BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS) afirmou a aliados que os únicos porta-vozes sobre a prisão preventiva de Jair Bolsonaro (PL) são a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos filhos do ex-presidente.
A iniciativa faz parte de estratégia traçada e enviada pelo parlamentar em um grupo de WhatsApp, que reúne parlamentares da oposição, nesta manhã. A reportagem teve acesso ao texto enviado e assinado pelo deputado. Nela, Zucco diz que o momento e “extremamente grave, inédito e exige de todos a máxima responsabilidade, disciplina e unidade”.
A Polícia Federal prendeu preventivamente Bolsonaro nesta manhã, na reta final do processo da trama golpista. Ele está na superintendência da Polícia Federal em Brasília. A PF decretou prisão preventiva, sob a justificativa de garantia da ordem pública diante de uma vigília convocada por Flávio.
Na decisão, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), apontou o risco de fuga do ex-presidente ao determinar sua prisão. Segundo o ministro, a tornozeleira eletrônica que Bolsonaro usa desde julho deste ano foi violada no início da madrugada. O ministro afirma que este seria um indício de que o ex-presidente poderia fugir, aproveitando o que seria uma movimentação diante do condomínio em que ele vive.
Segundo Zucco, que é um dos principais aliados de Bolsonaro no Congresso, passado o primeiro momento com reações espontâneas à prisão preventiva, é preciso mudar a estratégia do grupo. Ele afirmou na mensagem que hoje só há dois porta-vozes oficiais do ex-presidente e que, a partir de agora, qualquer “fala pública, qualquer entrevista, qualquer declaração mais sensível precisa ter a ciência e a anuência deles”.
“Não é censura, não é engessamento. É proteção ao próprio presidente e ao movimento como um todo”, diz o deputado.
Ele afirma que isso é necessário para evitar que cada grupo faça uma coisa isolada do outro e cobra unidade do discurso, falando em “centralização total”, “coerência na narrativa” e da necessidade de orientação jurídica “antes de cada posicionamento público”. “Nós precisamos evitar que cada grupo aja por impulso –um indo para a PF, outro para o condomínio, outro gravando vídeo em local inadequado. Isso gera ruído, dispersão e, principalmente, pode causar prejuízo jurídico ao presidente.”
Em seguida, Zucco lista algumas orientações a serem seguidas. Ele diz que nenhuma movimentação individual deve acontecer a partir de agora, ou seja, sem idas isoladas à superintendência da PF ou ao condomínio onde mora o ex-presidente; fala que é preciso organizar uma reunião ampliada ainda neste sábado com as principais lideranças do PL e da oposição dizendo que ele é fundamental para “alianhar a estratégia política, jurídica e comunicacional”; e não descarta a realização de uma coletiva de imprensa, sugerindo que ela ocorra na sede do partido em Brasília.
Ainda na mensagem, Zucco reforça que todos os parlamentares devem aguardar as orientações do núcleo jurídico antes de qualquer entrevista e afirma que a defesa do ex-presidente precisa delimitar a situação real da documentação relativa à prisão, “o que é fato e o que é narrativa” e “se existe ou não qualquer indício relacionado à história da suposta tentativa de quebrar a tornozeleira”.
Ao final, o deputado reforça que este é um momento que “exige maturidade, grandeza e responsabilidade”. “Não podemos alimentar discurso adversário, não podemos criar fatos desnecessários e não podemos permitir que o caos comunicacional prejudique ainda mais o presidente Bolsonaro”, diz.
Na manhã deste sábado, aliados do ex-presidente diziam que estava mantida a vigília nesta noite. A deputada Bia Kicis (PL-DF), que foi à superintendência da PF, afirmou que o ato estava mantido, mas disse que ainda não sabia se ele mudaria de local (inicialmente, estava previsto para ser no condomínio onde mora Bolsonaro).
Pessoas que acompanham as conversas, no entanto, dizem que há um receio entre aliados do ex-chefe do Executivo de que o ato seja esvaziado, já que diversos parlamentares não estão em Brasília. De acordo com relatos, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), está procurando individualmente cada deputado da bancada para mapear dia e horário que os correligionários chegarão à capital federal, para organizar um ato em defesa de Bolsonaro.
O temor é de que um protesto feito as pressas, mas esvaziado, passe a impressão de esvaziamento político do ex-presidente após a prisão.