Galípolo: "Nós somos o BC, todo mundo aqui acredita em política monetária. E ela funciona" 

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Galípolo: sinais macroeconômicos justificam posição "humilde e conservadora" do Banco Central
(Andre Lessa/Agência Dc News)
  • Para o presidente do Banco Central, variantes econômicas "malcomportadas" causam incerteza e justificam postura conservadora
  • Ele diz que comunicados do Copom não precisam de códigos ou sinalizações. "A gente ainda não está onde o nosso mandato manda a gente estar"
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, freou expectativas sobre mudança de rota em relação à taxa básica de juros (Selic), desde junho mantida em 15% ao ano. Avisou que não havia qualquer “modulação ou adição” sobre falas anteriores. Segundo ele, “as correlações econômicas são muito malcomportadas no Brasil”, o que justifica a cautela. Ou o que ele chamou de posição humilde e conservadora por parte do BC. “Se você não sabe bem o que está acontecendo, na dúvida o papel do Banco Central é ser um pouco mais conservador”, afirmou durante palestra promovida na segunda-feira (1º) pela XP Investimentos, em São Paulo. O Comitê de Política Monetária (Copom) fará na semana que vem (terça e quarta-feira) a sua última reunião de 2025. A seguinte será realizada em 27 e 28 de janeiro.

Ele defendeu a elevação de 2,75 pontos percentuais (de 12,25%, há um ano, para os atuais 15%): “Tenho bastante convicção de que o trabalho foi importante para colaborar [com o cenário atual]”. E acrescentou que a política monetária tem eficácia, apesar da “gritaria”. Fez comparação com a principal instituição da Igreja Católica. “No Vaticano todo mundo tem fé. Nós somos o Banco Central. Todo mundo acredita em política monetária”, afirmou. “Pode demandar um pouco mais de reza, que você insista um pouco mais, mas ela funciona.” Galípolo também disse que a expressão “bastante prolongado” se mantém nas atas do Copom porque a contagem do prazo não é zerada a cada reunião. Assim, a ata mais recente diz: “Mantém-se a interpretação de uma inflação pressionada pela demanda e que requer uma política monetária contracionista por um período bastante prolongado”. A expressão foi repetida mais três vezes. O IPCA fechou 2024 com alta de 4,83%. Nos 12 últimos meses, até outubro, está em 4,68%. O IPCA e o INPC de novembro saem no próximo dia 10. O Focus, boletim semanal do BC, espera inflação fechada de 4,43% em 2025, perto do limite da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.

O presidente do BC disse não ver necessidade de alterar a comunicação sobre os próximos passos da instituição. “Todo mundo quer achar a palavra, o índice, a seta que vai ser dada”, disse Galípolo. “Não vemos necessidade de um código sobre o que a gente vai fazer. Faz tempo que o ‘bastante’ está ali.” O processo, segundo ele, tem sido de “convergência lenta” à meta de inflação. E não é preciso um “código para telegrafar” intenções do Banco Central. “A gente não quer acrescentar volatilidade.”

Escolhas do Editor

EMPREGO – Ele também fez comentários sobre o mercado de trabalho – a taxa oficial de desemprego, calculada pelo IBGE, está no menor nível histórico. “Este é um cenário que levanta uma série de questões, mais do que respostas”, afirmou Galípolo. O presidente do BC disse não querer criticar, mas manifestou “muitas dúvidas sobre a tese do desalento” em um cenário de crescimento da renda, entre outros fatores. O IBGE estima em 2,6 milhões o número de desalentados (pessoas que desistiram de procurar emprego), queda de 11,7% em um ano. “Um desalento com essa composição, eu não consigo achar uma solução elegante para explicar isso.” Para ele, “uma série de fatores locais e também globais” tem afetado muito o comportamento do mercado de trabalho. “Por diversas métricas, também é difícil contestar um mercado de trabalho que se mostra aquecido.” O que, mais uma vez, reforça a necessidade de conservadorismo. “A gente ainda não está onde o nosso mandato manda a gente estar.” O “emagrecimento” dos riscos, expressão usada por Galípolo na palestra da XP, “enfraquece algumas posições extremas que em alguns momentos poderiam ser apresentar mais viáveis”. E conduz “para o cenário que o Banco Central delineou quando iniciou esse processo do ciclo de altas”. 

Sobre mudança de diretores do BC (dois dos nove terminam o mandato em 31 de dezembro), cuja autonomia foi legalmente definida em 2021, Galípolo destacou a “evolução institucional da política monetária”. Que segundo ele “tem menos a ver com as pessoas que estão sentadas na cadeira”. “Existe um marco legal, existe um marco institucional, é a isso que o Banco Central deve responder”, afirmou. “Isso é muito importante: seguir a governança. Não importa o que aconteça.” E também para se preservar da “gritaria do entorno”, acrescentou. “Segue o gabarito. Daqui a seis meses o grito é o oposto do grito que está sendo feito agora.” Foi a segunda referência esportiva durante a palestra. Na primeira, logo no início, queixou-se com humor da arbitragem no jogo do último sábado pela Copa Libertadores da América, vencida pelo Flamengo – Galípolo é torcedor do Palmeiras.

FRAUDES – O Banco Central lançou, também nesta segunda, o BC Protege+, para reforçar o combate a fraudes. Pelo serviço, que entrou em atividade às 10h, pessoas e empresas pode comunicar que não querem abertura de conta ou inclusão como titular ou representante em contas. Isso vale para depósitos à vista, contas de depósitos de poupança e contas de pagamento pré-pagas. Trata-se de “camada extra de proteção, segundo o BC. “As instituições financeiras devem continuar verificando a identidade dos clientes e a autenticidade das informações.”

De acordo com a diretora de Cidadania e Supervisão de Conduta do BC, Izabela Correa, “é um serviço ao cidadão e de proteção à integridade do sistema financeiro”. O chefe do Departamento de Atendimento Institucional, Carlos Eduardo Gomes, preferiu não falar em quantidade de fraudes do sistema devido à subnotificação. “A pessoa às vezes tem vergonha de dizer que caiu num golpe”, afirmou. “É um problema grave. O nosso objetivo é dar ao cidadão mais uma ferramenta de proteção.”

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