Abia leva propostas ao governo para minimizar preços dos alimentos, que sobem 6 vezes acima do IPCA

Uma image de notas de 20 reais
Indústria do setor de alimentos afirma que custos de produção aumentaram mais que inflação
(Mapa/Divulgação)
  • Entidade sugere ao governo reduzir tarifas de material de embalagens, item sobe 15% em um ano. Custos como esse foram absorvidos pela indústria
  • Setor fatura R$ 1,28 trilhão em 2024, alta de quase 10%. O mercado interno representa 72%. Food service cresce 10,4% e varejo alimentar, 8,8%
Por Vitor Nuzzi Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

[AGÊNCIA DC NEWS]. Mesmo após um ano de custos “pressionados para cima” e diante da continuidade das alterações climáticas, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) considera que as condições para a produção estão favoráveis. Ao divulgar os resultados do setor em 2024, a entidade fez projeções mais moderadas para este ano e disse que absorveu parte dos custos, que ficaram acima da inflação. A estimativa para as vendas é de alta de 2% a 2,5%, ante 6,1% em 2024. Na ponta do consumidor, que é o preço, o grupo Alimentos & Bebidas teve IPCA de 0,96% em janeiro – seis vezes maior que o índice geral (0,16%). O presidente executivo da Abia, João Dornellas, afirmou que a entidade já apresentou algumas sugestões ao governo em relação aos preços de alimentos. E considerou “sábia” a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de não fazer “nenhuma intervenção heterodoxa” no mercado.

Entre as sugestões da indústria ao governo, estão melhorar a infraestrutura de transporte e reduzir tarifas de material de embalagem – esse item subiu 15% no ano passado, segundo a Abia, ante 0,5% em 2023. O custo com diesel, que havia caído 7,84% no ano anterior, aumentou 7% em 2024. De acordo com a associação, o custo médio de produção de alimentos industrializados subiu 9,3%. O presidente do Conselho Diretor, Gustavo Chiarini Bastos, que é vice-presidente Jurídico & Assuntos Públicos da Nestlé Brasil, afirmou que “a indústria já absorveu parte desse custo e está fazendo esse movimento”.

A Abia diz que algumas commodities – como cacau (alta de 189% em 2024) e café (140%) – sofrem mais o impacto de “restrição de oferta, aliada a crises climáticas”, mas a produção seguirá crescendo, impulsionada pela previsão de uma safra recorde de grãos neste ano, que deverá, segundo o presidente da entidade, derrubar o preço de muitas commodities. O executivo também vê certos exageros, como no atual caso do ovo, cujo preço, afirmou, sempre sobe no período da Quaresma. E ainda deu o exemplo do azeite: “O maior produtor global, que é a Península Ibérica, passou por uma seca inédita nos dois últimos anos.”

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PRESSÃO – Antes da divulgação do balanço, a Abia já apontava pressão nos custos de produção da indústria. “A desvalorização do real intensificou esse movimento, especialmente no segundo semestre”, afirmou a entidade. “Além disso, eventos climáticos adversos, como as enchentes no Rio Grande do Sul e estiagens prolongadas no Centro-Oeste, Sudeste e Norte, reduziram a safra de grãos e impactaram a qualidade das pastagens, pressionando os preços de matérias-primas essenciais, com soja, milho, trigo, leite e carne.”

O fato é que na ponta do consumidor os itens de alimentação, sejam in natura ou processados, continuam a pesar. Apenas em janeiro, nove itens tiveram elevação de preço de pelo menos 50 vezes acima do índice geral de 0,16% – abobrinha (que subiu 43,03%), pepino (+38,33%), cenoura (+36,14%), tomate (+20,27%), dourada (+19,12%), emulsão de açaí (+9,85%), café moído (+8,56%), manga (+8,20%) e tubérculos-raízes & legumes (+8,19%).

INDÚSTRIA – Formada por 41 mil empresas, sendo 94% micro, pequenas e médias, a indústria de alimentos teve faturamento de R$ 1,28 trilhão em 2024, crescimento nominal de 9,98% em relação ao ano anterior. Do total, R$ 918 bilhões (72%) referem-se ao mercado interno e US$ 66,3 bilhões (28%), das exportações. O setor representou 19,7% das exportações totais do país, participação recorde, e 77,1% do saldo comercial brasileiro em 2024. A Abia espera que as vendas ao exterior somem de US$ 68 bilhões a US$ 70 bilhões neste ano. Os produtos são vendidos para 190 países. Chiarini Bastos diz que “o Brasil cumpre com os dispositivos sanitários e regulatórios destes 190 países, além da regulamentação daqui”.

A Ásia responde por 38,7% do destino das exportações – sendo 14,9% apenas para a China. Depois vêm a Liga Árabe (18,9%) e a União Europeia (12,6%). Pelo terceiro ano seguido, o Brasil foi o maior exportador mundial, em volume, de alimentos. Com equilíbrio entre produtos in natura(50,1%) e industrializados (49,9%). Em relação ao mercado externo, Dornellas também falou sobre as tarifas impostas pelo governo de Donald Trump. “Essa postura cautelosa que vem sendo adotada pelo governo brasileiro deve ser seguida por nós”, afirmou. “A gente tem de monitorar muito de perto para mitigar os efeitos ou até aproveitar as oportunidades.”

O presidente executivo da Abia destacou os quase R$ 40 bilhões investidos em 2024, sendo R$ 24,9 bilhões para inovação e R$ 13,8 bilhões para fusões e aquisições. Esse valor faz parte de um total de R$ 120 bilhões anunciado pela indústria para o período 2023-2026 – nos dois primeiros anos do atual governo, foram investidos R$ 74,7 bilhões, 62% do previsto para os quatro anos. Os juros mais altos não impedirão o setor de atingir e até ultrapassar o valor, disse Dornellas. “De taxa de juros alta ninguém gosta. Os R$ 120 bilhões vão ser atingidos, [mas] se fosse menor a taxa, seria muito mais.” Segundo a Abia, a indústria processa 62% de tudo que é produzido no campo – e 68% da produção da agricultura familiar. A produção do setor cresceu 3,2% no ano e atingiu 283 milhões de toneladas de alimentos. O uso da capacidade instalada oscila entre 75% e 76%. O emprego cresceu 3,6% (72 mil postos de trabalho formais), e a previsão para este ano vai de alta de 1% a 1,5%.

BALANÇOS – A Camil foi a primeira empresa do setor a divulgar balanço em 2025, ainda nos primeiros dias de janeiro, reportando receita líquida de R$ 3,1 bilhões no trimestre fiscal encerrado em novembro (+3,4% sobre igual período do ano anterior) e menores compras de grãos por parte dos varejistas. Na divulgação de resultados, o diretor-presidente da Camil, Luciano Quartiero, e o diretor Financeiro e de Relações com Investidores, Flavio Vargas, afirmaram que é um movimento comum historicamente. “Tanto em momentos de constantes quedas de preços de arroz no mercado, como no registro de uma menor sazonalidade de vendas quando nos aproximamos do final do ano.”

A empresa reúne as marcas Coqueiro, Mabel, Santa Amália e União. O lucro líquido atingiu R$ 44,4 milhões no período (setembro-novembro), queda de 69,0% sobre o mesmo período de 2023. As ações, que abriram o ano a R$ 5,86 fecharam na quinta-feira (20) a R$ 4,35, queda de 25,7%. A Camil informou ter dado seu “primeiro passo para entrada no mercado paraguaio de arroz”. A Q2PY, empresa da Camil Investimentos (controladora da Camil Alimentos) concluiu a aquisição de 100% do capital social da Rice Paraguay e 80% da Villa Oliva Rice. Os executivos afirmaram que a companhia “está no caminho certo para consolidar sua posição no setor de alimentos da América do Sul”. Nesta sexta-feira (21), a M. Dias Branco divulga seus resultados de 2024. Na quarta-feira (26), será a vez da Ambev.

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