Confira a íntegra do discurso do presidente Lula na Cúpula do Brics

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Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

São Paulo, 7 de julho de 2025 –

Os regimes multilaterais de clima e de saúde foram palco de grandes esforços de mobilização doSul Global.As três convenções da ONU adotadas aqui no Rio de Janeiro, em 1992, colocaram o desenvolvimentosustentável no centro dos debates sobre o futuro do planeta.Consagramos o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas.Mesmo sem o passivo histórico dos países desenvolvidos, os membros do BRICS não deixaram de fazera sua parte.Na Organização Mundial da Saúde e na Organização Mundial do Comércio, lutamos juntos peloacesso a medicamentos e vacinas essenciais para vencer a epidemia de HIV/Aids, a malária, atuberculose e outras mazelas que afetam, principalmente, os países mais vulneráveis.Nas Conferências de Cairo e Pequim, há três décadas, reafirmamos os direitos humanos de mulherese meninas, inclusive à saúde sexual e reprodutiva.Hoje, o negacionismo e o unilateralismo estão corroendo avanços do passado e sabotando nossofuturo.O aquecimento global ocorre em ritmo mais acelerado do que o previsto.As florestas tropicais estão sendo empurradas para seu ponto de não retorno.A Conferência de Nice, há poucas semanas, deixou claro que o oceano está febril.Uma década após o Acordo de Paris, faltam recursos para a transição justa e planejada, essencialpara a construção de um novo ciclo de prosperidade.Os países em desenvolvimento serão os mais impactados por perdas e danos.São também os que menos dispõem de meios para arcar com mitigação e adaptação.Justiça climática é apostar em ações comprometidas com o combate à fome e às desigualdadessocioambientais.Ao proteger, conservar, e restaurar nossos territórios, criamos também oportunidades para ascomunidades locais e povos indígenas.A geração de empregos decentes, a igualdade entre homens e mulheres e o fim do racismo em todas assuas esferas são imperativos.O Consenso dos Emirados Árabes Unidos, a partir do Balanço Global de avaliação de cumprimento doAcordo de Paris, deve ser a base de sustentação de nossas ações de implementação.Nosso desafio é alinhar ações para evitar ultrapassar 1,5 graus de aumento da temperatura doplaneta.Será preciso triplicar energias renováveis e duplicar a eficiência energética.É inadiável promover a transição justa e planejada para o fim do uso de combustíveis fósseis epara zerar o desmatamento.Faz parte desse desafio viabilizar os meios de implementação necessários, hoje estimados em 1.3trilhão de dólares, partindo dos 300 bilhões já acordados na COP29 no Azerbaijão.O Sul Global tem condições de liderar novo paradigma de desenvolvimento, sem repetir os erros dopassado.Não seremos simples fornecedores de matérias-primas.Precisamos acessar e desenvolver tecnologias que permitam participar de todas as etapas das cadeiasde valor.80% das emissões de carbono são produzidas por menos de 60 empresas.A maioria atua nos setores de petróleo, gás e cimento.Os incentivos dados pelo mercado vão na contramão da sustentabilidade.Em 2024, os 65 maiores bancos do mundo se comprometeram a conceder 869 bilhões de dólares para osetor de combustíveis fósseis.Taxonomias sustentáveis e unidades de contagem de carbono justas e inclusivas podem atrairinvestimentos produtivos verdes e justos.A Declaração-Quadro sobre Finanças Climáticas do BRICS, que adotamos hoje, apresenta fontesnecessárias e modelos alternativos para o financiamento climático.O Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que lançaremos na COP 30, irá remunerar os serviçosecossistêmicos prestados ao planeta.Meus amigos e minhas amigas,Apesar de ser um direito humano, bem público e motor de desenvolvimento, a saúde global também éprofundamente afetada pela pobreza e pelo unilateralismo.Recuperar o protagonismo da Organização Mundial da Saúde como foro legítimo para o enfrentamentoàs pandemias e na defesa da saúde dos povos é urgente.A recente adoção do Acordo de Pandemias é um passo nessa direção.O BRICS está apostando na ciência e na transferência de tecnologias para colocar a vida emprimeiro lugar.No Brasil e no mundo, a renda, a escolaridade, o gênero, a raça e o local de nascimento determinamquem adoece e quem morre.Muitas das doenças que matam milhares em nossos países, como o mal de Chagas e a cólera, játeriam sido erradicadas se atingissem o Norte Global.Implementar o ODS 3 saúde e bem-estar requer espaço fiscal.Não há direito à saúde sem investimento em saneamento básico, alimentação adequada,educação de qualidade, moradia digna, trabalho e renda.A Parceria pela Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas, que lançaremos hoje, propõesuperar essas desigualdades sistêmicas com ações voltadas para infraestrutura física e digital epara o fortalecimento de capacidades.A consolidação da Rede de Pesquisa de Tuberculose, com o importante apoio do Novo Banco deDesenvolvimento e da Organização Mundial da Saúde, bem como a cooperação regulatória emprodutos médicos são exemplos concretos do quanto já avançamos como grupo.Estamos liderando pelo exemplo.Cooperando e agindo com solidariedade em vez de indiferença.Colocando a dignidade humana no centro de nossas decisões.

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