[AGÊNCIA DC NEWS]. O mercado formal de trabalho mantém ritmo de alta, com o melhor saldo para abril desde 2020, na nova série do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O saldo foi de 257,5 mil vagas formais, entre admissões (quase 2,3 milhões) e demissões (pouco mais de 2 milhões). Com isso, são 922,4 mil empregos com carteira criados no ano, no segundo melhor resultado para o período (965,8 mil de janeiro a abril de 2024). O estoque atinge 48,1 milhões, sendo 10,6 milhões no comércio&reparação de veículos – 7,3 milhões no comércio varejista. Na análise por faixa salarial, o maior saldo (178,6 mil vagas) foi de vagas com remuneração de R$ 1,5 mil a R$ 2,3 mil. Todas as categorias com pagamento superior a dois salários mínimos apresentaram redução ante março.
No recorte por setor, em abril, os serviços tiveram o maior número de vagas abertas: 136,1 mil, crescimento de 0,58%. Em seguida veio o comércio, com 48 mil postos de trabalho (+0,45%). A indústria abriu 35,1 mil (+0,39%) e a construção civil, 34,3 mil (+1,16%). A agropecuária teve saldo de 4 mil empregos formais (+0,22%). De janeiro a abril, os serviços lideram com 504,6 mil vagas, alta de 2,19%. Com quedas em janeiro e março e altas em fevereiro e abril, o comércio tem saldo acumulado de 36,5 mil (+0,35%).
Ainda segundo o Caged, o salário médio de admissão, em abril, foi de R$ 2.251,81, com aumento real (descontada a inflação) de 0,71% sobre março. Em relação a abril de 2024, alta de 0,28%. As contratações se concentram nas faixas de renda mais baixas. São 178,6 mil vagas no intervalo entre 1 e 1,5 salário mínimo, 60,4 mil abertas com até um mínimo e 25,3 mil de 1,5 mínimo a 2 mínimos. Em todas as faixas acima de dois salários mínimos (R$ 3.036), o saldo diminui.
Segundo Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, o resultado do Caged surpreendeu positivamente e confirmou “que o mercado de trabalho ainda mostra fôlego, especialmente puxado por serviços, comércio e construção.” No entanto, disse ele, “é preciso cautela ao interpretar os números como um sinal claro de aquecimento da economia.” Segundo o analista, a base de comparação “ainda reflete um período de estímulos passados e uma dinâmica de consumo que começa a dar sinais de esgotamento”. A manutenção desse ritmo, acrescentou, “vai depender cada vez mais da confiança do setor privado”. Para o CEO da Referência Capital, Pedro Ros, o resultado de abril é “robusto”, indicando ritmo de recuperação do mercado. “Esse avanço, no entanto, convive com um cenário fiscal desafiador e um PIB que deve crescer em ritmo mais moderado nos próximos trimestres.” Mas medidas de contenção de gastos ou elevação de tributos podem afetar a confiança empresarial e limitar a criação de vagas, “especialmente em setores mais sensíveis à demanda interna”.
O cenário inspira cautela, segundo o CEO do Grupo Studio, Carlos Braga Monteiro, porque o emprego cresce entre incertezas fiscais e desaceleração da economia. “Isso pode comprometer a capacidade de sustentação desse ritmo nos próximos meses”, afirmou. “A combinação de aperto orçamentário e juros elevados ainda impõe desafios relevantes à expansão do mercado de trabalho no segundo semestre.” Já Volei Eyng, CEO da gestora Multiplike, observa que o emprego cresce principalmente no setor de serviços, “justamente onde o Banco Central vê pressão inflacionária persistente, como divulgado na última ata do Copom”. O sinal é misto. De um lado, a economia mostra força; mas de outro, o avanço dos salários segue abaixo da inflação o que indica perda de poder de compra. Com ajuste fiscal e desaceleração, o cenário indica redução do ritmo de alta do emprego formal.