SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Depois de atingir máximas históricas, o preço do café moído começa a cair nos supermercados da capital paulista. A redução chegou a 0,18% na segunda semana de julho em São Paulo, segundo o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), após 16 meses de alta.
O produto também ajudou a desacelerar o valor da cesta básica no Sudeste em junho, com queda de 0,52% no mês, de acordo com a Abras (Associação Brasileira de Supermercados).
O quilo, no entanto, ainda pesa no bolso e pode custar cerca de R$ 80, conforme a marca. Em oito supermercados visitados pela reportagem nas zonas sul e central de SP nesta quarta-feira (23), o valor médio do pacote de 500 g era vendido por R$ 37,21, e o de 250 g, por R$ 20,91.
Em promoções, era possível comprar meio quilo por R$ 27,99. No local onde estava mais caro, o pacote chegava a R$ 44,99.
Segundo especialistas, o consumidor deve demorar até três meses para sentir queda mais expressiva no valor do produto, que tem alta acumulada de 86,53% em 12 meses e de 45,86% desde janeiro.
“No atacado, o preço do café já vem caindo desde março. Esses preços começam a chegar agora no varejo. A tendência é que esse movimento de queda continue ao longo do ano, haja vista a maior disponibilidade do produto nesta safra”, afirma Guilherme Moreira, coordenador do IPC da Fipe.
Em abril, a Folha de S.Paulo encontrou, nas mesmas lojas, café com preços médios de R$ 33,87, nos pacotes de 500 g, e de R$ 18,89, nos de 250 g.
“O que nós notamos primeiro foi uma desaceleração da alta. Na sequência, a tendência é um processo de queda”, explica Felipe Queiroz, economista-chefe da Apas (Associação Paulista de Supermercados).
Para Queiroz, devido à concorrência no setor supermercadista, o repasse da redução nos valores não deve demorar a chegar com mais força aos consumidores. “Nós acreditamos que, nos próximos três meses, essa queda já começa a ser observada com uma consistência muito maior”, afirma.
O vice-presidente da Abras, Marcio Milan, também acredita em uma tendência de baixa para os próximos meses, mas diz que ainda é difícil sinalizar o quanto isso pode afetar na cesta básica.
“Até porque, não só o café, mas outros itens já tiveram uma baixa significativa, como o arroz, o feijão, o olho de soja e a própria carne bovina”, diz. Segundo a entidade, 18 marcas de café compõem 80% do consumo no Brasil.
Os consumidores passam um bom tempo comparando os preços dos pacotes nos supermercados, mas não deixam de consumir.
“As famílias não deixaram de consumir café. Mudaram a quantidade, a qualidade, mas o consumo se manteve”, diz Queiroz.
No Carrefour Express próximo à estação Saúde-Ultrafarma, da linha 1-Azul do metrô, as grades antifurto instaladas durante o período de inflação ainda prendiam os pacotes nas prateleiras na quarta (23). A média de preços no local era de R$ 39,76 pelo pacote de 500 g e de R$ 21,22 no de 250 g.
Procurados, os supermercados Carrefour, Dia, St. Marchè, Vila das Frutas, Sonda, Master e o Grupo Pão de Açúcar (que inclui o Extra) não quiseram comentar sobre a possível queda de preços.
BARES E RESTAURANTES ESPERAM QUEDA
O setor de bares e restaurantes ainda espera uma queda mais expressiva no preço para comemorar. Joaquim Saraiva, líder executivo da Abrasel-SP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo), diz que os estabelecimentos vendem o “cafezinho” depois do almoço a um valor inferior do que a inflação registrada no período.
“A alta do café nos bares e restaurantes foi em torno de 30%, bem menor que os mais de 80% [geral] nos últimos 12 meses”, afirma.
Saraiva diz que um café espresso gourmet custa hoje, em média, R$ 10. Se os estabelecimentos acompanhassem a alta, segundo ele, os preços estariam entre R$ 15 e R$ 18.
“Essa queda de 0,18% não é significativa para nós, porque não mexe em praticamente em nada, mexe em centavos. Não chega nem ao nosso reajuste. A baixa só vai começar a ser significativa a partir dos 10%.”
Segundo a Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), o aumento de preços do café foi pressionado pela baixa produtividade da safra anterior e pela alta do consumo.
“Desde maio, com a entrada da nova safra e maior estabilidade nas condições de mercado, os preços começaram a ceder. Assim, o cenário atual representa uma correção natural do mercado, e não necessariamente uma tendência de queda sustentada”, afirma Celírio Inácio, diretor-executivo da Abic.
Entre os fatores para a redução estão o câmbio mais estável, a retomada gradual das reservas internacionais e a produção alta no Brasil. Um ponto positivo apontado pelos especialistas é o mercado de café conilon, também chamado de robusta, no Espírito Santo, mais voltado para a exportação, que teve boa safra.
O mercado produtor já registra uma queda nos preços do robusta desde março, segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo). Só em junho, os preços baixaram 18,4% e atingiram o menor valor em 12 meses.
Já o arábica caiu 14,4% em junho e chegou a custar, no último dia do mês, R$ 1.834,36 a saca com 60 quilos (R$ 30,57/kg). Em fevereiro, o valor chegou a R$ 2.738,95 (R$ 45,65/kg).
TARIFAÇO DE TRUMP PODE AFETAR O PREÇO?
Para o Cepea, o anúncio de aumento das tarifas de importação dos Estados Unidos para o café brasileiro de 10% para 50% intensificou a instabilidade nos valores externos e internos do grão.
“O Brasil é origem de cerca de 25% das importações norte-americanas de café, e uma tarifa de 50% se configura como uma grande desvantagem ao produto nacional e gera incertezas quanto ao escoamento da safra brasileira”, afirma o instituto.
“No curto prazo, apesar de a safra 2024/2025 ter assegurado boa capitalização aos produtores, a comercialização da safra 2025/2026 avança lentamente”, acrescenta o órgão.
“Os produtores têm vendido volumes mínimos para manter o fluxo de caixa, postergando negociações maiores à espera de definições sobre o cenário tarifário. Até lá, as oscilações nos mercados externos e, por conseguinte, interno devem persistir.”
Para a Abic, porém, não haverá um impacto imediato nos preços praticados no mercado interno, e a medida deverá passar por negociações. “O consumidor norte-americano é tradicionalmente fiel ao café, e os importadores tendem a buscar formas de absorver parte do impacto, evitando repasses abruptos”, diz o diretor-executivo.
Sobre os possíveis desdobramentos ao consumidor brasileiro, o coordenador na Fipe acredita que ainda é incerto. “A tendência de queda de preços não deve se alterar, podendo até cair ainda mais devido a maior oferta do café tanto da safra quanto de eventuais reduções de exportações brasileiras”, afirma Moreira.