Itaú: juro começará a cair em 2026. Mas tarifaço pode acelerar enfraquecimento da economia brasileira

Uma image de notas de 20 reais
Depois de levar os juros a 15% ao ano, Comitê do Banco Central deve iniciar cortes apenas em 2026
(Rafa Nedermeyer/Agência Brasil)
  • Segundo o economista-chefe do banco, Mario Mesquita, mesmo com inflação acima da meta, "efeitos defasados" da política monetária" se mantêm
  • Copom volta a se reunir nesta semana e deve manter a taxa em 15%, depois de sete altas seguidas. Medidas dos EUA acentuam incerteza
Por Vitor Nuzzi Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

[AGÊNCIA DC NEWS]. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central abre nesta terça-feira (29) sua quinta reunião do ano, sob expectativa geral de manutenção da taxa básica de juros (Selic), após sete altas seguidas. O Itaú mantém sua previsão de que o ciclo de cortes começará apenas no primeiro trimestre do ano que vem. Mas com ressalvas: “Uma valorização mais expressiva do câmbio ou uma desaceleração mais acentuada da atividade poderiam antecipar esse primeiro movimento para o final de 2025”, afirmou o economista-chefe do banco, Mario Mesquita, em relatório. Ele cita o anunciado tarifaço do governo dos Estados Unidos, que até segunda ordem entra em vigor na próxima sexta (1º), e seus efeitos para o Brasil. “A efetivação das tarifas recentemente anunciadas pelo governo americano reduz o espaço para uma apreciação da moeda, apesar do ambiente global de dólar fraco. Por outro lado, essas tarifas aumentam a probabilidade de um enfraquecimento mais acelerado da economia.”

O Copom tem mais três reuniões neste ano: 16 e 17 de setembro, 4 e 5 de novembro, além de 9 e 10 de dezembro. O primeiro encontro de 2026 será realizado em 27 e 28 de janeiro. A Selic está em 15% ao ano. O boletim Focus, do BC (veja abaixo), divulgado nesta segunda (28), ratifica a projeção de manutenção há cinco semanas – e há nove aposta em inflação (IPCA) um pouco menor, mas ainda acima do teto da meta.

Para o economista-chefe do Itaú, na decisão a ser anunciada na quarta-feira (30) o Copom optará de forma unânime pela manutenção dos juros, encerrando o ciclo de altas iniciado em setembro do ano passado. “A decisão deve refletir a avaliação de que, apesar das projeções de inflação ainda acima da meta, os efeitos defasados da política monetária seguem em curso”, afirmou em relatório. Mas, segundo ele, “a elevada incerteza global demanda cautela adicional – especialmente em um contexto de nova escalada tarifária, desta vez envolvendo diretamente o Brasil”. Por enquanto, disse Mesquita, houve “melhora marginal” do cenário: “A inflação corrente mostrou sinais qualitativos positivos, as expectativas de 12 meses e implícitas recuaram, e o real teve leve apreciação, mesmo diante de ruídos fiscais e tarifários”. Além disso, a atividade econômica segue em desaceleração gradual, “com sinais mais claros de inflexão nos segmentos sensíveis ao crédito”. Apesar de um mercado de trabalho que permanece “resiliente”.

Escolhas do Editor

Ao analisar indicadores divulgados desde a reunião mais recente do Copom, em 17/18 de junho, o Itaú observa que no campo da inflação “os dados trouxeram surpresas em ambas as direções”. O IPCA-15 (IBGE) e o IGP-M (FGV), por exemplo, vieram abaixo do esperado em junho – “o primeiro refletindo uma dinâmica mais benigna nos serviços subjacentes, e o segundo influenciado pela queda nos preços agrícolas”. O IGP-M caiu 1,67% no mês passado, acumulando -0,94% no ano e +4,39% em 12 meses.

O IPCA-15 já em julho (0,33%) ficou acima da mediana (0,31%), com pressão, entre outros itens, dos preços de alimentação fora do domicílio. “Do lado da atividade, os indicadores recentes seguem corroborando o cenário de desaceleração gradual da economia a partir do segundo trimestre.” O Itaú cita produção industrial (-0,5% em maio), vendas no varejo restrito (-0,2%) e volume real de serviços (0,1%). “O mercado de trabalho, por sua vez, apresentou sinais mistos: o Caged mostrou criação de empregos formais abaixo do esperado em maio, enquanto a taxa de desemprego recuou 0,6 ponto percentual no mesmo período.”

“A ligeira queda nas expectativas de inflação para 2025 e 2026 é um bom sinal, mas insuficiente para muar o jogo no curto prazo”, disse o CEO da Holding Grupo X, Jorge Kotz. “A Selic deve seguir em patamares elevados até 2026, o que pressiona o acesso ao crédito, principalmente para pequenas e médias empresas, que dependem de capital de giro para operar.” Para ele, isso exigirá nova cultura de gestão nas empresas, que deve mais estar preparadas “para lidar com finanças restritivas” e menos dependentes de “soluções tradicionais”.

A semana também terá decisão sobre os juros nos Estados Unidos. A expectativa é de que o Federal Reserve (Fed) mantenha a taxa no intervalo entre 4,25% e 4,5% ao ano. No comunicado mais recente, em junho, o comitê avaliou que, de acordo com indicadores, a atividade econômica continuou a crescer de forma consistente. “A taxa de desemprego permanece baixa e as condições do mercado de trabalho permanecem sólidas. A inflação permanece relativamente elevada.” Subiu 0,3% em junho e soma 2,7% em 12 meses.

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