Empresários temem que efeito eleitoral adie queda dos juros

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O cenário eleitoral cresce no cálculo dos empresários como mais um empecilho para a desejada queda da Selic, hoje em 15% ao ano.

Como costuma acontecer em anos de eleição, existe uma preocupação de que o governo eleve as despesas com medidas para tentar atrair votos em 2026, pressionando os limites fiscais, com risco de interferir na trajetória de corte da taxa básica de juros.

Ao mesmo tempo, nas conversas do empresariado, também aumenta o receio com o tipo de pressão que o governo pode fazer sobre o Banco Central, podendo abalar a credibilidade da instituição e também atrapalhar a redução esperada da taxa.

As críticas que partem da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, contra o atual patamar da Selic já não surpreendem, mas as novas falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chamam a atenção pelo tom mais ácido dirigido à autoridade monetária. Há alguns dias, Haddad afirmou que, se fosse integrante do Copom (Comitê de Política Monetária), votaria pela redução da taxa atual.

Apesar do consenso de que os 15% são insustentáveis e que falta controle aos gastos públicos, empresários de diferentes setores ainda discordam sobre as condições e o ritmo para o início da queda.

Para Alexandre Ostrowiecki, presidente do conselho de administração da empresa de eletrônicos Multilaser, hoje, não há espaço real para reduzir juros.

“A inflação segue acima da meta, o gasto público cresce sem controle e o novo arcabouço fiscal já mostrou suas brechas. O governo Lula insiste em pressionar o BC e afrouxar a disciplina fiscal, o que mina a confiança e mantém o prêmio de risco alto. Em um ambiente de incerteza e estímulo político típico de pré-eleição, qualquer corte agora seria irresponsável”, diz.

Laércio Cosentino, presidente do conselho empresa de sistemas para gestão Totvs, também não vê condições para redução em breve “Acho que ainda não temos o cenário para isto acontecer, principalmente, porque 2026 é ano de eleição”, afirma.

“O Brasil precisa dar uma ajuda e equilibrar as contas: gastar menos e com isto pressionar a inflação para baixo e dar espaço para a taxa de juros ceder. O crescimento deve vir como consequência de investimentos e não pelo aumento de gastos”, diz Cosentino.

Ricardo Lacerda, fundador do banco BR Partners, por sua vez, pondera que o impacto do fator eleitoral a pressionar o tema dos juros pode ser restrito.

“Independentemente de quem está no poder, os governos tendem a exagerar nos gastos em ano de eleição. Vemos isso desde a redemocratização. Por outro lado, estamos no limite, não tem mais espaço para elevar gastos. Também acho que os auxílios não têm mais gerado tanto benefício eleitoral. Creio que o debate em 2026 vai se centrar em torno da segurança pública e da enorme carga de impostos que recai sobre a população”, diz.

Ele vê espaço para recuo da Selic. “Temos uma equação de inflação e fluxo cambial que estava pressionando o BC desde meados do ano passado. Esse componente conjuntural foi superado, o que abre espaço para um ciclo de redução”, afirma.

No cenário atual, sem um ajuste fiscal crível, ele estima redução para algo ao redor de 12,5% a 11,5%. Caso se viabilize um ajuste, a queda poderia levar a 9% ou 8,5%.

O banqueiro afirma discordar da visão de parte da Faria Lima de que um ajuste fiscal sob a gestão de Lula seria impossível. “O governo terá de atacar esse problema, sob pena de perder a dianteira no discurso pela reeleição. O Brasil não tem como conviver com juros reais no patamar atual. A economia está tendo boa resiliência nesse ciclo pós-Covid por uma série de fatores, inclusive uma mudança no perfil de consumo da população. Mas em algum momento podemos mergulhar em uma recessão. Lula fez uma boa gestão fiscal no primeiro mandato. Tenho esperança de que possa retomar a prioridade desse tema”, diz.

Lacerda ressalva que no geral o setor corporativo vai bem e o nível de atividade continua forte, mas em sua visão no BR Partners, que tem atuado em muitos casos de reestruturação de dívidas, o cenário prejudica demais as empresas endividadas.

“Temos visto empresas boas sucumbirem nesse cenário de juros extorsivos. Tenho muita preocupação com uma crise de inadimplência generalizada, tanto de empresas quanto de pessoas físicas, caso não haja redução substancial dos juros”, diz.

Maurilio Biagi Filho, presidente do grupo Maubisa, do setor sucroalcoleiro, diz ter esperanças de que venha do BC algum sinal do recuo já em dezembro.

Ele afirma que, depois de o governo ter feito grande pressão na gestão anterior do BC, agora, sob Gabriel Galípolo, essa pressão foi abrandada. “Como é ano eleitoral, pode ser que o governo faça pressão novamente, não publicamente, para que os juros desçam um pouco mais do que tecnicamente seria necessário. Não sei se o banco vai ceder. Acho que não. A gestão do atual presidente do BC está sendo técnica, cautelosa e focada na meta de inflação, levando a sério, assim como fez seu antecessor”, diz Biagi Filho.

Sergio Zimerman, presidente da Petz, também defende a queda. “Está chegando a 10% os juros reais [descontada a inflação]. O que aconteceria se, em vez de 10% fosse 7%? Se você tivesse dinheiro aplicado, faria o quê? Ia deixar de emprestar para o governo para comprar imóvel, colocar dinheiro no exterior, na Bolsa? Não. Provavelmente, continuaria emprestando ao governo a 7% de juros reais. Se juros existe para o governo poder rolar sua dívida pública, e se pagando 7% o governo continuaria conseguindo captar dinheiro no mercado, por que tem que ser 10%?”, questiona o empresário.

Tem crescido a percepção de que o BC está perto de promover um corte limitado das taxas, mas que é preciso seguir critérios técnicos. Neste mês, André Esteves, fundador e presidente do conselho de administração do BTG Pactual, também se queixou do patamar dos juros. Disse que a taxa vai começar a cair em janeiro e defendeu corte de gastos.

Especialistas avaliam que a política fiscal do governo Lula ainda é muito expansionista, com a regra fiscal garantindo um crescimento dos gastos de 2,5%, além do aumento das exceções às regras do arcabouço, que elevam a dívida pública.

A despeito das visões mais esperançosas de que os cortes se aproximam, Galípolo disse na semana passada que o Copom não está enviando qualquer sinal ao mercado sobre rumo da taxa de juros.

A mediana das projeções relatório Focus divulgado nesta segunda-feira (17) aponta Selic em 12,25% ao ano no fim de 2026.

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