Empresas de capital aberto geram mais empregos, pagam melhor e ainda matam a fome do Estado arrecadador

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B3: estudo Abrasca-FGV mostra movimento econômico provocado por 270 empresas de capital aberto
(Cris Faga/Folhapress)
  • As 270 companhias consideradas na avaliação da FGV-Abrasca geram R$ 2,1 trilhões em Valor Adicionado e empregam 2,8 milhões de pessoas
  • Para os autores do estudo, “o Brasil precisa recuperar o caminho do crescimento do mercado de capitais” e não aumentar a carga tributária
Por Edson Rossi

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS].
Poucas vezes se viu argumento tão contundente à elite do país quanto o estudo A Relevância das Companhias Abertas na Economia Brasileira. Ele traz uma indiscutível evidência: a tração que a livre iniciativa e a economia de mercado promovem na sociedade. As 270 empresas de capital aberto analisadas no documento respondem por 2,8 milhões de empregos diretos. Sozinhas, geraram R$ 2,1 trilhões em Valor Adicionado, ou 18% do PIB de R$ 11,7 trilhões (dados de 2024). “[Esses números] mostram o papel fundamental das grandes empresas na formação de cadeias produtivas inteiras”, afirmou Pablo Cesário, presidente-executivo da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), entidade representativa das empresas de capital aberto no Brasil. A Abrasca encomendou o estudo, que foi feito pela FGV.

Cesário destaca também o papel dessas corporações na atração de investimento estrangeiro, no estímulo à pesquisa e na criação de empregos de melhor qualidade. “Esses fatores, combinados, materializam a geração de prosperidade para os brasileiros.” Mergulhar no lado reluzente do capitalismo, no entanto, provoca uma constatação colateral da mesma intensidade: o que se tornou o Estado brasileiro – uma máquina arrecadatória que toma da sociedade R$ 126 mil por segundo. Sim, somente a leitura deste parágrafo de 95 palavras levou tempo suficiente para o Poder Público colocar no bolso uns R$ 3 milhões.

Por esse motivo, falar de empresas de capital aberto exige que igualmente se fale do dinheiro que sai delas – maiores contribuintes do país. Dinheiro que financia de tudo. Do que há de bom ao que há de péssimo. De emendas parlamentares de destinação duvidosa a ultrassalários acima do teto, ignorando que nem tudo que é legal é legítimo. É obrigatório falar dos R$ 61 bilhões em emendas parlamentares para 2026. Traduzido de outra forma: R$ 7,4 milhões por hora. Ou falar de 53,5 mil servidores que ganham acima do teto (R$ 46 mil) e carregam do público para o privado R$ 20 bilhões por ano. Esses 53,5 mil senhores ganham pelo menos um salário-mínimo por dia. O mesmo que 35 milhões de trabalhadores brasileiros recebem por mês. Os primeiros ganham em no máximo duas semanas o que dezenas de milhões de brasileiros receberão por um ano de batalha.

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270 EMPRESAS – Não há como relativizar esses dados. Dito isso, sobra para o mundo privado pagar a conta. Por meio das corporações, em especial as de capital aberto. Um universo resiliente e multiplicador como nunca. É isso o que prova o estudo. No trabalho, o foco ficou em 270 (das 372) empresas com registro ativo na B3 em 2024 – foram excluídas companhias com receitas abaixo de R$ 300 milhões, as que pertencem a holdings e grupos econômicos e as que não apresentaram Demonstração do Valor Adicionado (DVA). O estudo é assinado por Márcio Holland (coordenador), Alan Carvalho, Eurico Marcos D. de Santi, Joelson Sampaio e Tiago Slavov.

E ele começa mostrando o tamanho do desafio. Por cinco décadas, entre 1932 e 1980, o Brasil cresceu em média 6,7% ao ano. Nos últimos 45 anos, o ritmo caiu para +2,3% ao ano – com sete recessões no caminho, uma a cada seis anos e meio. Isso não é tudo, mas ajuda a explicar por que o número de empresas listadas na B3 diminui. Em 1990, eram 579. No ano passado, 372. Um terço a menos. Na China, são 11,2 mil. Nos Estados Unidos, 4 mil. Na Índia, 2,7 mil. Até o Chile tem mais: 437. Junte-se à equação um contexto de elevada carga tributária. Em 1997, era de 26,5% do PIB. No ano passado, chegou a 32,3%. Nesse ranking somos parceiros de Argentina, Moçambique e Venezuela. E superamos de longe países que no imaginário coletivo cobram impostos nas alturas, como Dinamarca e Noruega, que fizeram o caminho inverso e estão na faixa de 22% do PIB.

EMPREGOS & SALÁRIOS – Mesmo com tanta adversidade macroeconômica, as companhias abertas são um motor em alta rotação para a nossa economia. As 270 corporações estudadas representam uma ínfima parte dos 21,6 milhões de CNPJs ativos do país (dados de 2024), 5% dos quais atuando no regime de Lucro Real. Cada uma das 270 tem, em média, 10,3 mil empregados diretos, 1 mil vezes mais que a média de contratados das demais empresas privadas. A remuneração direta delas no ano passado foi de R$ 344 bilhões, o que dá uma média mensal de R$ 10.250 por empregado – a média nacional é de R$ 3.700. Isso significa que na primeira quinzena de maio um colaborador dessas companhias recebeu o que os demais brasileiros receberão somente ao acabar o ano.

O estudo também avalia a Riqueza Gerada para a Sociedade, que é a soma de três eixos – pessoal (gastos das 270 empresas com salários), fornecedores (pagamentos à cadeia produtiva) e governo (pagamentos de tributos). E se recortarmos apenas as companhias do top 10, o volume movimentado é de R$ 2 trilhões. Em relação aos valores pagos a título de salários, ordenados, benefícios, encargos sociais, planos de previdência privada e outras formas de remuneração direta ou indireta somente das cinco maiores nesse quesito (JBS, Petrobras, Itaú, Banco do Brasil e Bradesco) somam R$ 179 bilhões. Já no campo da riqueza gerada para os governos por meio de impostos, taxas e contribuições pelas cinco maiores contribuintes (Petrobras, Ambev, Itaú, CPFL Energia e Neoenergia) somam R$ 293 bilhões. Lido de outra forma, no recorte dos dois grupos (empregados & governo), a cada R$ 1,00 gasto com funcionário gasta-se R$ 1,64 com o governo, dois terços a mais.

Em resumo, se por um lado o Estado é um animal cada vez mais faminto, a maior parte da ração para esse festim vem dessas gigantes de capital aberto. Elas recolheram em tributos federais, estaduais e municipais R$ 640 bilhões, 23% da arrecadação corporativa total (R$ 2,8 trilhões). Os autores dizem que “o Brasil precisa recuperar o caminho do crescimento do mercado de capitais”, promovendo esse mercado e o crédito privado de longo prazo. “Mas aumentar a carga tributária sobre empresas de capital aberto vai na contramão”, já que a elevada e ascendente tributação brasileira reduz a atração de investimentos e desincentiva outras corporações a abrir capital. Um erro que será quitado por toda a sociedade. Em especial sua parte mais pobre. Até porque, “as contribuições dessas empresas ao país ajudam a financiar políticas públicas e programas de transferência de renda às famílias brasileiras”, afirmaram os autores.

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