Recentemente participei de um evento e assisti à uma palestra com alguns CEOs. Duas mulheres incríveis estavam no palco – altamente capacitadas, reconhecidas pela excelência em gestão. Ao lado delas, um CEO que dominou a oratória e virou assunto entre os participantes. Até eu virei fã. Conheço bem essas mulheres. Elas se expressaram com competência, mas senti que hesitaram em ousar um pouco mais.
Desde então fiquei refletindo sobre isso. Eu mesma cresci ouvindo que não deveria falar alto – influência da etiqueta oriental dos meus ancestrais. Tive de me superar muitas vezes para entender que eu podia, sim, me posicionar. E não estou dizendo que mulheres devem falar mais alto que os homens em reuniões (às vezes até temos), mas trago aqui um ponto importante: nosso blueprint silencioso, herdado culturalmente, pode limitar nossa visibilidade. Pesquisas mostram que, no mundo corporativo, quando falamos com firmeza, somos rotuladas como histéricas ou descontroladas. Mas essa conversa precisa ir além.
Ainda há quem pense que basta fazer o seu melhor para ser reconhecida. Ledo engano. Excelência é essencial – mas não suficiente em um universo corporativo estruturado por homens. Segundo a pesquisa Panorama Mulheres 2025, Realizada pelo Instituto Talenses Group em parceria com o Núcleo de Estudos de Gênero do Insper, apenas 17,4% das empresas brasileiras têm uma mulher na presidência, e esse número segue praticamente estagnado. Mais alarmante ainda: 58,9% das empresas não têm nenhuma mulher na vice-presidência, e 32,5% não contam com diretoras. Esses dados revelam barreiras estruturais que persistem, apesar da competência comprovada.
Então, eu te pergunto, mulher: você tem redes de apoio no corporativo? Está inserida nos círculos de influência e poder? Sabe identificar e enfrentar os vieses inconscientes que diminuem sua atuação? A verdade é que precisamos ser politicamente hábeis. Dá preguiça só de pensar, eu sei. Mas, se queremos deixar legados para nossas filhas e netas, precisamos ocupar espaços de decisão. Só muda o sistema quem assina com a caneta.
Recentemente, conseguimos instalar um espaço de amamentação na feira corporativa NaturalTech, graças a redes de apoio e influência. Parece simples, mas ouvimos várias vezes: “quem levaria um bebê para uma feira corporativa?”. O espaço fez sucesso! Mães empresárias puderam participar com tranquilidade, focadas em suas atividades e, ao mesmo tempo, conectadas aos seus filhos. Uma iniciativa simples, mas com impacto profundo.
Esse é o poder da liderança feminina: transformar o ambiente para que todos tenham voz e acolhimento. A diversidade fortalece decisões, amplia ideias e cria empresas mais inovadoras. Portanto, quero deixar um recado: você pode ser o que quiser. Mas é urgente que mais mulheres liderem e redirecionem os caminhos. Os homens também têm papel essencial nisso – como aliados conscientes, que reconhecem o valor da diversidade e sabem escutar.
Está na hora de consertar o degrau quebrado da jornada feminina. E construir, juntos, um mundo corporativo mais justo, inclusivo e produtivo para todos.
SANDRA TAKATA
Jornalista, presidente do Instituto Mulheres do Varejo, LinkedIn Top Voice, palestrante, coordenadora e coautora do livro Mulheres do Varejo – Mulheres que Constroem a História do Varejo no Brasil.