SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar disparou 1,19% nesta sexta-feira (21) e encerrou a semana cotado a R$ 5,401, em meio a uma maior aversão ao risco global após dados dos EUA reforçarem as apostas de que o Fed (Federal Reserve, banco central americano) manterá a taxa de juros inalterada, fortalecendo a moeda norte-americana.
É o maior valor de fechamento desde 17 de outubro, quando a moeda encerrou o pregão cotada a R$ 5,406. Na semana, o dólar teve ganho de 1,98%.
O clima mais pessimista também contaminou a Bolsa, que fechou em queda de 0,39%, aos 154.770 pontos. Na semana, o Ibovespa recuou 1,9%.
O pregão foi marcado por ajustes dos investidores brasileiros após o feriado do Dia da Consciência Negra na véspera, quando o mercado doméstico esteve fechado. A reação negativa ocorreu apesar de os EUA terem retirado, na quinta-feira (20), a sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros.
Na quinta, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que a economia norte-americana gerou 119 mil postos de trabalho em setembro, ante projeção de 50 mil vagas de economistas ouvidos pela Reuters. Por outro lado, a taxa de desemprego subiu para 4,4%, ante projeção de 4,3%.
O órgão ainda informou que os dados de emprego de outubro e novembro serão publicados em 16 de dezembro, ou seja, após a reunião de política monetária do Fed, nos dias 9 e 10 de dezembro.
Segundo Marcio Riauba, head da Mesa de Operações da StoneX Banco de Câmbio, apesar da derrubada das sobretaxas sobre produtos brasileiros, os dados econômicos dos EUA oferecem um contraponto negativo durante o pregão.
“O payroll americano chegou acima do esperado, interrompendo uma sequência de quatro meses consecutivos em que os empregos criados ficaram abaixo de 100 mil vagas. O resultado mostra que o mercado de trabalho americano segue forte, o que aumenta os temores sobre uma pressão inflacionária nos Estados Unidos”, afirma.
Os dados impactaram as apostas de operadores na manutenção da taxa de juros. Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, 60,9% deles apostavam na quinta-feira que o Fed irá manter a taxa de juros no nível atual, de 3,75% a 4,00%, em dezembro. O percentual caiu para 30,3% nesta sexta.
Os números econômicos reforçam o foco do mercado nos EUA. Na quarta-feira (19), a ata da última reunião de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) foi acompanhada com atenção pelos operadores.
“Muitos participantes foram favoráveis à redução”, apontou a ata, mas alguns deles também teriam ficado satisfeitos em manter a taxa básica inalterada. Ao mesmo tempo, outros se opuseram ao corte, “expressando preocupação com a estagnação do progresso em direção à meta de inflação de 2%”.
Reduções nos juros dos EUA costumam ser uma boa notícia para os mercados globais e o oposto também é verdadeiro. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, também chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco.
Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.
Para João Daronco, analista da Suno Research, os dados impactam os mercados globais em geral. “Aumenta a aversão a risco e faz com que os investidores busquem ativos mais seguros”, afirma.
Para Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora, o mercado enfrenta um movimento de ajuste. “Hoje [sexta-feira] temos no Brasil um ajuste. O payroll deu um nó na cabeça do investidor, que não sabe se de fato o Fed vai cortar os juros”, afirma.
A alta firme do dólar ante o real nesta sexta está em sintonia com o avanço da moeda norte-americana ante outras divisas de emergentes no exterior, como o peso colombiano e chileno.
Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, a retirada das tarifas entrariam no lado positivo da balança, mas o risco fiscal e a cautela externa pesaram mais até o momento.
Há também um temor sobre uma possível bolha de IA nos EUA. Na quarta, a Nvidia revelou ter ampliado as vendas, registrando receita de US$ 57 bilhões, alta de 62% no comparativo anual e acima da estimativa de US$ 55 bilhões.
Apesar do bom resultado, Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, destaca a preocupação com o setor. “A cautela no mercado americano ainda gira em torno das ações de IA, mesmo com o resultado da empresa”.
Os papéis da big tech fecharam o pregão de quinta com uma queda de 3% na Bolsa de Nova York. O temor também impactou os índices asiáticos, que despencaram mais de 3% nesta sexta após subirem na véspera.
Por aqui, os investidores repercutem a retirada de tarifas de 40% sobre carne, café, frutas e outros produtos do Brasi na quinta-feira (20). Ao todo, são mais de 200 itens agrícolas e da pecuária.
Em comunicado, Trump citou a conversa que teve por videoconferência com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O republicano afirmou que ouviu opiniões de outras autoridades no sentido de que as tarifas não são mais necessárias porque “houve progresso inicial nas negociações com o governo do Brasil”. A isenção será retroativa para tudo que tiver entrado nos EUA a partir de 13 de novembro.
No fim de julho, Trump impôs uma sobretaxa de 40% a produtos importados pelo Brasil, que somou-se às chamadas “tarifas recíprocas” de 10% aplicadas globalmente. O decreto, no entanto, previu uma lista com quase 700 exceções, como suco de laranja e produtos de aviação.
Na semana passada, o governo americano derrubou a tarifa de 10% das principais exportações brasileiras, como carne e café. Agora, a sobretaxa de 40% também caiu.
A medida foi comemorada pelos setores isentados, que destacaram o trabalho realizado em conjunto com o governo brasileiro para eliminar essas barreiras.
Para João Daronco, da Suno Research, apesar de ser uma notícia positiva, a retirada não teve um grande efeito nas empresas brasileiras listadas na Bolsa.
“Para as empresas brasileiras expostas aos segmentos que tiveram redução das tarifas, a medida é positiva. Porém, nenhuma delas tem peso relevante no Ibovespa. Por isso, quando olhamos a Bolsa brasileira, não vemos uma valorização expressiva”, afirma.