SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Motiva, ex-CCR, estuda, para 2026, apresentar propostas em leilões de estradas com grande demanda, perto de grandes centros urbanos ou que funcionem como rota estratégica para setores em expansão, como o agronegócio. Essas rodovias são o que Miguel Setas, CEO da companhia, chama de “ativos premium”.
“É um ativo que tem demanda bem conhecida, que está exposto aos estímulos de demanda das principais atividades econômicas no Brasil, quer seja numa grande metrópole como é São Paulo, quer seja num eixo logístico que une São Paulo às grandes capitais que estão aqui à volta”, diz em entrevista à Folha.
É o caso da rodovia Fernão Dias (BR-381), afirma Setas. A estrada, que liga a capital paulista a Belo Horizonte, foi arrematada pela companhia em leilão realizado na B3 (a Bolsa de Valores de São Paulo) neste mês. A concessionária ofereceu um desconto de 17,05% sobre a tarifa básica de pedágio e desbancou a Arteris, atual administradora da concessão.
O modelo de leilão simplificado (também chamado de otimização de contrato) prevê a oferta ao mercado de um contrato de concessão previamente acertado com uma companhia -neste caso, a Arteris, que já administra a rodovia Fernão Dias desde fevereiro de 2008. No entanto, se outra proponente oferecer um desconto maior sobre a tarifa, o projeto troca de dono.
A Fernão Dias é uma rota estratégica para o escoamento das produções industrial, agrícola e mineral, com predominância de cargas gerais, produtos manufaturados e minérios.
“É um grande ativo, muito relevante, muito expressivo em termos da dimensão econômica que ele representa no Brasil. Nós já tínhamos tentado entrar em Minas Gerais participando num leilão que não ganhamos [a Rota dos Cristais, trecho da BR-040 que liga Belo Horizonte a Cristalina, em Goiás]. Portanto, para nós, a presença em Minas é estratégica”, diz.
Para o ano que vem, o governo federal prevê mais seis leilões de otimização, que incluem a Régis Bittencourt (BR-116/SP/PR) e a rodovia Transbrasiliana (BR-153/SP).
Setas não diz quais leilões previstos para o ano que vem estão sendo estudados pelo grupo. No total, o Ministério dos Transportes prevê 13 certames de rodovias em 2026.
“Tem que ter demanda. Tem que ter exposição a esses mercados que estão em crescimento demográfico ou de atividade econômica, muito ligado ao agro, à indústria, aos serviços.”
A Motiva chega aos leilões de rodovias em 2026 depois de ter fechado, em novembro, a venda de todos os aeroportos administrados pela companhia para a Aeropuerto de Cancún, uma subsidiária da mexicana Asur (Grupo Aeroportuario del Sureste). A empresa descreveu a transação como uma reciclagem de capital que “vai destravar valor em portfólio e simplificar o modelo de negócio”.
À época, a companhia afirmou que a venda dos aeroportos ampliaria a capacidade de investimento nos segmentos estratégicos de rodovias e trilhos.
Segundo Setas, a decisão de vender a carteira de aeroportos foi consequência da escassez de projetos aeroportuários de grande escala no Brasil. De acordo com o executivo, apenas o terminal Santos Dumont, no Rio de Janeiro, representaria uma oportunidade no setor aeroportuário atualmente. No entanto, sem novos ativos relevantes, a empresa não conseguiria se expandir no segmento, diz.
“Em aeroportos, somos um operador qualificado, que tem uma posição relevante no mercado brasileiro. Mas não temos uma escala de nível internacional como temos em rodovias e em trilhos, e as oportunidades são muito menos abundantes [do que no segmento de rodovias]”, afirma.
Os 20 aeroportos -17 no Brasil e três fora do país (Curaçao, Costa Rica e Equador)- foram vendidos à Asur por R$ 11,5 bilhões.
Segundo a Motiva, o processo competitivo pelos ativos da companhia atraiu 20 grupos europeus, latino-americanos e asiáticos. A negociação foi assessorada por Lazard e Itaú Unibanco.
Setas não revela quais grupos, além da Asur, se interessaram pelos ativos, por questões jurídicas de confidencialidade, segundo ele.
Em dezembro, a CCR-RioSP, concessionária da Motiva que administra as rodovias Dutra e Rio-Santos, deu início à operação do free flow (pedágio sem cancela) na rodovia Presidente Dutra. Por enquanto, o governo está proibido de cobrar multa de quem não pagar o novo pedágio na rodovia. A decisão atende a uma ação movida pelo Ministério Público Federal.
Segundo a Procuradoria, há risco elevado de que o sistema gere milhões de multas indevidas e leve motoristas ao endividamento e à impossibilidade de dirigir pelo acúmulo de pontos na CNH (Carteira Nacional de Habilitação).
No modelo free flow, a cobrança é feita pelos pórticos, que substituem as praças de pedágio e são equipados com tecnologia para identificar os veículos.
Segundo Setas, caso a suspensão da cobrança de multas e uma eventual inadimplência afetem a Motiva, “a empresa tem os mecanismos, nas vias judiciais ou nas vias administrativas, para reequilibrar os contratos, caso haja algum desequilíbrio”.
“O pressuposto é que esse sistema é bom para a sociedade, e nós queremos que ele seja entendido da melhor forma possível”, afirma.
Segundo Setas, a comunicação sobre o funcionamento do free flow pode ser melhorada. “Um dos pressupostos deste sistema é que as tarifas podem baixar, porque haverá uma redistribuição dessa tarifa [de forma] mais justa, proporcional à utilização, para quem está utilizando da rodovia”, afirma.
Na Dutra, só pagará pedágio quem transitar pela pista expressa. O motorista que utilizar as vias marginais não será tarifado. O valor vai variar de acordo com dia e horário e com o trecho percorrido. A CCR RioSP simula o valor da tarifa no site da empresa.
RAIO-X | MOTIVA
Fundação: 1999
Lucro líquido no 3º trimestre: R$ 1,23 bilhão
Funcionários: mais de 16 mil
Principais concorrentes: EPR, EcoRodovias, Vinci, 4UM, Opportunity e Azevedo e Travassos