SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar dispara nesta sexta-feira (21) diante de maior aversão ao risco global após dados dos EUA mostrarem aumento na criação de empregos e reforçarem as apostas de que o Fed (Federal Reserve, banco central americano) manterá a taxa de juros inalterada.
O pregão também é marcado por ajustes dos investidores brasileiros após o feriado do Dia da Consciência Negra na véspera, quando o mercado doméstico esteve fechado.
Às 13h21, a moeda norte-americana subia 1,58%, cotada a R$ 5,422, após atingir R$ 5,433 na máxima do dia. No mesmo horário, a Bolsa caía 0,93%, aos 153.920 pontos, com papéis da Petrobras recuando mais de 1%.
A reação negativa dos investidores ocorre apesar de os EUA terem retirado, na quinta-feira (20), a sobretaxa de 40% sobre 212 produtos brasileiros, incluindo carne bovina, café e frutas medida comemorada por associações e entidades exportadoras.
Na quinta, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que a economia norte-americana gerou 119 mil postos de trabalho em setembro, ante projeção de 50 mil vagas de economistas ouvidos pela Reuters. Por outro lado, a taxa de desemprego subiu para 4,4%, ante projeção de 4,3%.
O órgão ainda informou que os dados de emprego de outubro e novembro serão publicados em 16 de dezembro, ou seja, após a reunião de política monetária do Fed, nos dias 9 e 10 de dezembro.
Segundo Marcio Riauba, head da Mesa de Operações da StoneX Banco de Câmbio, apesar da derrubada das sobretaxas sobre produtos brasileiros, os dados econômicos dos EUA oferecem um contraponto negativo durante o pregão.
“O payroll americano chegou acima do esperado, interrompendo uma sequência de quatro meses consecutivos em que os empregos criados ficaram abaixo de 100 mil vagas. O resultado mostra que o mercado de trabalho americano segue forte, o que aumenta os temores sobre uma pressão inflacionária nos Estados Unidos”, afirma.
Os dados impactaram as apostas de operadores na manutenção da taxa de juros. Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, 60,9% deles apostavam que o Fed irá manter a taxa de juros no nível atual, de 3,75% a 4,00%, na reunião de dezembro.
Para João Daronco, analista da Suno Research, os dados impactam os mercados globais em geral. “Aumenta a aversão a risco e faz com que os investidores busquem ativos mais seguros, saindo da renda variável e migrando para a renda fixa”, afirma.
Para Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora, o mercado enfrenta um movimento de ajuste. “Hoje (sexta-feira) temos no Brasil um ajuste. O payroll deu um nó na cabeça do investidor, que não sabe se de fato o Fed vai cortar os juros”, afirma.
A alta firme do dólar ante o real nesta sexta está em sintonia com o avanço da moeda norte-americana ante outras divisas de emergentes no exterior, como o peso colombiano, o peso chileno, a rupia indiana e o peso mexicano.
Os números econômicos reforçam o foco do mercado nos EUA. Na quarta-feira (19), a ata da última reunião de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) foi acompanhada com atenção pelos operadores.
O documento mostrou que, em um comitê dividido, a decisão pelo corte de 0,25 ponto percentual passou por uma discussão sobre o que juros mais baixos significariam para o processo inflacionário.
“Muitos participantes foram favoráveis à redução”, apontou a ata, mas alguns deles também teriam ficado satisfeitos em manter a taxa básica inalterada. Ao mesmo tempo, outros se opuseram ao corte, “expressando preocupação com a estagnação do progresso em direção à meta de inflação de 2%”.
Reduções nos juros dos EUA costumam ser uma boa notícia para os mercados globais e o oposto também é verdadeiro. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, também chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco.
Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.
Há também um temor sobre uma possível bolha de IA no mercado americano. Na quarta, a Nvidia revelou ter ampliado as vendas, registrando receita de US$ 57 bilhões, alta de 62% no comparativo anual e acima da estimativa de US$ 55 bilhões.
As ações abriram a quinta-feira em uma disparada acima de 5% e, em uma inversão de sinais, fecharam o pregão em uma queda de 3%, com os papéis negociados na Bolsa de Nova York a US$ 181,25.
Por aqui, os investidores repercutem a retirada de tarifas de 40% sobre carne, café, frutas e outros produtos do Brasi na quinta-feira (20). Ao todo, são mais de 200 itens agrícolas e da pecuária.
Em comunicado, Trump citou a conversa que teve por videoconferência com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O republicano afirmou que ouviu opiniões de outras autoridades no sentido de que as tarifas não são mais necessárias porque “houve progresso inicial nas negociações com o governo do Brasil”. A isenção será retroativa para tudo que tiver entrado nos EUA a partir de 13 de novembro.
No fim de julho, Trump impôs uma sobretaxa de 40% a produtos importados pelo Brasil, que somou-se às chamadas “tarifas recíprocas” de 10% aplicadas globalmente. O decreto, no entanto, previu uma lista com quase 700 exceções, como suco de laranja e produtos de aviação, que livrou 43% do valor de itens brasileiros exportados para o exterior, segundo levantamento feito pela Folha.
Na semana passada, o governo americano derrubou a tarifa de 10% das principais exportações brasileiras, como carne e café. Agora, a sobretaxa de 40% também caiu.
A medida foi comemorada pelos setores isentados, que destacaram o trabalho realizado em conjunto com o governo brasileiro para eliminar essas barreiras.
Para João Daronco, da Suno Research, apesar de ser uma notícia positiva, a retirada não teve um grande efeito nas empresas brasileiras listadas na Bolsa.
“Para as empresas brasileiras expostas aos segmentos que tiveram redução das tarifas, a medida é positiva. Porém, nenhuma delas tem peso relevante no Ibovespa. Por isso, quando olhamos a Bolsa brasileira, não vemos uma valorização expressiva”, afirma.