ARTIGO, Adalberto Leister Filho: "Camisa ‘vermelha’ da Seleção vai muito além da política"

Uma image de notas de 20 reais
Nike mira na Geração Z e não no extremismo político
(Dall-E/Imagem gerada por IA)
  • Estratégia da Nike com uniforme 2, na verdade em tom rosa e preto, para a Copa do Mundo 2026 vai muito além das disputas eleitorais
  • Intenção da empresa com novidade é agradar o gosto da Geração Z, que já nasceu conectada e está antenada com inovações
Por Adalberto Leister Filho | colunista

A polêmica dos últimos dias no mercado esportivo foi a descoberta, pelo site britânico Footy Headlines, de que a CBF já teria aprovado um segundo uniforme – vermelho – para a Seleção Brasileira utilizar na Copa do Mundo de 2026. A notícia foi comemorada por um público mais identificado com a esquerda, e repudiada por políticos conservadores, gerando inclusive debates no Congresso Nacional e manifestações irritadas nas redes sociais.

Mas, pelo que apurei, naquele dia, em texto para a Máquina do Esporte, a história não é bem essa. Mesmo assim, continuará igualmente polêmica. Uma fonte compartilhou qual é o tom da nova vestimenta, embora não estivesse autorizado a divulgá-lo. Passei a tarefa de identificá-lo para a inteligência artificial que respondeu ser um “rosa brilhante” ou “hot pink”, que estará misturado ao preto, em um desenho abstrato.

GERAÇÃO Z – A intenção da Nike com o uniforme inusitado passa bem longe de ganhar mercado se aproveitando de polarizações políticas em ano de eleição presidencial. A marca de material esportivo busca, isso sim, agradar a Geração Z, o grande fetiche de qualquer empresa nos tempos atuais. É um público, que neste ano está representado pela faixa etária de 15 a 30 anos. São jovens que já nasceram conectados e se mantêm muito ativos nas redes sociais. Estão acostumados a buscar informação em tempo real, resultado da aceleração dos meios digitais e portáteis para a divulgação de notícias.

Escolhas do Editor

A chamada GenZ está antenada com inovações tecnológicas e tende a ter um comportamento mais liberal quanto aos costumes, como a aceitação de relacionamentos homoafetivos e a reivindicação por igualdade de gênero. Iniciantes no mercado de trabalho, defendem a diversidade, a inclusão e a sustentabilidade. Buscam atuar em empresas que se adequem a seus propósitos de vida, ambicionam o equilíbrio entre vida profissional e pessoal e prezam pela saúde mental, problema pouquíssimo relevante para gerações passadas.

MODA – Esse desejo por mudanças também é transposto ao seu jeito de vestir. A Geração Z está menos disposta a manter tradições, como a da camisa 2 da Seleção Brasileira, azul, que vem desde a Copa do Mundo de 1958, algo muito distante para essa geração, que pouco se lembra da última vez que o Brasil ganhou um Mundial, em 2002.

Foi o que mostraram pesquisas feitas pela Nike antes de submeter a sugestão do uniforme à CBF, por volta de março de 2024. O protótipo da camisa chegou ao presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, em outubro, quando foi obtido o aval.

Como é praxe na indústria de material esportivo, é necessária uma grande antecedência entre aprovação do design das peças para que haja tempo hábil para a produção em massa, capaz de abastecer os mercados globais quando houver seu lançamento efetivo, às vésperas da próxima Copa do Mundo. A intenção da empresa, aliás, é lançar uma linha completa de roupas nesse tom da camisa, com calça, bermuda e agasalhos, para usar no dia a dia, que atendam esse público novo que a marca tanto quer atingir.

VOLTOU ATRÁS? – Diante da polêmica dos últimos dias, a CBF divulgou nota negando ser oficial os uniformes vermelhos que apareceram na imprensa. A confederação também disse que a nova coleção de peças ainda será definida com a Nike. De fato, as simulações de camisas vermelhas, que pipocaram por diversos veículos estão um pouco distantes do que foi acordado pela entidade com sua fornecedora de material esportivo.

No entanto, a nova peça já foi, sim, aprovada com a marca do Swoosh, que renovou contrato até 2038 e busca lançar produtos que vendam o suficiente para cobrir os valores milionários do novo acordo. Se a CBF, diante das críticas de gerações anteriores à letra Z, vai voltar atrás em sua decisão, é algo que saberemos só em 2026. Se optar pela novidade, irá proporcionar à Nike um grande sucesso de vendas no mercado mundial.

ADALBERTO LEISTER FILHO
Diretor de conteúdo da Máquina do Esporte, professor de pós-graduação na Cásper Líbero, palestrante e autor de livros. É especialista em marketing esportivo e comunicação estratégica, com passagens por grandes veículos como Folha de S.Paulo, O Globo, Record, CNN Brasil e UOL. Atuou na liderança de equipes e na cobertura de eventos internacionais. Formado em Jornalismo e mestre em História pela USP

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