XP é acusada de pressionar funcionário a levar pai a investimento que deu prejuízo

Uma image de notas de 20 reais

Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A XP Investimentos é acusada na Justiça de ter pressionado um funcionário para que ele convencesse o pai a fazer uma operação financeira que acabaria em prejuízo.

Na ação judicial, o empresário Marco Antonio Puerta pede que a corretora lhe devolva os valores perdidos numa transação de R$ 15 milhões. Ele alega não ter sido alertado sobre os riscos do investimento, cuja contratação teria sido induzida pelo seu próprio filho Gabriel Puerta —que trabalhava na XP na época— mediante promessa de receber bônus.

Na última quinta-feira (22), o juiz André Augusto Salvador Bezerra concedeu medida liminar (provisória) determinando a suspensão da cobrança de juros de empréstimo ligado à operação.

Em nota, a XP disse não comentar casos na Justiça, mas afirmou que os “poucos fatos publicados estão fora de contexto” e que vai recorrer da decisão liminar.

“Em respeito à privacidade das informações de clientes, a XP não comenta casos específicos em andamento na Justiça. Os poucos fatos publicados estão fora de contexto, não refletem a realidade e a decisão liminar até então proferida será objeto de recurso. A XP preza pela qualidade no relacionamento com seus mais de 5 milhões de clientes, reconhecida pelos prêmios que acumula no seu segmento de atuação.”

Na ação, que tramita na 42ª Vara Cível de São Paulo, a defesa de Marco afirma que Gabriel passou a ser alvo de constrangimento contínuo por parte da XP, inclusive com ameaças de demissão, para que seu pai topasse a operação financeira.

Segundo o processo, Marco tinha cerca de R$ 22 milhões investidos na corretora. Os valores estavam aplicados em um “fundo private”, com CNPJ próprio e assessores exclusivos.

Apesar dos bons rendimentos, o empresário diz que passou a receber propostas para realocar os recursos logo após seu filho ser contratado pela empresa, no final de 2021.

De acordo com a ação, Gabriel convenceu seu pai a fazer uma “operação mista”, que consistia em tirar R$ 15 milhões do fundo exclusivo para aplicá-los em COEs (certificados de operações estruturadas) por cinco anos.

COEs são investimentos que combinam uma parte de renda fixa e ativos mais arriscados, como commodities, moedas e Bolsas estrangeiras

Para não ficar sem liquidez, a segunda parte da operação envolvia tomar um empréstimo de R$ 15 milhões mediante Cédula de Crédito (CCB), com juros pagos semestralmente.

A lógica era que os rendimentos do COE pagariam com sobra os juros do empréstimo, garantindo um lucro substancial, entre R$ 475 mil e R$ 3 milhões.

A operação foi feita em março de 2022. No entanto, segundo o processo, trouxe prejuízo. Além de rebaixar o perfil de Marco de “private” para “unique” na corretora, os rendimentos não eram suficientes para cobrir os juros do empréstimo.

Pedro Barreto, advogado de Marco e sócio do escritório Rodriguez Barreto Sociedade de Advogados, diz que seu cliente não foi alertado dos riscos e avalia que a equipe da XP forçou um negócio inútil, desfavorável ao cliente, tão somente paga garantir à equipe os bônus de investimento.

“Se fosse só uma situação de investir mal, o risco é de quem investiu mal. O problema é que teve um caráter de pressão. O chefe do Gabriel na XP forçou ele a levar o pai a concluir o negócio sem nenhuma tomada de informação concreta”, afirma.

Trocas de mensagens anexadas ao processo mostram conversas entre Gabriel e seu chefe.

Em uma das capturas de tela, o gestor pergunta se ele achava que a operação virava ainda naquele mês. “Ansioso por isso. Tô precisando de um bônus mais gordo”, responde Gabriel.

Segundo Barreto, outra conversa que mostra a pressão pelo bônus é quando o superior de Gabriel avisa que se um documento não fosse assinado naquele dia, o desembolso (sinônimo para bônus, segundo ele) entraria apenas no mês seguinte.

Em outro momento, eles comentam sobre Marco não estar confortável. “Vai tranquilo. Antes de seu pai, é seu cliente”, diz o chefe.

O pedido da defesa é que a operação seja anulada e que, além de devolver os valores usados, a XP indenize Marco em R$ 3 milhões referentes aos juros do empréstimo (a liminar da semana passada interrompe, por enquanto, a cobrança dos juros).

A defesa também acionou a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) sobre o caso.

Apesar dos prejuízos, o advogado afirma que a relação entre pai e filho está normalizada, embora tenha sido comprometida no começo. “Mas isso foi superado, inclusive porque agora a gente está buscando a solução, e ele [Gabriel] cooperou”, diz Barreto.

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