiros acham que o resultado eleitoral pode ser afetado significativamente pelas notícias falsas. Além disso, 72% deles disseram ter tido acesso a esse tipo de conteúdo no primeiro semestre do ano.
Segundo Adriane Buarque de Holanda, pesquisadora de comunicação política e professora da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), algumas dicas para não cair em desinformação são ter visão mais crítica sobre conteúdos compartilhados no WhatsApp e em grupos de conhecidos, consultar fontes oficiais dos candidatos e buscar informações em agências de checagem confiáveis.