Nei Calderon, da Move Centro: “O poder público não dá conta de tudo. Os empresários precisam se unir”

Uma image de notas de 20 reais
Associação de Calderon custeou a chegada do 7º BPM para a rua Dom José de Barros
(Divulgação)
  • Associação Move Centro atua nas frentes de segurança, sustentabilidade, zeladoria, cultura, projetos sociais e educação
  • “Em geral o empresário se acha liberal, mas quando é para cuidar dos problemas, recorre ao governo”
Por Victor Marques Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

[AGÊNCIA DC NEWS]. O escritório de advocacia Rocha Calderon, dos sócios Nei Calderon e Marcelo Rocha, tem 30 anos de existência e dois endereços na capital paulista. Um deles na avenida Paulista, O segundo, há 28 anos, na região central, na rua Dom José de Barros, 264, na República. Calderon sempre gostou do Centro, mas trabalhava mais tempo presencialmente na unidade da Paulista. Em maio de 2023, ao almoçar com um dos funcionários do segundo escritório, se deparou com um cenário que segundo ele exclamava o descaso com a região. “Os comerciantes estavam fechando as portas com medo de serem assaltados”, afirmou Calderon.

Decepcionado, decidiu tomar as rédeas da situação. Foi atrás da Polícia Militar. Ele queria saber o que ele e seu escritório podiam fazer para melhorar a situação. “Eles disseram que não havia espaço físico para abrigar a quantidade necessária de policiais para o local”, disse o advogado. Após cinco meses de diálogo com a segurança pública e o subprefeito da Sé, Alvaro Batista Camilo – e um desembolso de R$ 2 milhões –, Calderon trouxe uma companhia inteira da PM para se instalar no mesmo prédio onde está seu escritório. E, no edifício vizinho, no número 258, foi instalado o 7º Batalhão da Polícia Militar.

Até hoje, Calderon arca com os custos prediais (como o aluguel de R$ 23 mil, a manutenção e a água). A prefeitura custeia a conta de luz. No batalhão atuam 126 policiais e há 24 viaturas. E foi dessa ação, inclusive, que nasceu a Associação Move Centro, que em julho completa três anos e da qual Calderon é presidente. A instituição atua na transformação do Centro nas frentes não apenas de segurança, mas também de sustentabilidade, zeladoria, cultura, projetos sociais e educação.

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É nesse liberalismo clássico, no qual o empresário toma as redes das mudanças da sociedade, que acredita Calderon. “O empresário do Centro quer menos intervenção do Estado nos negócios, mas quando é para cuidar dos problemas, recorre ao governo”, afirmou. Para ele, o futuro da região depende da união desses empresários. “O poder público não enxerga e nem dá conta de cuidar de tudo. Se a gente não se unir, não vai melhorar.” Confira a entrevista completa.

AGÊNCIA DC NEWS – Há dois anos, o senhor decidiu tomar as rédeas dos problemas de segurança nos entornos de seu escritório no Centro de São Paulo. Por quê?
Nei Calderon – O poder público não enxerga e nem dá conta de cuidar de tudo e você não consegue fazer além daquilo que você enxerga. Talvez eles nem tenham essa capacidade. Estão fazendo o que conseguem.

AGÊNCIA DC NEWS – O processo foi custoso para você? 
Calderon – Foi custoso. Até hoje, nós arcamos com custos do prédio, como o aluguel, de R$ 23 mil e a manutenção de equipamentos, como os de ar- condicionado. Na semana passada, todos deram problema, e tivemos de repor esses equipamentos.

AGÊNCIA DC NEWS – Vale a pena?
Calderon – Acredito que sim. A região está mais segura e, além da Polícia Militar, a Guarda Municipal também está fazendo um bom trabalho. A polícia está fazendo um trabalho digno. A região me parece mais segura do que outros bairros, como Pinheiros e Morumbi. A limpeza também melhorou muito. Mas ainda falta mais limpeza e zeladoria. São dois dos principais problemas que enfrentamos agora.

AGÊNCIA DC NEWS – E o que falta para enfrentarmos esses problemas?
Calderon – Falta mais envolvimento. Falta uma entrega maior. Falta mais zelo.

AGÊNCIA DC NEWS – E de onde, ou de quem, deve vir esse zelo?
Calderon – Acho que começa, lógico, do poder público. Mas também acredito que os empresários têm um papel fundamental na revitalização do Centro. Porém, muitos não se interessam ou não se envolvem. Muitos foram beneficiados pela melhora do Centro e não deram apoio à iniciativa, nem sequer perguntaram quem estava por trás dela.

AGÊNCIA DC NEWS – Por que acredita que isso acontece?
Calderon – O empresário do Centro caiu na crença de um liberalismo falso.

AGÊNCIA DC NEWS – Por quê?
Calderon – Porque não gosta quando o governo influencia nos negócios. Mas quando há problemas como o do Centro acredita que a responsabilidade é exclusiva do poder público. Num liberalismo correto, haveria mínima interferência da administração pública para resolver isso e ficaria a cargo do empresário e do povo a resolução do problema.

AGÊNCIA DC NEWS – Para você, qual deveria ser a postura do empresário?
Calderon – A classe precisa se unir e ter um olhar mais humanista para a sociedade, investindo em projetos que melhorem a vida das pessoas que vivem no Centro, como a questão da Cracolândia e a segurança. A união entre empresários e o poder público é essencial para a transformação do Centro em um espaço mais seguro, agradável e útil.

AGÊNCIA DC NEWS – E qual sua avaliação atual sobre o Centro?
Calderon – O Centro tem cura, e já está sendo curado. Mas algumas coisas que precisam ser feitas com mais rapidez. Ainda existem determinados lugares em que você passa e o som está muito alto, muitos vendedores ainda atuam sem licença e ainda há muitas pessoas em situação de rua desamparadas. Precisa haver um trabalho muito humano para lidar com isso.

AGÊNCIA DC NEWS – Por mais que muitas melhorias já estejam acontecendo, você acredita que ainda há uma visão negativa sobre a região? Como mudamos isso?
Calderon – O ecossistema tem de adotar uma visão de zeladoria da região. Uma gestão mais limpa e mais respeitosa com o Centro. Isso inclui o empresariado, a gestão pública e o povo.

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