SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em alta nesta quarta-feira (19), com investidores à espera da ata da última reunião de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).
Os mercados globais também se posicionam de olho no balanço corporativo da Nvidia, esperado para após o fechamento dos negócios.
Às 13h26, a moeda avançava 0,34%, a R$ 5,336. Já a Bolsa caía 0,62%, a 155.537 pontos.
A ser divulgada às 16h (horário de Brasília), a ata do Fed será observada com uma lupa pelos investidores globais. A busca é por pistas sobre como as autoridades do banco central poderão decidir sobre a taxa de juros norte-americana na próxima reunião, entre 9 e 10 de dezembro.
Desde o último encontro, quando o Fed optou por cortar os juros em 0,25 ponto percentual, a expectativa de que o ciclo de reduções continue esmoreceu, à luz de uma série de declarações de dirigentes da autarquia que, agora, parecem em cima do muro.
Exemplo disso é o vice-presidente do banco central, Philip Jefferson. Ele afirmou, na segunda, que é preciso “proceder lentamente” com quaisquer outros cortes nas taxas de juros diante dos efeitos sobre o processo inflacionário.
“A postura atual da política monetária ainda é um pouco restritiva, mas nós a aproximamos de seu nível neutro, que não restringe nem estimula a economia”, disse Jefferson. “A evolução do equilíbrio de riscos ressalta a necessidade de prosseguirmos lentamente à medida que nos aproximamos da taxa neutra.”
A cautela de Jefferson espelha a de Mary Daly, presidente do Fed de São Francisco, e a de Neel Kashkari, presidente do Fed de Minneapolis. Enquanto Daly afirma que qualquer decisão sobre o próximo passo do banco central agora seria “prematura”, Kashkari avalia os sinais da economia como “mistos”.
Operadores estão divididos meio-a-meio: 50,9% deles apostam em um corte de 0,25 ponto em dezembro, enquanto os 49,1% restantes vêem uma manutenção como mais provável, de acordo com a ferramenta FedWatch do CME Group. Os juros estão na faixa de 3,75% e 4%.
Mais subsídios às apostas serão dados nesta semana. Na quinta, é esperado o relatório “payroll”, que mede a atividade do mercado de trabalho norte-americano. Será a primeira publicação do tipo desde 1º de outubro, quando a paralisação do governo dos Estados Unidos suspendeu as divulgações macroeconômicas oficiais. Até agora, tanto o Fed quanto o mercado estavam se valendo de publicações laterais, comandadas pela iniciativa privada ou pelo próprio banco central.
Os cortes estavam, até então, sendo motivados pela perspectiva de que o mercado de trabalho estava perdendo tração. “Se a ata continuar apontando isso, o cenário tende a favorecer economias emergentes ao reduzir a pressão sobre os juros internacionais”, diz João Kepler, CEO da Equity Group. “É esse trecho que deve concentrar a atenção dos investidores, porque ele dita o ritmo dos fluxos de capital.”
Reduções nos juros dos EUA costumam ser uma boa notícia para os mercados globais. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, também chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco.
Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.
Outro destaque da agenda é o balanço da Nvidia, a ser publicado após o fechamento do mercado. Três anos após a estreia do ChatGPT, investidores estão cada vez mais preocupados se o boom de inteligência artificial está superando os fundamentos.
E a Nvidia, fabricante de chips de IA, é o termômetro da vez para os mercados globais. “A cada trimestre que passa, o resultado da Nvidia se torna mais importante em termos de esclarecimento sobre para onde a IA está se movendo e quanto investimento está sendo feito”, disse Brian Stutland, diretor na Equity Armor Investments.
Se o resultado decepcionar, há o receio de que um ajuste de baixa profundo nos preços das big techs assole os mercados algo que impactaria não apenas as Bolsas, mas também os mercados de moedas e de títulos.
Ainda assim, a demanda pelos chips da Nvidia continua forte, com gigantes de computação em nuvem, incluindo a Microsoft, anunciando investimentos de bilhões em centros de dados de IA.
Como quinta-feira (20) é feriado no Brasil, os efeitos da agenda serão mais sentidos na sexta-feira, volta dos negócios. Por causa disso, é de se esperar posicionamentos mais cautelosos nesta quarta.