RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) afirmou nesta segunda-feira (15) que o início da coleta dos dados do 12º Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola deve ficar para 2027, e não para 2026, como esperado inicialmente pelo órgão.
A instituição ainda aguarda a confirmação do orçamento para preparar a pesquisa ao longo do próximo ano. O IBGE informou que fez um pedido de R$ 700 milhões para os trabalhos em 2026. O valor é destinado a tarefas como a contratação de servidores temporários.
O plano atualizado do instituto prevê realizar em outubro do ano que vem um cadastro dos estabelecimentos agropecuários que queiram responder aos questionários de forma online.
A ideia agora é iniciar a aplicação das perguntas pela internet em janeiro de 2027 e a coleta das informações de modo presencial em abril do mesmo ano.
“É o cronograma vigente neste momento, mas é importante lembrar que esse cronograma depende da aprovação do processo seletivo simplificado [dos temporários] e da confirmação da dotação orçamentária para 2026”, afirmou o coordenador-geral de operações censitárias do IBGE, Fernando Damasco.
“Esses dois condicionantes são cruciais, porque, se eles não se concretizarem, o IBGE não tem as condições necessárias para realizar a pesquisa”, acrescentou.
Segundo ele, o projeto total de orçamento, apresentado de “forma muito inicial”, ficou em torno de R$ 3,4 bilhões. A quantia, contudo, é sujeita a revisões.
As declarações ocorreram durante entrevista coletiva sobre a primeira prova piloto dos testes do Censo Agro, encerrada neste mês.
Conforme o IBGE, essa etapa preparatória ocorreu em seis municípios: Nova Friburgo (RJ), Alfenas (MG), Grão Mogol (MG), Sobradinho (BA), Juazeiro (BA) e Bacabal (MA).
A segunda prova piloto da pesquisa está prevista para o próximo mês de abril.
“Foi feita uma solicitação de orçamento para o ano de 2026, de R$ 700 milhões. O Ministério do Planejamento alocou esse recurso no orçamento do IBGE nas operações censitárias”, afirmou o diretor de pesquisas do instituto, Gustavo Junger.
“Agora a gente tem um processo de avaliação e definição por parte do Congresso Nacional. Então, quando você me pergunta se existe a garantia do orçamento, é um pleito, na verdade, que a gente faz enquanto IBGE”, completou.
O QUE O CENSO AGRO INVESTIGA?
O Censo Agropecuário faz um mapeamento detalhado das condições dos produtores rurais no país.
A edição mais recente é relativa a 2017, quando o IBGE contabilizou quase 5,1 milhões de estabelecimentos do setor. Houve redução de 102,3 mil na comparação com o dado registrado em 2006 (quase 5,2 milhões).
Nesta segunda, o IBGE disse que pretende recensear cerca de 5 milhões de locais do tipo na nova pesquisa.
Um estabelecimento agropecuário não deve ser confundido com um imóvel rural, conforme o instituto. Trata-se, na verdade, de um endereço com produção agropecuária voltada à venda ou ao autoconsumo.
O Censo Agro mapeia as características dos produtores e da área dos estabelecimentos, conta a população ocupada com trabalho e também traz informações sobre financiamentos, despesas e investimentos.
De acordo com o IBGE, a nova edição incluirá os seguintes temas: sucessão do produtor, meio ambiente e perdas, destino municipal da produção vendida e tecnologias.
Nesse último tópico, o instituto prevê investigar a utilização de ferramentas como drones, máquinas da agricultura de precisão e plataformas digitais.
O IBGE chegou a anunciar que o presidente do órgão, Marcio Pochmann, estaria presente na coletiva desta segunda, o que não se confirmou.
Conforme a justificativa do instituto, a ausência ocorreu devido à participação do economista em agenda do Plano Nacional de Cuidados do governo federal.
Indicado pelo presidente Lula (PT), Pochmann comanda o IBGE desde agosto de 2023. Sua gestão tem sido questionada por parte do quadro de servidores, que chegou a falar em autoritarismo da direção.
Em entrevista à Folha de S.Paulo publicada nesta segunda, Pochmann disse que é visto como “o cara polêmico”, mas que, na verdade, está repensando a instituição de pesquisas.
IMPASSE SOBRE VERBA
A preparação do novo Censo Agro enfrentou incertezas ao longo deste ano, sem a garantia do orçamento para o trabalho.
O impasse levou à exoneração do servidor Octávio Costa de Oliveira do cargo de coordenador de estatísticas agropecuárias do IBGE.
A decisão veio a público em meados deste ano e deixou parte dos funcionários surpresa. Divergências em relação ao cronograma do recenseamento pesaram à época.
Entre o corpo técnico, a avaliação era de que os preparativos para o Censo Agro estavam atrasados. Assim, realizar a coleta dos dados em 2026 não seria a opção mais adequada. A ideia de transferir o levantamento para 2027, contudo, enfrentava resistência no comando do instituto.
Em junho, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) afirmou à Folha que a pesquisa deveria ser tratada como “prioridade de Estado” e disse que o impasse sobre a liberação de verba gerava “grande preocupação”.