Vale está fazendo um grande reposicionamento, diz CEO Gustavo Pimenta

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BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – Após o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, a Vale se voltou para dentro e agora está em um grande processo de reposicionamento, afirma o CEO Gustavo Pimenta. A proposta é trabalhar para comunicar melhor o que a companhia faz nas áreas ambiental e social, ficar mais próxima das pessoas, e investir na mineração do futuro.

“O acidente foi uma enorme dor para a companhia e muito mais para a sociedade mineira. Eu, como mineiro, posso dizer isso”, afirma o executivo.

“Depois que eu assumi, definimos três grandes prioridades: evoluir no portfólio, seguir na evolução cultural porque a gente melhorou, mas precisa mais, e a terceira é a reputação”, explicou.

Segundo ele, esse trabalho também inclui deixar mais claro para a sociedade o papel da mineração no desenvolvimento econômico. Pimenta falou com a Folha durante sua passagem pela COP30, em Belém, no Pará.

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*Folha – A BHP, sócia da Vale na Samarco, foi condenada em Londres pela tragédia ambiental em Mariana. Como vocês receberam a decisão?*

*Gustavo Pimenta -* A decisão da corte britânica não muda a nossa visão de que o Brasil é a jurisdição competente para o caso. O Supremo Tribunal Federal já homologou o Acordo de Reparação, que vem sendo cumprido regularmente pela Samarco.

*Folha – Quando as pessoas falam em Vale, lembram de Mariana e Brumadinho. A Vale é uma grande patrocinadora da COP30. Vocês estão tentando mudar a imagem?*

*Gustavo Pimenta -* Nem é uma questão de imagem. Na verdade, as temáticas da COP —preservação ambiental, cuidado social, descarbonização, transição energética— são boas para o nosso negócio.

Um dos grandes desafios da nossa geração é a descarbonização de cadeias produtivas, como a do aço, que responde por 8% das emissões do mundo. A produção de aço vai sair de altos-fornos [a carvão] e ir para arco elétrico, eventualmente utilizando hidrogênio, produzindo minério de ferro com alto teor —que é o que a gente faz. Por isso [a descarbonização] é boa para a companhia.

O Pará é especial nesse cenário. Temos uma operação relevante —60% do nosso minério sai daqui. Tínhamos uma discussão tributária setorial e fizemos uma parceria com o governo do estado na construção do Parque da Cidade e no Porto Futuro.

*Folha – Mas fica a impressão de que a Vale intensificou a campanha de que está presente na Amazônia. Há uma estratégia publicitária para desvincular Minas Gerais e se afastar da imagem negativa gerada pelas tragédias?*

*Gustavo Pimenta -* De forma alguma. Minas é muito importante para gente e marca a nossa fundação. Acabei de voltar de lá, onde fizemos a inauguração de Capanema, um projeto relevante. Anunciamos R$ 67 bilhões de investimentos no estado. Não tem nenhum desejo ou objetivo de desconectar, muito pelo contrário. Vamos acelerar o crescimento lá em Minas e conectar o estado à pauta da transição energética.

Talvez haja um grande reposicionamento —e não diria que é só uma questão reputacional. Acreditamos que nossa grande missão é acelerar a mineração do futuro —100% circular, sem geração de rejeito, autônoma, mais digital, mais moderna e sem barragens. Hoje, 85% da nossa produção não depende mais de barragem, e isso veio pós-Brumadinho, em um grande processo de aprendizado.

*Folha – De fato, mineração é atividade distante das pessoas. A Vale tem feito anúncio no Jornal Nacional e levado jornalistas para verem a floresta e projetos sociais. A Folha esteve numa dessas viagens. Isso faz parte dessa aproximação?*

*Gustavo Pimenta -* Sem dúvida. Depois que assumi, definimos três grandes prioridades: evoluir no portfólio, seguir na evolução cultural porque a gente melhorou, mas precisa mais, e a terceira é a reputação. Isso passa por a gente se reposicionar com a sociedade, e reposicionar como a sociedade se relaciona com o que a gente faz.

Em 20 anos, a demanda por minerais vai aumentar entre cinco a 10 vezes, comparado a tudo que foi produzido na história da humanidade. Então, a gente precisa mostrar que a mineração não é apenas necessária, mas que tem o papel de melhorar a vida das pessoas. Preciso mostrar o que a gente faz na vida das comunidades ligadas à companhia e no meio ambiente no entorno.

No Pará, a gente preserva mais área ambiental do que explora. A gente utiliza 3% da Floresta Nacional de Carajás, e os outros 97% são área de preservação nativa. É uma operação que conseguiu mostrar, ao longo do tempo, o poder de combinar desenvolvimento econômico com preservação ambiental. Tudo ao redor dessa floresta foi devastado. Essa floresta teve 650 tentativas de invasão nos últimos três anos e eu tenho certeza absoluta que, se a gente não tivesse ali, ela teria sido devastada.

*Folha – A sua entrada na Vale foi precedida por uma disputa de poder envolvendo inclusive interesses do governo. Como está essa relação agora?*

*Gustavo Pimenta -* Ótima e muito construtiva. Nossa pauta converge muito com a do governo. Somos grandes investidores e queremos empregar, nos importamos com transição energética e queremos liderar a mineração do futuro. Isso fez com que as relações avançassem e ficassem em harmonia, o que, no final, é nosso objetivo.

*Folha – A relação com os prefeitos ainda segue ruim? Na própria COP30, o prefeito de Parauapebas disse que tenta e não consegue se reunir com a Vale há nove meses. A Amig [Associação Brasileira dos Municípios Mineradores] faz críticas à empresa em relação a pagamento de tributos. Como o sr. vê essas críticas?*

*Gustavo Pimenta -* A gente reestruturou toda a área de relações com comunidades, municípios e estados, que é onde a Vale opera. Vai haver um desentendimento aqui e ali, em um tema específico, que toma um pouco mais de tempo para resolver, mas há diálogo.

*Folha – O níquel da Vale no Brasil vem do complexo de Onça-Puma, que sofre desgaste reputacional por causa da relação com indígenas. Minas de cobre em Sossego e Bacaba também têm problemas. Como o sr. vê essa contradição entre mineração essencial à transição energética e impacto sobre comunidades da floresta?*

*Gustavo Pimenta -* Essa discussão é super importante, e defendo trazer todos para o debate, sejam comunidades ou povos indígenas, para desenvolver uma mineração responsável. Queremos uma operação eficiente, com menor impacto ambiental possível. Fazemos muito investimento social para gerar um efeito positivo. Além disso, vamos compartilhar os resultados, favorecer fornecedores locais, chamar pessoas do território para trabalhar nas nossas operações.

*Folha – A Vale tem interesse em outros mercados de minerais críticos, como terras raras e lítio?*

*Gustavo Pimenta -* Neste momento, vemos mais possibilidades em dar escala e volume na produção do que já temos. Mesmo sendo grande em cobre, podemos dobrar a produção. No minério de ferro, temos a oportunidade de crescer e retomar a posição de maior mineradora de ferro do mundo.

*RAIO-X*

Gustavo Pimenta, 47 anos

Nascido em Divinópolis, Minas Gerais, tem graduação em Economia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e mestrado em Finanças e Economia pela FGV (Fundação Getulio Vargas). Atuou por 12 anos na empresa de energia AES, onde foi CFO Global, diretor de Planejamento e Estratégia e Vice-presidente de Performance e Serviços. Também foi vice-presidente de Estratégia e M&A no Citigroup em Nova Iorque, no Estados Unidos. Ingressou na Vale em 2021, como CFO. Comandou as áreas de Finanças, Relações com Investidores, Suprimentos e Energia & Descarbonização até assumir, em 2024, o posto de presidente da companhia

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