Esquerda vai às ruas contra Congresso e PL da Dosimetria em atos menores que os de setembro

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SALVADOR, BA, BRASÍLIA, DF, RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Manifestantes foram às ruas neste domingo (14) para protestar contra a aprovação na Câmara dos Deputados do PL da Dosimetria, projeto que reduz as penas dos condenados por tentativa de golpe de Estado, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Os protestos acontecem em ao menos 21 capitais: Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Manaus, Belém, Natal, São Luís, João Pessoa, Campo Grande, Maceió, Teresina, Cuiabá, Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Goiânia, Fortaleza e Aracaju.

A expectativa dos organizadores era de manifestações em ao menos 49 cidades.

As manifestações no Rio de Janeiro e São Paulo começaram por volta das 14h com público visivelmente menor do que nos atos de 21 de setembro, contra a PEC da Blindagem, que reuniram cerca de 40 mil pessoas cada um.

Segundo levantamento realizado pelo Monitor do Debate Político e pela ONG More in Common, o protesto deste domingo em São Paulo contou com cerca de 13,7 mil pessoas em seu momento de pico, perto das 16h, com margem de erro de 12%.

No Rio, a manifestação contou com forte presença de artistas, o que ajudou a atrair um público maior. Ainda assim, por volta das 17h, foram contabilizadas as 18,9 mil pessoas presentes em Copacabana segundo a medição do monitor, menos da metade do público do protesto de setembro.

Na avenida Paulista, o carro de som se posicionou pouco antes das 14h no quarteirão entre as ruas Itapeva e Peixoto Gomide, em frente ao Masp, onde os manifestantes se reuniram. Ao longo da tarde o público aumentou, e, por volta das 16h, chegou a ocupar três quarteirões da avenida, entre a alameda Ministro Rocha Azevedo e a rua Pamplona

“Com esse Congresso não dá” e “sem anistia para golpistas de ontem e de hoje” foram algumas das frases estampadas em faixas carregadas pelos manifestantes.

O ministro da Secretaria-Geral, Guilherme Boulos, foi um dos que discursou no carro de som. Na hora da fala, o público começou a gritar “sem anistia”, ao que ele acrescentou: “Ouça, Congresso Nacional, a voz do povo”.

Boulos também comentou ser histórica a condenação de generais e de Jair Bolsonaro (PL) pela tentativa de golpe de Estado. Na fala, o ministro criticou a votação no Senado sobre o Marco Temporal, disse que o Congresso deveria estar votando o fim da escala 6×1 de trabalho e reforçou que o trabalho, no próximo ano, deve ser por reeleger Lula.

Antes disso, ele criticou, em fala a jornalistas, o tratamento dado pela Câmara dos Deputados a parlamentares de esquerda. “Nós tivemos aquele episódio na Câmara de dois pesos, duas medidas, em que o deputado de esquerda foi tratado na porrada, e a imprensa também, enquanto os bolsonaristas subiram naquela mesma mesa e ficaram dois dias. E nós tivemos a aprovação dessa anistia envergonhada. A mobilização é contra isso”, disse.

O mesmo tom foi adotado pela deputada federal Érika Hilton (PSOL), que, em seu discurso, chamou o Congresso de “canalha” e “inimigo do povo”. Antes, à imprensa, ela disse que a voz das ruas “precisa valer mais do que a voz das cadeiras do Congresso”.

“Anistia é uma pauta de um grupo minoritário, barulhento, não é a pauta do Brasil. O Brasil quer a taxação das bets, dos bilionários, o Brasil quer o fim da escala 6×1, o Brasil quer uma política de proteção às mulheres. Esta é a agenda do povo brasileiro. A preservação ambiental, o futuro dos rios, das florestas, dos oceanos, não o Marco Temporal.”

Também o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) compareceu e afirmou esperar que os atos possam pressionar o Senado a vetar o PL da Dosimetria. “O Senado está mais dividido do que a Câmara”, observou. Na avaliação dele, caso seja aprovado, o projeto deve ser vetado pelo presidente Lula.

“Um congresso que se transformou num verdadeiro bunker das classes dominantes”, disse Teixeira no palco. Ele lembrou o protesto feito em setembro contra a PEC da Blindagem e disse que a Câmara repete o erro ao aprovar “no conluio, na calada da noite” o PL da Dosimetria.

Após uma breve apresentação de Zélia Duncan, foi a vez de Chico César subir ao palco na Paulista. Entre outras, ele cantou “Mama África”, seu maior sucesso, e “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores”, de Geraldo Vandré, que ficou conhecida como um dos hinos da resistência à ditadura militar.

“Congresso inimigo do povo. Motta, vergonha da Paraíba, Alcolumbre, vergonha da América do Sul”, disse o cantor.

Também participaram do ato na Paulista os deputados federais Ivan Valente (PSOL), Jilmar Tatto (PT), Juliana Cardoso (PT), Kiko Celeguim (PT), Orlando Silva (PCdoB), Rui Falcão (PT), e Sâmia Bomfim (PSOL), além do deputado estadual Eduardo Suplicy (PT).

O ato no Rio de Janeiro ocupou um quarteirão da avenida Atlântica, em Copacabana, e começou às 14h, com falas de políticos e representantes de movimentos sociais. Discursaram os deputados federais Chico Alencar (PSOL-RJ), Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), Glauber Braga (PSOL-RJ), Jandira Feghali (PC do B-RJ) e Lindbergh Farias (PT-RJ).

As falas se concentraram em críticas ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Um dos trios foi coberto com uma bandeira com o rosto de Motta e a inscrição “Congresso inimigo do povo”. Houve também discurso contra a escala de trabalho 6×1 e denunciando casos de feminicídio.

Durante discurso, Lindbergh anunciou a renúncia da deputada Carla Zambelli (PL-SP), o que foi comemorado pelo público.

Glauber Braga foi um dos mais celebrados, após a vitória política durante a semana de ter o mandato na Câmara suspenso por seis meses, em vez de ser cassado. A suspensão ocorreu por conta do episódio em que Braga agrediu com um chute um militante do MBL, em abril do ano passado.

Organizadores do ato distribuíram adesivos com a inscrição “Glauber ficou”. Manifestantes gritaram “Glauber fica” quando o parlamentar iniciou seu discurso.

“Eles acharam que com os métodos tradicionais de coação ficaríamos calados. Mas eles estão falando com militantes da esquerda brasileira, que não se entrega”, disse o deputado em discurso.

O protesto foi dividido em dois trios: um para os movimentos sociais e outro para o ato musical, que começou às 16h e teve as participações de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e Paulinho da Viola, assim como o ato de setembro.

Também cantaram Leila Pinheiro, Lenine, Emicida, Fernanda Abreu, Tony Bellotto, Moreno Veloso, Duda Beat, Xamã, Baco Exu do Blues e Sophie Charlotte.

Caetano Veloso iniciou o ato com “Alegria, Alegria”, canção que marcou o movimento contra a ditadura nas décadas de 1960 e 1970. Chico Buarque interpretou “Vai Passar” e chamou a atriz Fernanda Torres para cantar ao seu lado.

Os atos foram convocados pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, que reúnem entidades como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Partidos como PT e o PSOL também convocaram os seus militantes para o protesto.

Em Salvador, os manifestantes se concentraram na altura do Morro do Cristo e saíram em passeata pela orla da Barra. Eles carregavam um boneco representando o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), com cartazes que o chamavam de covarde, corrupto e golpista.

Outros manifestantes levavam cartazes chamando o Congresso Nacional de “inimigo do povo” e comparando os parlamentares a criminosos. Um carro de som tocava músicas exaltando o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, e com críticas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Também na Bahia o público foi menor do que o protesto realizado em 21 de setembro contra a PEC da Blindagem. Não houve participação de trios elétricos e artistas. Também foi realizado na manhã deste domingo em Salvador o protesto “Mulheres Vivas” contra o feminicídio.

O protesto em João Pessoa teve como principal alvo o presidente da Câmara, Hugo Motta, que é natural da Paraíba. Manifestantes carregaram cartazes com frases como “Hugo Motta vergonha da Paraíba”.

Já em Brasília, as manifestações foram convocados por sindicatos e partidos de esquerda, como PT, PSOL e PC do B. Um grupo se reuniu no meio da manhã em frente ao Museu da República, na região central da cidade, para uma marcha em direção do Congresso Nacional.

Militantes fizeram discursos em cima de um carro de som contra os parlamentares, afirmando que o presidente da Câmara, Hugo Motta, havia perdido condições de comandar a Casa.

Eles cobraram dos congressistas a aprovação de pautas defendidas pela esquerda, como o fim da escala de trabalho 6×1.

A Câmara dos Deputados aprovou na última quarta-feira (10) o projeto que substituiu a anistia ampla e prevê apenas a redução de penas para Bolsonaro e os demais presos por participação nos ataques às sedes dos Poderes em 8 de janeiro de 2023.

Relatado pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), o projeto teve 291 votos a favor e 148 contrários. Os destaques que poderiam alterar o texto foram rejeitados, em sessão que terminou às 3h56 da madrugada de quarta-feira.

A proposta ainda tem que passar pelo Senado. O presidente da Casa, senador Davi Alcolumbre (União-AP), disse que a matéria deve ser votada ainda neste ano.

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