Ações da Alpargatas se recuperam e avançam 4% após tombo por boicote da direita à Havaianas

Uma image de notas de 20 reais

Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As ações da Alpargatas, dona da Havaianas, fecharam em forte alta de 4,46% no pregão da B3 desta terça-feira (23) e se recuperaram do tombo da véspera, em meio à polêmica envolvendo a última campanha publicitária da marca de chinelos.

A cotação final foi de R$ 11,95. Na segunda, os papéis haviam caído 2,4% por causa da possibilidade do boicote —inflamado por políticos de direita nas redes sociais— afetar o faturamento da Havaianas, em uma época do ano já tradicionalmente marcada por baixa liquidez nos mercados.

O avanço desta terça se soma à alta acumulada de 113% dos papéis neste ano, segundo análise da consultoria Elos Ayta. O movimento é reflexo de uma reestruturação na marca que alavancou resultados corporativos nos últimos trimestres e convenceu analistas de que a ação merecia a recomendação de compra.

O mercado passou a ver a Alpargatas com bons olhos após a chegada de Liel Miranda ao cargo de CEO no ano passado. O executivo aprimorou as operações da companhia no Brasil ao promover uma revisão na estratégia de investimentos, focando em alocação de capital, nível de endividamento e geração de caixa.

A melhora nos indicadores logísticos fez com que o lucro líquido subisse 199% no terceiro trimestre de 2025 em relação ao ano anterior, a R$ 171,3 milhões. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) avançou 86,8% na mesma base de comparação, a R$ 255,7 milhões —o melhor resultado para o indicador financeiro da história da Alpargatas, de acordo com a companhia.

O foco depois se voltou à melhoria operacional e otimização. O portfólio foi cortado pela metade e a companhia passou a aumentar a aposta em vendas de chinelos em supermercados, elevando o marketshare —jargão para “fatia de mercado”— para 77%.

“A gestão já executou uma reestruturação bem-sucedida no Brasil e agora vemos um roteiro concreto para melhora no mercado internacional”, diz a UBS BB em relatório.

Agora, a empresa se concentra no exterior, tendo anunciado um acordo de distribuição com a Eastman em junho. Segundo analistas, a parceria vai permitir que a Alpargatas atinja lucratividade nos Estados Unidos a partir de 2026, revertendo o prejuízo de R$ 80 milhões registrado no país em 2024.

“Embora já esperássemos uma melhora nas margens, a Alpargatas nos surpreendeu tanto no Brasil quanto no exterior, o que explica o forte desempenho do Ebitda no resultado do terceiro trimestre”, avalia a XP.

Os sinais são positivos em todas as frentes, afirma o relatório, “com o Brasil ganhando participação de mercado e expandindo margens, volumes se recuperando na Europa e os EUA se preparando para implementar seu novo modelo operacional em 2026”.

Os resultados deste ano reverteram a tendência de queda das ações da dona da Havaianas ao longo dos últimos anos. Segundo análise da Elos Ayta, o ponto mais crítico da companhia ocorreu em 2022, quando o papel registrou queda de 59% no ano, levando o preço para R$ 12,72. O movimento se estendeu em 2023 e 2024, com desvalorizações anuais de 32,89% e 37,15%, respectivamente. O preço da ação foi levado à mínima de R$ 5,37.

A valorização desse ano mostra um desempenho “que não era observado desde 2019 e que sinaliza uma inflexão importante no comportamento recente do papel, após quatro anos consecutivos de perdas expressivas”, diz a consultoria.

Não à toa, o tombo da véspera foi visto como ruído de curto prazo para analistas. “Já vimos isso acontecer outras vezes com empresas que tiveram alguma exposição nesse sentido, e de ambos os lados do espectro político, como Smartfit, Madero, Magazine Luiza, JBS… Para a empresa ser afetada porque se envolveu com alguma polêmica política teria que ser algo muito maior”, diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

A queda foi resultado de críticas de apoiadores da direita, que incentivaram um boicote aos chinelos da marca em reação à campanha publicitária estrelada por Fernanda Torres.

Em um determinado trecho do comercial, a atriz afirma desejar que o público não comece 2026 “com o pé direito”, mas “com os dois pés”, o que foi lido como uma mensagem de cunho político considerando as eleições presidenciais do próximo ano.

Entre os que se manifestaram estão o ex-deputado federal Eduardo Bolsonaro e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL), que associaram o conteúdo da propaganda a uma suposta posição ideológica da marca.

Procurada pela Folha, a Havaianas não se pronunciou.

Fora das redes e das mesas de operação, a polêmica virou pauta no varejo. A loja Calçados Guarani, de Brusque (SC), esgotou em poucas horas o estoque de chinelos da marca após colocar os pares à venda por R$ 1.

Em publicação feita em seus perfis oficiais, a Calçados Guarani afirmou que suas três lojas venderiam todos os pares da Havaianas por R$ 1 enquanto durasse o estoque. “Não vamos mais trabalhar com a marca por tempo indeterminado, devido à provocação da marca com a população conservadora, na qual fazemos parte!”, disse a loja, em comunicado publicado no Instagram.

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