SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O rei emérito Juan Carlos, que liderou a Espanha de 1975 a 2014, publicou na quarta (5) um livro de memórias em que fala sobre a morte acidental de seu irmão mais novo causada pelo disparo de uma arma de fogo com a qual os dois brincavam há quase 70 anos.
É a primeira vez que Juan Carlos, 87, fala abertamente sobre detalhes do episódio. Além dele, também aborda a relação e o respeito pelo antigo ditador Francisco Franco (1892-1975) em “Réconciliation”, escrito em parceria com a autora francesa Laurence Debray.
A versão em francês da publicação de 500 páginas foi lançada pela editora Stock. A edição espanhola, publicada pela Planeta, está prevista para 3 de dezembro. As informações são do jornal The New York Times.
No livro, Juan Carlos, que agora vive nos Emirados Árabes, relata como seu irmão mais novo, Alfonso, morreu em 1956. Na época, Juan Carlos, então com 18 anos e cadete militar, estava visitando sua família em Portugal.
Ele e seu irmão, de 14 anos, brincavam com uma pistola quando ela disparou acidentalmente, segundo trechos do livro publicados pelo The Telegraph. A bala disparada ricocheteou e acertou o irmão na testa. Os dois não sabiam que a arma estava carregada.
“Perdi um amigo, um confidente. Ele deixou um enorme vazio”, disse Juan Carlos no livro, de acordo com um trecho publicado pelo The Guardian. “Sem a morte dele, minha vida teria sido menos sombria, menos infeliz.”
A chegada às livrarias da autobiografia coincide com o 50º aniversário da morte de Franco, em 20 de novembro de 1975 data que reacendeu os debates sobre a ditadura na Espanha.
No livro, o monarca reflete sobre seu papel na transição democrática. Entre as passagens mais controversas, estão as palavras que ele dedica a Franco, que governou a Espanha com mão de ferro após sua vitória na Guerra Civil (1936-1939).
“Eu o respeitava enormemente, apreciava sua inteligência e seu senso político (…). Nunca permiti que ninguém o criticasse na minha presença”, escreveu ele.
Nomeado por Franco como seu sucessor, Juan Carlos foi considerado por muitos uma figura fundamental na transição da Espanha para a democracia após a morte do ditador em 1975.
Na época, o monarca frustrou os planos do regime franquista ao apoiar um sistema parlamentar dentro de uma monarquia constitucional, apesar da forte resistência de alguns setores.
Juan Carlos abdicou em favor de seu filho, o príncipe Felipe 6º, em 2014. Em 2019, encerrou aparições institucionais, mantendo o título de rei emérito.
Em 2020, o rei Filipe 6º renunciou à própria herança e retirou repasses do palácio a seu pai após Juan Carlos ser investigado por corrupção. O episódio envolve relatos de que ele recebido 100 milhões de dólares do falecido rei saudita e dado milhões à sua ex-amante, a empresária dinamarquesa-alemã Corinna zu Sayn-Wittgenstein-Sayn.
O advogado dela afirmou que o dinheiro recebido foi “um presente não solicitado” de Juan Carlos para ela e seu filho.
A família real não comentou as memórias, mas afirmou que o rei emérito não vai participar das comemorações do 50º aniversário para a transição democrática no país.