BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Às 8h da manhã deste domingo (16) os chilenos começaram a decidir o futuro político do país, com as eleições presidenciais e legistivas. Oito candidatos concorrem à Presidência e, de acordo com as pesquisas eleitorais, quatro deles são considerados competitivos: Jeannette Jara, José Antonio Kast, Evelyn Matthei e Johannes Kaiser.
A votação começou no exterior, com os primeiros votos nas autoridades consulares na Oceania, e os resultados preliminares devem ser divulgados a partir das 20h, segundo a autoridade eleitoral.
Esta é a primeira eleição geral com voto obrigatório no país desde a reinstauração dessa medida em 2022, que pode aumentar a participação cidadã com mais de 15,7 milhões de pessoas aptas para votar.
Jeannette Jara, do Partido Social Democrático, é uma administradora pública e advogada de 51 anos, que já foi ministra do Trabalho do atual presidente, Gabriel Boric, e comandou o projeto de redução da jornada de trabalho no país. Ela também ajudou a aumentar a Pensão Universal Garantida e ganhou as primárias para representar a coalizão de esquerda “Unidade pelo Chile”.
José Antonio Kast, 59, é advogado e fundador do Partido Republicano. Ele já concorreu à Presidência em 2017 e 2021, obtendo significativa votação, especialmente no último, quando foi derrotado por Gabriel Boric no segundo turno. Kast tem uma longa trajetória política como membro da UDI (União Democrática Independente) e atuou como vereador e deputado, é de ultradireita.
Evelyn Matthei, representante da centro-direita e economista de 72 anos, é membro da UDI. Ela já ocupou cargos importantes, como ministra do Trabalho de Sebastián Piñera e prefeita de Providencia. Matthei ficou conhecida nacionalmente ao concorrer em uma eleição contra Michelle Bachelet em 2013.
Johannes Kaiser, 49, é um deputado e, assim como Kast, representante da ultradireita. Ele ajudou a fundar o Partido Nacional Libertário em 2024 e é conhecido por sua presença no YouTube, onde compartilha opiniões polêmicas sobre política. Seu irmão, Axel Kaiser, é um economista associado a ideias libertárias e ambos dizem se identificar com o presidente da Argentina, Javier Milei.
Os levantamentos divulgados até o início de novembro davam Jara liderando o primeiro turno, seguida por Kast. Os institutos de pesquisa dão como certo um segundo turno entre os dois, previsto para ocorrer em 14 de dezembro. Em um segundo confronto, Kast levaria vantagem ao aglutinar os votos dos concorrentes de direita.
Com a obrigatoriedade do voto, eleitores em diferentes cidades do país reclamaram de grandes filas, tanto para votar quanto para justificar o voto em delegacias de polícia.
Ao votar em Paine, Kast comentou as declarações de Matthei sobre uma possível foto de “unidade” entre os três candidatos da oposição após a divulgação dos resultados de domingo. Ela disse que “95% dos chilenos não se importam” com isso.
“Cada um é dono de seu silêncio e escravo de suas palavras. Cada um escolhe os termos e conceitos para se referir à importância ou não do voto, de uma imagem. Acredito que todas as imagens de unidade que podemos dar são importantes, mas isso está dentro da liberdade de cada candidato. Cada candidato escolhe qual é sua posição, sua posição, diante do que está por vir”, disse Kast.
“Tivemos muitos experimentos nos últimos anos, nunca tínhamos visto o grau de violência e os assassinatos de dia nas ruas, a educação pública está destruída”, disse Matthei, ao votar em Providencia. “Fui prefeita aqui e nos damos conta que os problemas cotidianos não são ideológico, mas que o povo precisa de alguém que faça com que as coisas funcionem. Estou confiante de que vamos para o segundo turno.”
Minutos antes de votar, Kaiser, que não faz parte de uma coalizão, disse acreditar na unidade dos candidatos de direita em um eventual segundo turno. “Estou me candidatando, em desvantagem, a um emprego muito importante, mas a vida não acaba se eu não vencer. Temos um projeto e precisamos continuar promovendo essas ideias.”
Acompanhado por sua filha Violeta, de cinco meses, o presidente Gabriel Boric deixou sua casa em Punta Arenas por volta das 9h e caminhou até a escola onde vota. No caminho, parou para tirar fotos com apoiadores. Com ele estava seu pai, Luis Boric.
“O Chile é uma família que, mesmo com suas diferenças, permanece unida. Estou muito animado, lembro quando eu era criança […] Poder votar com Violeta é uma alegria imensa”, disse o presidente, que confirmou que entrará na cabine de votação com a filha.
“O Chile tem um futuro promissor que depende de nós e que pode ser construído em dias como este.” Aos jornalistas Boric disse que por ser presidente não pode dar declarações que possam favorecer algum dos candidatos. “O mandato que o povo nos deu é até 11 de março e vamos trabalhar sem parar para que a qualidade de vida dos chilenos melhore.”
Os chilenos viveram uma campanha pautada pelo medo do aumento da violência e da ação do crime organizado em um país com indicadores de segurança melhores que o restante da região. Enquanto a esquerda decidiu testar seus nomes em primárias das quais Jara saiu vitoriosa, a oposição não conseguiu chegar a um acordo e lançou três candidatos que disputam um eleitor parecido.
As eleições terão um papel crucial na medição das forças entre as forças políticas do país, após quatro anos de Boric no poder (o atual presidente não pode concorrer a um segundo mandato consecutivo).
Desde os protestos de 2019, os chilenos passaram por diferentes processos eleitorais e consultas, o que gerou certa saturação e descontentamento eleitoral. “No entanto, o voto obrigatório pode modificar a dinâmica tradicional e aumentar a volatilidade”, segundo análise da consultoria Directorio Legislativo.
Além do próximo presidente, vão ser renovados todos os 155 assentos na Câmara dos Deputados e 23 dos 50 senadores. A expectativa é de um bom resultado para as coalizões de direita Chile Grande e Unido e Mudança pelo Chile, que poderiam alcançar a maioria na Câmara para aprovar leis com quórum simples. No Senado, a direita também poderia ter maioria.