Dólar fecha estável, a R$ 5,54, e Bolsa cai com temores de um conflito tarifário entre Brasil e EUA

Uma image de notas de 20 reais

Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após registrar uma forte alta pela manhã, motivada pelo receio de um conflito tarifário entre Brasil e Estados Unidos, o dólar encerrou a sessão desta sexta-feira (11) praticamente estável, com um leve avanço de 0,09%, cotado a R$ 5,546, impulsionado pela perspectiva de um possível acordo entre os países.

Na semana, a moeda norte-americana acumula uma alta de 2,24% frente ao real. No ano, porém, a divisa dos EUA registra um recuo de 10,24%.

Já a Bolsa encerrou com uma desvalorização de 0,40%, a 136.187 pontos, com a política comercial norte-americana ainda ocupando as atenções de agentes financeiros. Entre os piores desempenhos, estavam as ações da Localiza, que caíram 4,15%.

Nesta semana, a Bolsa fechou todos os pregões em queda, contabilizando uma perda de 3,64%. Em julho, já acumula um declínio de 1,96%, após quatro meses seguidos de alta, quando somou um ganho de 13%.

O anúncio da sobretaxa de 50% dos EUA sobre os produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na última quarta-feira (9), seguiu como pano de fundo dos movimentos do real nesta sessão.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a medida de Trump e disse que seu governo buscará negociar com os americanos, mas afirmou que o Brasil vai responder por meio da lei de reciprocidade caso seja necessário. A lei autoriza o governo a adotar medidas de retaliação de forma provisória durante o processo.

“Nós entendemos que o Brasil é um país que não tem contencioso com ninguém, nós não queremos brigar com ninguém, nós queremos negociar e o que nós queremos é que as decisões brasileiras sejam respeitadas. Portanto, se ele [Trump] ficar brincando de taxação, vai ser infinita essa taxação. Vamos chegar a milhões e milhões e milhões por cento de taxa. O que o Brasil não aceita é intromissão nas coisas do Brasil”, afirmou Lula em entrevista ao Jornal Nacional nesta quinta-feira (10).

A fala do presidente Lula seguiu na esteira da ameaça de Trump de uma retaliação à resposta brasileira. O republicano disse que, se o Brasil decidir aumentar suas tarifas, a porcentagem da retaliação será adicionada aos 50% já impostos pelos EUA.

Pela manhã, investidores demonstraram receio de uma escalada de um conflito tarifário entre os países. Na máxima do dia, às 10h55, o dólar chegou a avançar 0,92%, sendo cotado a R$ 5,591, diante das ameaças de ambos os lados.

Durante a tarde, porém, o dólar desacelerou alta e passou a rondar a estabilidade diante de uma sinalização de apaziguamento.

Isso porque, falando a repórteres ao deixar a Casa Branca para visitar o Estado do Texas, devastado pelas enchentes, Trump disse que vai conversar com o presidente Lula “talvez em algum momento”.

Em seguida, o dólar atingiu a mínima cotação do dia, às 16h19, a R$ 5,540, mesmo patamar de fechamento da quinta-feira (10).

Segundo agentes do mercado, um conflito entre os países pode aumentar a cotação do dólar, pressionar a inflação, elevar a incerteza e a insegurança para os investidores estrangeiros e gerar efeitos negativos para diversos setores da economia brasileira.

“É bem provável que nós vamos ver agora o dólar novamente mais estressado, em patamares maiores”, afirmou Danilo Coelho, economista e especialista em investimentos CEA.

“Trump deu como motivos alguns fatores políticos, como a questão de insegurança jurídica, do ativismo judicial, e isso acaba assustando um pouco mais os investidores. Então isso pode afugentar muito mais os investidores estrangeiros e gerar um impacto negativo em investimento direto”, completou Coelho.

Na perspectiva de Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, o setor industrial e de materiais, bem como as empresas de bens industrializados e de commodities podem sentir mais os efeitos da taxação, com reflexos na inflação e na elevação ou manutenção da Selic em patamares elevados.

“A magnitude do impacto é grande. Do ponto de vista macroeconômico, há risco de aceleração da inflação no Brasil -por elevação de insumos importados e queda da oferta exportável-, podendo pressionar o Banco Central a elevar ainda mais os juros”, disse Patzlaff.

Por outro lado, o Ministério da Fazenda apontou nesta sexta-feira que o impacto das tarifas contra o Brasil, se efetivadas, devem ser concentradas em alguns setores específicos e influenciar pouco a estimativa de crescimento em 2025, segundo boletim da SPE (Secretaria de Política Econômica).

A China criticou os EUA por tentativa de interferência no Brasil. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Mao Ning, afirmou nesta sexta-feira, que “tarifas não devem se tornar ferramentas de coerção, intimidação ou interferência nos assuntos internos de outros países”.

Mao acrescentou que “a igualdade soberana e a não interferência em assuntos internos são princípios importantes da Carta das Nações Unidas e também normas básicas das relações internacionais”.

Para além do Brasil, Trump fez novas ameaças tarifárias na véspera a outros países.

Em carta enviada ao primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, Trump afirmou que vai impor uma taxa de 35% sobre os produtos canadenses a partir de 1º de agosto, citando sua insatisfação com o suposto fluxo de fentanil que entra nos EUA a partir do vizinho ao norte.

O anúncio pegou os mercados de surpresa, uma vez que o governo canadense vem tendo discussões comerciais com Washington há meses, o que fornecia esperanças de que os canadenses poderiam receber uma taxa menor.

Em outro sinal negativo, Trump sinalizou que a tarifa básica cobrada sobre países que não receberam taxas específicas, atualmente em 10%, pode ser elevada para 15% ou 20%.

Com os comentários de Trump, os mercados retomavam as especulações de que o prazo de 1º de agosto estipulado por Trump para o fechamento de acordos comerciais possa, na verdade, ser o início de uma guerra comercial total, o que fomentava a fuga de ativos de risco.

“A elevação das tensões, decorrente das ameaças de tarifas de Trump, resultou em um aumento da volatilidade nos mercados, abrangendo câmbio e mercados de capitais”, disse Marcio Riauba, head da mesa de operações da StoneX Banco de Câmbio.

“Essa dinâmica é impulsionada pelas declarações de Trump sobre a possível aplicação de tarifas gerais de 15% a 20% sobre a maioria dos parceiros comerciais”, completou.

O indicador de volatilidade de Wall Street VIX, o “índice do medo”, registrava uma alta de 3,93%, a 16,40, ao fim do pregão, o que indica um mercado com maior volatilidade e menor confiança dos investidores no mercado.

Os investidores também avaliaram novos dados econômicos no Brasil. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que o volume de serviços cresceu pelo quarto mês consecutivo em maio, registrando uma alta de 0,1%.

O resultado ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de ganho de 0,2% no mês. Apesar disso, o dado mostra resiliência em meio à expectativa de desaceleração da economia.

Já o Ministério da Fazenda revisou para cima a previsão para o crescimento do país neste ano, passando a ver o PIB (Produto Interno Bruto) em 2,5%, contra previsão de 2,4% feita em maio. Para 2026, a estimativa passou de 2,5% para 2,4%.

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