SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar rondava a estabilidade e a Bolsa registrava uma leve queda nesta quinta-feira (17), com os investidores reagindo à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal, de retomar a vigência da maior parte do decreto do governo sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), com incertezas comerciais também no radar.
Além disso, o mercado aguarda novas definições sobre a sobretaxa de 50% aplicada pelo governo Donald Trump ao Brasil a partir de 1º de agosto.
Às 13h44, a moeda norte-americana subia 0,10%, cotada a R$ 5,566, tendo ultrapassado o patamar de R$ 5,60 na máxima até aqui. Já a Bolsa recuava 0,20%, a 135.236 pontos, no mesmo horário.
O mercado nacional iniciou a sessão com a notícia de que Moraes validou nesta quarta-feira (16) o decreto do presidente Lula (PT) que aumentou as alíquotas do IOF. A decisão anulou apenas a tributação sobre parte da medida do governo, que alterava a tributação sobre o chamado risco sacado.
A decisão de Moraes veio depois que uma audiência de reconciliação promovida pelo STF na terça entre representantes do Executivo e do Legislativo terminou sem acordo, com os dois lados optando por aguardar o veredicto do ministro, o que gerou enorme incerteza no pregão anterior.
O retorno das cobranças maiores do IOF, que já enfrentavam resistência entre agentes do mercado, a partir de uma resolução judicial, e não negociada entre as partes, gerava aversão a ativos mais arriscados no Brasil, com investidores buscando dólares.
“Tem uma força vindo por trás [do cenário externo] que é o dólar reagindo à volta do IOF nas operações de câmbio. Isso acaba dando uma pressão para o dólar valorizar sobre o real”, disse Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
Ainda na cena doméstica, prevalece a incerteza em relação à ameaça do presidente dos EUA, Donald Trump, de impor uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros. O mercado aguarda mais detalhes sobre a resposta do governo do Brasil e monitora a perspectiva de negociações entre os dois países.
Na mais recente atualização sobre o tema, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, defendeu que o governo faça uma força-tarefa para encontrar os “pontos que estão pegando” na negociação para que o tema seja resolvido o mais rápido possível.
As incertezas sobre o comércio também trabalhavam contra a moeda brasileira.
Na terça, o governo Lula enviou uma carta manifestando indignação e cobrando resposta dos Estados Unidos acerca da sobretaxa anunciada. O documento é assinado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin (PSB), e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
O texto é endereçado ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer.
Do lado dos EUA, entretanto, vieram mais ameaças. O representante comercial Jamieson Greer disse que iniciou uma investigação sobre práticas comerciais “injustas” do Brasil. O processo decidirá se o tratamento dado pelo país ao comércio digital é “discriminatório” para o comércio dos EUA.
Na quarta, Alckmin realizou o segundo dia de reuniões com representantes da indústria e do agronegócio, com discussões sobre os impactos e reações dos setores diante da sobretaxa
O vice-presidente também afirmou que a prioridade do governo Lula é reverter a sobretaxa imposta pelos Estados Unidos antes que ela comece a valer, mas disse que pode pedir a prorrogação deste prazo, se for necessário.
Na frente dos dados, investidores analisam a notícia de que o FMI (Fundo Monetário Internacional) manteve a previsão de crescimento do Brasil neste ano para 2,3%, de acordo com comunicado divulgado pelo órgão nesta quinta. Até 2030, o crescimento deve chegar a 2,5% no ano.
No cenário externo, a força do dólar também ajudava a impulsionar a divisa dos EUA no Brasil, principalmente depois que dados desta quinta-feira reforçaram a percepção de resiliência da economia norte-americana.
Números mostraram que as vendas no varejo dos EUA cresceram bem mais do que o esperado em junho, com uma alta de 0,6% na base mensal, ante queda de 0,9% no mês anterior e expectativa de um ganho ligeiro de 0,1% em pesquisa da Reuters.
Outro relatório informou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego caíram para 221 mil na semana encerrada em 12 de julho, ante 228 mil pedidos na semana anterior e projeção de aumento para 235 mi.
Os resultados fortes, de forma geral, passavam a percepção de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) terá um espaço reduzido para cortar a taxa de juros neste ano, apesar da pressão de Trump por cortes imediatos, o que acaba impulsionando o dólar.
Na quarta-feira (16), o dólar fechou estável e a Bolsa avançou levemente, com investidores cautelosos diante dos rumores sobre possível demissão do presidente do Fed, Jerome Powell, das incertezas na guerra tarifária dos EUA e do impasse em torno do IOF.
A moeda norte-americana registrou uma valorização tímida de 0,04%, cotada a R$ 5,560. No ano, porém, a divisa dos EUA acumula uma queda de 10,27% ante ao real.
Já a Bolsa encerrou com uma leve alta de 0,19%, a 135.510 pontos. As ações da Weg, Ambev e Vale estavam entre os melhores desempenhos, enquanto os papeis da Embraer limitaram um avanço maior do índice devido à tensão comercial com os EUA.