Com inflação e desemprego sob controle, bares e restaurantes de São Paulo esperam alta de 4,5% este ano

Uma image de notas de 20 reais
81% dos empresários esperam alta no faturamento no mês de dezembro, na comparação com 2024
(Rafaela Araujo/Folhapress)
  • Fluxo trazido por festas natalinas e de ano novo, além das confraternizações de empresas, formam cenário otimista para 81% dos empresários
  • Apesar do otimismo para o fim do ano, recomendação é de cautela na compra dos estoques, antecipando a queda no fluxo esperada para janeiro
Por Anna Scudeller

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
A Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel) prevê um fim de ano otimista para o setor. Conforme pesquisa da entidade, 81% dos empreendedores esperam ter alta no faturamento em comparação com o mesmo período do ano passado. O otimismo é sustentado pela baixa do desemprego, que atingiu o menor nível da série histórica em outubro (5,4%), cerca de 5,9 milhões de desocupados, de acordo com o IBGE. Com o impulso natalino, Joaquim Saraiva, diretor-executivo da Abrasel-SP, prevê que o setor feche 2025 com crescimento de 4,5% após “alguns tumultos”. Se confirmado, o avanço será superior aos 4,2% registrados em 2024. Ele também antecipa que a expectativa da entidade para o ano que vem é de crescer 5%. Mas é preciso ter os pés no chão. Ainda que os empresários se mostrem otimistas, o executivo reforça a importância de não extrapolar na aquisição de estoque para eventos de final de ano, em especial de produtos perecíveis, tendo em vista a queda do movimento esperada para o mês de janeiro.

A atenção ao estoque se apoia também no comportamento dos preços praticados. De acordo com relatório da Abrasel-SP, 49% das empresas reajustaram os preços conforme ou abaixo da inflação acumulada em 12 meses, o que tem pressionado as margens dos restaurantes. Em novembro, o IPCA acumulado em 12 meses foi de 4,46%, segundo o IBGE. Para Saraiva, a acomodação da inflação anual em patamares inferiores a 5% deu ao setor de bares e restaurantes um fôlego para se programar para receber mais clientes no período das festas natalinas e confraternizações empresariais. “Os estabelecimentos com maior capacidade física devem aproveitar melhor o aumento das reservas e demanda”, disse.

Para os eventos de final de ano, a expectativa da Abrasel é que o Estado de São Paulo registre alta de até 40% entre os estabelecimentos de grande porte, e de 20% para os menores. “E o tíquete médio fica em R$ 120 por pessoa”, disse. Patrícia Andrade de Oliveira e Silva, professora de fundamentos da economia na ESPM, explica que a maior frequência nos bares e restaurantes promete estimular os negócios e aumentar o otimismo para a entrada de 2026, depois de um ano de arrefecimento das vendas no comércio em geral. Ela cita que fatores como o 13º salário impulsionam esses resultados no fim do ano e que, a partir do ano que vem, outro fator terá influência positiva nos gastos do brasileiro com alimentação fora do lar: a isenção do imposto de renda, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em novembro.

Escolhas do Editor

Apesar do cenário positivo, ainda há pontos de atenção. Os principais deles envolvem o alto patamar da taxa de juros e o fato de 79,2% da população estar endividada, conforme a Confederação Nacional do Comércio (CNC). Silva afirma que isso tem tornado o consumidor mais cauteloso e seletivo, com a priorização de ocasiões especiais e busca por custo-benefício. “Quando decidimos gastar, queremos qualidade e ambiente agradável”, disse. Para ela, o controle das expectativas nas vendas de final do ano é importante para evitar que, caso não se confirme o fluxo previsto inicialmente, não haja uma pressão nas margens que impacte substancialmente o quadro de funcionários.

Segundo o executivo da Abrasel-SP, são contratados, no mínimo, três funcionários temporários por estabelecimento durante esse período. “É uma oportunidade para o trabalhador se adaptar e ser efetivado”, afirmou. No Brasil, um terço (32%) dos empresários do setor pretende ampliar a equipe durante o período de festas, principalmente auxiliares de cozinha (70%) e garçons (54%). De acordo com dados da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem), ano passado foram abertas cerca de 450 mil vagas temporárias no setor de serviços no país, ao longo de todo o ano, incluindo alimentação. Para este ano, é esperado que o setor de serviços crie 160,5 mil vagas temporárias apenas entre outubro e dezembro.

Quanto ao estoque e fluxo de caixa, Saraiva recomenda que as compras sejam reguladas conforme a previsão de consumo, antecipando, inclusive, a queda natural do movimento em janeiro, período de férias e que o brasileiro tende a poupar recursos para as despesas extras de início de ano, como IPVA e IPTU. Para fazer uma mensuração mais exata, Silva, da ESPM, afirma que o empresário do ramo alimentar precisa investir em tecnologia.

A implementação de softwares de gestão para monitorar validade dos produtos e o ritmo de giro, o cálculo de estoque sazonal para bebidas e pratos típicos, a criação de estoque de segurança para imprevistos e o treinamento da equipe para controle rigoroso durante o período, a fim de reduzir também o desperdício de alimentos. Dentro do bar ou do restaurante, a dica de Saraiva é ser simples e claro. “Uma opção é fazer reuniões prévias para alinhar expectativas e pedir paciência aos funcionários”, disse. Ele sugere ainda que sejam criadas ofertas especiais, assim como opções acessíveis para atrair consumidores com maior endividamento. “Mas sem sacrificar a qualidade.” 

CRÉDITO E EXPECTATIVAS – Apesar da manutenção da taxa Selic em 15%, conforme a reunião do Copom do dia 11 de dezembro, o diretor-executivo da Abrasel-SP afirma que os investimentos dos empresários em suas operações seguem, mesmo em estabelecimentos menores e com menor poder de obtenção de crédito. Conforme levantamento da entidade paulista, em novembro, 29% das empresas permanecem com dívidas em atraso, sete pontos percentuais a menos que em outubro. Entre os principais débitos estão impostos federais (58%), tributos estaduais (58%) e empréstimos bancários (39%). “O patamar ideal da Selic para nós seria 5%”, afirmou. “Para estimular o poder de compra e investimentos no setor.”

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