Arrecadação de impostos bate em R$ 3 trilhões - ou R$ 6,8 milhões a cada 60 segundos. Marca chega 54 dias antes em relação a 2023

Uma image de notas de 20 reais
Arrecadação elevada ainda não é capaz de cobrir déficit público
Drazen Zigic/Freepik
  • O total arrecadado em dez meses deste ano é menor apenas que o PIB de três das 33 economias da América Latina
  • Pelas projeções oficiais, o presidente Lula deve terminar o governo com déficit fiscal efetivo nos quatros anos do seu terceiro mandato
Por Da Redação com Folhapress

Anote um horário para não esquecer. Mesmo sendo má notícia. Às 8h50 desta sexta-feira (1), a arrecadação de impostos no Brasil terá somado exatamente R$ 3 trilhões. Em números: R$ 3.000.000.000.000,00. A marca será atingida 54 dias antes em relação ao mesmo volume em 2023. Representa o total de impostos, taxas e contribuições pagos desde o primeiro dia do ano pelos contribuintes brasileiros aos governos federal, estadual e municipal – incluindo multas, juros e correção monetária. São mais de R$ 6,8 milhões por minuto. O total arrecadado em dez meses deste ano é menor apenas que o PIB de três das 33 economias da América Latina (além do brasileiro, claro, de México e Argentina).

Em comparação com o mesmo período do ano passado, o Impostômetro – painel das Associação Comercial de São Paulo (ACSP) instalado na rua Boa Vista, no Centro da capital paulista, e que marca em tempo real o recolhimento dos impostos – havia registrado arrecadação de R$ 2,5 trilhões. Ou seja, um crescimento de 20% para este ano. Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da ACSP, explica que o crescimento é atribuído à elevação da atividade econômica, ao impacto da inflação e à reintegração do PIS e Cofins sobre os combustíveis

DÉFICITS – A voracidade brasileira pela arrecadação ainda assim não permite boa saúde fiscal. Segundo informações publicadas pela Folhapress, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve terminar o governo com déficit fiscal efetivo nos quatros anos do seu terceiro mandato. É o que sinalizam os dados oficiais mais recentes divulgados na proposta de Orçamento de 2025 e no quarto relatório de avaliação de receitas e despesas do Orçamento deste 2024.

Mesmo que o presidente cumpra as metas fiscais estabelecidas para 2024 (0%), 2025 (0%) e 2026 (superávit de 0,25%), o cenário é de déficits efetivos até o fim do seu mandato. Para 2024, o próprio governo prevê déficit de R$ 68,8 bilhões. Em 2025, a projeção é de um déficit efetivo de R$ 40,4 bilhões. “Nas próprias apresentações do governo, quando se coloca toda a despesa, tem déficit. Esse é o número que importa para a dívida pública”, disse Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG e ex-secretário do Tesouro Nacional. O time de Mansueto no BTG projeta déficit efetivo de R$ 47,65 bilhões neste ano e de R$ 109,73 bilhões em 2025. E 2026? “É déficit [também]”, afirmou.

O ex-secretário do Tesouro ressalta o cenário mais desafiador com o ciclo de aumento de juros, que piorou as projeções de crescimento da dívida pública. As estimativas do BTG apontam que a dívida bruta já em 2025 vai ultrapassar o patamar de 80%, fechando o ano em 81,58% do PIB (Produto Interno Bruto). “Vamos ter déficit primário todos os anos deste governo”, afirmou. Na sua avaliação, para o Brasil almejar recuperar o grau de investimento pelas agências de classificação de risco, será preciso responder à pergunta: ‘Quando se espera ter um superávit suficiente para estabilizar a dívida e colocá-la na trajetória de queda?’ “Hoje, não conseguimos responder.”

R$ 2 TRILHÕES – O alarme do Impostômetro soou bem mais cedo também para a marca de R$ 2 trilhões. No domingo (21 de julho), o painel da ACSP anunciou o volume arrecadado, 41 dias antes do que havia sido registrado em 2023. Em 5 de abril, o Impostômetro chegou a R$ 1 trilhão, 21 dias antes de igual período do ano anterior. Criado em 2005 pela ACSP, em parceria com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), o Impostômetro chegou pela primeira vez a R$ 1 trilhão – em valores nominais – em 2008. E atingiu os R$ 2 trilhões somente em 2016. Em 2022, houve um salto para R$ 3 trilhões. De 2005 a dezembro de 2023, o valor nominal soma R$ 36,2 trilhões. O crescimento nominal foi de 394,3% nesse período, muito acima da inflação (IPCA-IBGE) acumulada, de 182,4%.

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