[AGÊNCIA DC NEWS]. Com base na última divulgação do Banco Central (BC) sobre as estatísticas monetárias e de crédito no país, a AGÊNCIA DC NEWS levantou um raio-x do comércio. Foi verificado que o saldo devido (ou crédito do sistema financeiro) do varejo nos últimos dez anos cresceu nominalmente 113%, de R$ 294,8 bilhões em abril de 2015 para R$ 628,4 bilhões em abril deste ano. Ao descontar a inflação do período, de 73,5%, representa um aumento real de 30%. “O cenário reflete não apenas a expansão do setor, mas também uma dependência no crédito para financiar as operações”, afirmou Claudio Felisoni, presidente do Ibevar e professor da FIA Business School.
Para ele, o cenário macroeconômico atual, em especial com a alta dos juros, pode amplificar as preocupações com o aumento do saldo devedor. “Essa manutenção dos juros altos por tempo estendido cria um ambiente desafiador para o comércio”, disse. “Principalmente em segmentos que dependem intensamente de financiamento como eletrodomésticos, veículos e outros produtos de maior valor agregado.” O Boletim Focus, que mostra a expectativa do mercado, espera queda da Selic apenas para 2026.
Felisoni também diz que o movimento coincide com o aumento generalizado do endividamento das famílias brasileiras. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) e divulgada em abril, durante o mês de março 77,1% das famílias relataram ter dívidas a vencer. É o maior patamar desde setembro do ano passado. Até o fim de 2025, a parcela endividada pode chegar a 79,6%. O conjunto de inadimplentes ficou em 28,6% e o percentual de famílias que não terão condições de pagar dívidas vencidas em 12,2%.
O economista explica que o comércio deve passar por um período de adaptação forçada. “A combinação de juros elevados, o endividamento e a seletividade creditícia exigirão mudanças estruturais nas estratégias de negócio”, afirmou. Segundo ele, o varejo de produtos de alto valor agregado terá dificuldades, principalmente devido às limitações e comprometimentos da renda e do crédito dos trabalhadores.
Nesse contexto, é esperado que o setor mude o foco para vendas à vista e de produtos de menor valor agregado. “A capacidade de adaptação determinará quais empresas conseguirão navegar com sucesso por meio desse ciclo prolongado de aperto monetário.”