Vendas no comércio têm "desaceleração generalizada", diz economista. Queda da taxa de juros entra no radar

Uma image de notas de 20 reais
Manutenção da taxa de juros em patamar alto irá cobrar mais do varejo a partir de janeiro
(Adriano Vizoni/Folhapress)
  • Segundo a pesquisa do IBGE, em abril crescimento em 12 meses chegava a 3,4%. Em outubro, está em 1,7%, com quatro de 11 setores em queda
  • Ulisses Ruiz de Gamboa (IEGV-ACSP) observa que efeitos da política monetária têm defasagem – por isso, recuperação da atividade vai demora
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O volume de vendas no comércio varejista esboçou reação de setembro para outubro, com alta de 0,5%, mas segue diminuindo o ritmo no ano e no acumulado em 12 meses. Segundo os dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE, a taxa de 12 meses desacelera desde maio, quando estava em 3%. Agora, o crescimento é de 1,7%, metade do registrado em abril (3,4%). “É uma desaceleração generalizada, alguns setores até com queda”, afirmou o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (IEGV-ACSP). Efeito da taxa de juros, observa: “Isso é produto da política monetária contracionista”. O que o mercado discute é quando os juros voltarão a cair – a Selic está em 15% ao ano desde junho.

“Se a desaceleração se provar mais forte do que o esperado, aumenta a chance de começar a reduzir em janeiro”, afirmou Ruiz de Gamboa. Mas o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), após a reunião desta semana, fez crescer a aposta em nova manutenção da Selic na primeira reunião de 2026, em 27 e 28 de janeiro. O economista do IEGV-ACSP observa que os efeitos da política monetária têm defasagem. “Da mesma forma que demorou para baixar, vai levar um tempo para recuperar.” Segundo o Copom, o cenário de “elevada incerteza” exige cautela. Assim, a estratégia de manter os juros “por período bastante prolongado” é adequada. A XP, por exemplo, acredita que o ciclo de cortes começará em março, com seis reduções seguidas de meio ponto percentual, o que levaria Selic para 12%.

Em 12 meses, até outubro, dos 11 setores abrangidos pela pesquisa, quatro mostram queda: livros/jornais/papelaria (-2,4%), equipamentos para escritório e informática (-0,3%), veículos, motos e peças (-1,7%) e atacado em produtos alimentícios (-4,9%). Os dois últimos fazem parte do varejo ampliado, que não teve variação – e não cresce desde setembro. Ainda nesse grupo, o atacado e varejo de materiais de construção sobe 0,6%. No varejo restrito, o segmento de super e hipermercados tem alta de 1,4%. O de tecidos&vestuário cresce 3,2% e o de móveis&eletrodomésticos, 4,4%. Neste caso, com comportamentos distintos – o de móveis cai 2,7%, enquanto o de eletrodomésticos cresce 6,4%.

Escolhas do Editor

“O panorama é de desaceleração do consumo, principalmente aquele mais dependente de crédito”, disse Ruiz de Gamboa. Ele cita o segmento de veículos, motos e peças, que cai 4,3% em relação a outubro de 2024, 3% no ano e 1,7% em 12 meses. Segundo o economista, a projeção do instituto para este ano pode ser revista. Por enquanto, se situa em torno de 2%. Esse número já representaria menos da metade do resultado da PMC em 2024, quando o volume de vendas do comércio varejista cresceu 4,7%, o melhor resultado desde 2012. As vendas crescem menos ou caem em volume, mas registram alta em receita: +6,8% no ano e +7,1% em 12 meses no varejo restrito e +4,1% e +4,5%, respectivamente, no varejo ampliado.

Voltar ao topo