SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Líderes europeus e de outros países afirmaram neste sábado (22) que o plano de paz dos Estados Unidos serve de base para negociações que visem o fim da guerra da Rússia na Ucrânia, mas que necessita de “trabalho adicional”.
A declaração é parte dos esforços para obter um acordo mais vantajoso para Kiev antes da espécie de prazo final dado por Donald Trump, na próxima quinta (27), Dia de Ação de Graças nos EUA. O documento proposto pelo republicano exige que o país ceda território, aceite limites às suas Forças Armadas e renuncie às ambições de ingressar na Otan.
Reunidos à margem da cúpula do G20, em Joanesburgo, representantes da União Europeia e de países como França, Alemanha, Itália, Reino Unido e Canadá emitiram uma declaração em que afirmam que “a versão inicial do plano de 28 pontos dos EUA inclui elementos importantes que serão essenciais para uma paz justa e duradoura”.
Afirmam, no entanto, que há preocupações “com as limitações propostas às Forças Armadas da Ucrânia”. “Reiteramos que a implementação de elementos relacionados à União Europeia e à Otan exigiria o consentimento dos membros da União Europeia e da Otan, respectivamente”, diz o texto.
Na declaração, que inclui também Holanda, Espanha, Finlândia, Japão e Noruega, os países ainda afirmaram que “fronteiras não devem ser alteradas pela força”, em referência ao território do leste ucraniano que, segundo o plano, deveria ser cedido à Rússia.
Os líderes parecem buscar um equilíbrio de elogios a Trump por tentar pôr fim aos combates com o reconhecimento de que, para Kiev, alguns dos termos da proposta são inaceitáveis. O plano foi rascunhado pelos EUA em conjunto com Moscou e é bastante favorável à Rússia, na visão de analistas.
Os representantes europeus se reuniram depois que o presidente Volodimir Zelenski disse, na sexta, que seu país enfrentava a escolha entre perder sua dignidade e liberdade ou perder o apoio de Washington.
“Lutarei 24 horas por dia, 7 dias por semana, para garantir que pelo menos dois pontos do plano não sejam negligenciados: a dignidade e a liberdade dos ucranianos”, afirmou o líder em um pronunciamento à nação.
O primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, afirmou ter explicado a Trump, em uma longa conversa telefônica também na sexta, que a Europa precisa fazer parte de qualquer processo para pôr fim à guerra.
“Se a Ucrânia perder esta guerra e possivelmente entrar em colapso, isso terá um impacto na política europeia como um todo, em todo o continente europeu. E é por isso que estamos tão comprometidos com esta questão”, disse Merz.
O presidente francês, Emmanuel Macron, corroborou a posição do alemão ao dizer que o plano “é positivo porque propõe a paz e reconhece elementos importantes em questões de soberania e garantias de segurança”, porém “precisa ser revisto, porque, antes de mais nada, não foi negociado com os europeus”.
Enquanto os líderes se apressavam para elaborar uma resposta coordenada, a Ucrânia antecipou que realizaria negociações com funcionários de alto escalão dos EUA, em Genebra, na Suíça, neste domingo.
“A Ucrânia jamais será um obstáculo à paz, e os representantes do Estado ucraniano defenderão os legítimos interesses do povo ucraniano e os fundamentos da segurança europeia”, afirmou um comunicado de Kiev.
Conselheiros de segurança nacional de França, Alemanha, Reino Unido e Itália devem participar da reunião com representantes dos EUA e da Ucrânia neste domingo para discutir a proposta do plano, segundo autoridades que participam da cúpula do G20.
Na sexta, Trump desafiou a Ucrânia ao dizer que Zelenski teria até quinta-feira para aprovar o plano. “Ele terá que gostar, e se não gostar, então, sabe, eles que continuem lutando, eu acho”, disse ele. “Em algum momento, ele terá que aceitar algo que ainda não aceitou.”
Ao relembrar os encontros com Zelenski na Casa Branca, acrescentou: “Vocês se lembram, não faz muito tempo, no Salão Oval, quando eu disse: ‘Vocês não têm as cartas na mão’.”
Neste sábado, porém, ao ser questionado por jornalistas, o republicano afirmou que o plano não era a sua “oferta final à Ucrânia”. “Estamos tentando acabar com isso. De uma forma ou de outra, temos que acabar com isso”, disse.
O presidente Vladimir Putin descreveu o documento como a base para uma resolução do conflito, mas Moscou pode se opor a algumas propostas do acordo, que exige que suas forças se retirem de algumas áreas que capturaram.