SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O BRB anunciou nesta quarta-feira (19) que seu conselho de administração decidiu, em reunião na terça-feira (18), contratar uma auditoria externa especializada para apurar os fatos apontados pela operação Compliance Zero, da Polícia Federal, que levaram ao afastamento por decisão judicial do presidente do banco, Paulo Henrique Costa, por 60 dias.
“O BRB reafirma seu compromisso com as melhores práticas de governança, transparência e prestação de informações ao mercado, e que o conselho de administração seguirá acompanhando de forma contínua os desdobramentos dos fatos, mantendo seus acionistas e o mercado devidamente informados”, informou o banco estatal de Brasília.
Na terça-feira, a PF prendeu o dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, e várias outras pessoas na operação, que apura crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. No mesmo dia, o Banco Central determinou a liquidação extrajudicial do Master.
A reportagem apurou que os investigadores querem saber se houve pressão de políticos para que o BRB decidisse comprar o controle do Banco Master, de Daniel Vorcaro, e carteiras de crédito falsas.
Segundo pessoas a par do inquérito, há a suspeita de que Paulo Henrique Costa sabia que as carteiras de crédito consignado do Master eram falsas e, mesmo assim, tenha autorizado a compra de cerca de R$ 12,2 bilhões.
O repasse de recursos, considerado sem justificativa, teria começado antes mesmo do anúncio de compra do Master pelo BRB, em março deste ano, e prosseguido até maio. Do total, R$ 6,7 bilhões seriam contratos falsos e R$ 5,5 bilhões, prêmios (o valor que supostamente a carteira valeria, mais um bônus).
As operações de compra e venda de carteiras de crédito não são analisadas pelo Banco Central, mas a transferência bilionária chamou a atenção da autoridade monetária durante a avaliação da compra do Master pelo BRB.
Em setembro, o Banco Central bloqueou a aquisição planejada do Master pelo BRB, após meses avaliando se o BRB tinha capacidade suficiente para sustentar a nova estrutura de capital.
Investigadores afirmam que há indícios de que o banco estatal de Brasília tenha feito a aquisição apenas para salvar o Master, uma vez que, se o banco de Vorcaro fosse liquidado ou sofresse intervenção, todos os balanços seriam escrutinados.
A investigação considera ser improvável que a presidência do BRB desconhecesse uma manobra classificada como grosseira. Também refuta a alegação de boa fé pelo fato de a compra das carteiras falsas de crédito ter continuado mesmo após o anúncio de aquisição de 58% do Master.
Na noite desta terça, o ex-presidente do BRB afirmou em nota que está à disposição das autoridades para o esclarecimento dos fatos e que a compra de carteiras é uma operação tradicional do mercado financeiro. Disse ainda que foi o BRB quem identificou divergências documentais em parte das operações do Banco Master e alertou as autoridades.
“Aquisições de carteiras são operações tradicionais do mercado financeiro. No caso do Banco Master, o BRB identificou, no primeiro quadrimestre, divergências documentais em parte das operações, comunicou o fato ao Banco Central do Brasil e promoveu, em sua grande maioria, a substituição dessas carteiras”, afirmou.
“Após a identificação dessas questões, a atuação do BRB consistiu na com revisão da documentação, reforço de controles e ajustes de processos, medidas adotadas para mitigar riscos e preservar a instituição”, completou.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), anunciou a demissão de Costa e indicou o superintendente da Caixa Econômica Federal em Brasília, Celso Eloi, para o cargo. A troca precisa ser aprovada pela Câmara Legislativa do Distrito Federal.