FLORIANÓPOLIS, SC (FOLHAPRESS) – O setor de pescados afirma que suspenderá as exportações para os Estados Unidos dentro de uma semana, devido à sobretaxa de 50% anunciada sobre as importações de produtos brasileiros. Com cerca de 70% da produção nacional destinada ao mercado americano, a medida pode tornar o setor inviável até a abertura de novos mercados.
Durante reunião com representantes dos setores afetados pela possível sobretaxa e ministros, incluindo o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, o governo orientou as empresas brasileiras a mobilizarem seus compradores nos EUA para pressionar o governo americano. Sem apresentar medidas concretas, Alckmin sugeriu ainda que o setor pesqueiro busque novos mercados.
Eduardo Lobo, presidente da Abipesca (Associação Brasileira da Indústria da Pesca), afirma que o setor tem pressionado o governo a negociar o adiamento da sobretaxa por, no mínimo, 90 dias. “Ninguém consegue abrir um novo mercado da noite para o dia. É uma relação complexa, que envolve hábitos alimentares, tipo de corte, produto e embalagem”, diz.
Em meio à pressão do setor, o governo tentou conter a tensão afirmando que, até o momento, não recebeu nenhuma notificação oficial sobre a tarifa. A única manifestação conhecida é a publicação do presidente Donald Trump em uma rede social, na última quarta-feira (9), anunciando a sobretaxa.
A associação também cobrou do governo a retomada das negociações para reabrir o mercado comum europeu, fechado ao pescado brasileiro desde 2017. “Apesar da boa condução e dos encaminhamentos, Alckmin não se comprometeu a renegociar com a União Europeia para reabrir o mercado de pescados”, afirma.
Segundo o presidente, 70% da produção nacional de pescados é destinada ao mercado americano. Com a ameaça de sobretaxa, ele estima que até 3.500 embarcações devem ser paralisadas, já que não há sentido em produzir ou processar peixe sem destino certo. Mais de mil toneladas de pescado já estão estocados em frigoríficos, à espera de uma solução, o que representa um valor estimado em cerca de US$ 50 milhões.
“Não há possibilidade de redirecionar a produção para o mercado interno, pois este está saturado e não tem capacidade de absorver a variedade e o volume destinados à exportação”, diz.
Para Rafael Barata, diretor de comércio exterior da Frescatto, em meio à busca por novos mercados, a empresa ainda não sabe como lidar com o produto armazenado, que já está pronto para exportação.
“É uma decisão difícil, o tarifaço nos pegou de surpresa. Se enviarmos nossos produtos por embarcações, eles devem chegar após o dia 1º e serão taxados. Estamos avaliando a possibilidade de exportar nossa produção via transporte aéreo”, afirma.
A exportação de pescados por via aérea é comum na logística de pescados frescos, mas, segundo ele, seria apenas uma solução pontual que não resolverá o problema, pois não trará lucro para a empresa e servirá mais para liberar espaço e gerar fluxo de caixa.
O setor de exportação de tilápia será fortemente afetado pela possível sobretaxa dos Estados Unidos, afirma Francisco Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR). A tilápia é o peixe mais exportado pelo Brasil, com 90% das vendas externas destinadas ao mercado americano. O Brasil é o segundo maior fornecedor de tilápia fresca aos EUA, atrás apenas da Colômbia.
Os filés de tilápia são embarcados por aviões com capacidade entre 8 e 24 toneladas, dependendo da aeronave. As exportações seguem normalmente até o final deste mês, mas as vendas de filé congelado -que dependem do transporte marítimo- já foram suspensas. “Com o tarifaço, o Brasil está fora do jogo”, afirma Medeiros.
Segundo ele, caso a tarifa seja mantida, o setor deverá redirecionar os produtos para o mercado interno, o que pode pressionar o preço da tilápia. Atualmente, apenas 3% a 5% da produção nacional é exportada, e o restante abastece o consumo doméstico.”