RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – As negociações para a compra de fatia da Braskem pelo empresário Nelson Tanure receberam sinal verde do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) nesta quarta-feira (16). Mas, embora conte com a simpatia do governo, o negócio depende de aval de bancos credores da Novonor (ex-Odebrecht).
A proposta de Tanure pelas ações da Novonor na Braskem foi confirmada pela empresa ao mercado no dia 26 de maio, com três principais condicionantes: a aprovação pelo Cade, o cumprimento do acordo de acionistas da petroquímica e negociações com os bancos credores.
A Folha de S.Paulo apurou que a operação é bem vista pelo governo e pela Petrobras, por manter o controle da companhia no país após duas negociações frustradas com empresas estrangeiras, a árabe Adnoc e a holandesa LyondellBasell.
A estatal tem repetido que pretende ampliar seu poder na gestão da empresa sem reestatizá-la. Fontes ouvidas pela reportagem avaliam que essa missão se torna mais fácil se o comprador da fatia da Novonor não for uma companhia petroquímica, o que é o caso de Tanure.
Por outro lado, o empresário é conhecido pela gestão financeira agressiva de empresas em dificuldades financeiras -como a Braskem– o que pode ser conflitante com a visão expansionista da estatal para o setor petroquímico.
Sexta maior petroquímica do mundo, com operações em dez países, a Braskem vem sofrendo com o ciclo de baixa de preços das matérias-primas petroquímicas e com a invasão de produtos americanos ao mercado brasileiro.
A empresa vem operando com 30% de ociosidade em seu parque fabril e, além disso, enfrenta grandes incertezas com o passivo do desastre em Maceió, provocado pelo afundamento de minas subterrâneas de sal-gema.
No início de julho, a Petrobras anunciou uma nova rodada de investimentos no setor, que incluem a produção de matérias-primas a partir do gás natural no Complexo Boaventura, o antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), e expansão de uma unidade da Braskem no Rio de Janeiro.
Na ocasião, a presidente da estatal, Magda Chambriard, disse que vinha acompanhando de perto as negociações sobre a petroquímica. Repetiu que quer mais poder na companhia, mas não pretende assumir o controle acionário.
“Em relação à Braskem, temos de resolver uma questão societária, com certeza. O que a gente não pode querer é que essa questão venha a destruir o valor da sexta maior empresa petroquímica do mundo”, afirmou a executiva.
A estatal tem direito de preferência na compra de ações, mas fontes dizem que a gestão atual prefere negociar um novo acordo de acionistas que lhe garanta mais influência. Hoje, a Novonor indica ao menos 6 dos 11 membros do conselho, além do presidente e do diretor financeiro.
A Petrobras indica ao menos quatro conselheiros e o diretor de Investimentos e Portfólio. Os demais diretores são indicados pelo presidente.
As negociações com a estatal devem ser duras, mas nesse caso Tanure encontra simpatia do governo. Fontes do mercado veem maior dificuldade nas conversas com os bancos credores, que têm ações da Braskem em garantia para dívida de R$ 15 bilhões da Novonor.
A Novonor tem 38,3% do capital total da petroquímica, mas controla a companhia com 50,1% das ações com direito a voto. A Petrobras tem 36,1% do capital total e 47% das ações com direito a voto. Outros 25,5% do capital total estão com investidores minoritários.
Para assumir o controle da companhia, Tanure teria que convencer Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), cujo presidente, Aloizio Mercadante, teria sido escalado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para mediar as conversas.
O empresário busca financiamento para refinanciar a dívida, mas sugestões sobre alongamento de prazo e o baixo custo das ações da companhia nesse momento são obstáculos.
Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, Tanure não quis dar entrevista. O BNDES disse que não comenta questões societárias.