ARTIGO, por Roberto Valverde: “O tarifaço inconsciente do empresário brasileiro”

Uma image de notas de 20 reais
"Agro, manufatura e tech precisam de frente única. Lobby não é palavrão, é colete à prova de tarifa"
(Reuters/Folhapress)
  • "Desde a Carta Régia de 1808, quando Dom João só liberou manufatura que não competisse com Portugal, nós terceirizamos estratégia comercial"
  • "Hora de pressionar Congresso, mapear correntes produtivas que merecem defesa e trocar selfie em fórum por estratégia em bloco"
Por Roberto Valverde | colunista Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

Donald Trump acordou em Turnberry, tuitou “Brazil, wake up” e disparou um míssil de 50% sobre cada contêiner verde-amarelo que cruza a alfândega dos EUA – e não importa se ele adiou o prazo e criou centenas de exceções. Para muito CEO tupiniquim, foi só mais um breaking-news para comentar no espresso – irônico, já que um terço do café americano nasce aqui em Vassouras. O susto revela algo pior que a taxação: o nosso sono REM corporativo enquanto políticas públicas lá fora viram guilhotina sobre a margem aqui.

Desde a Carta Régia de 1808, quando Dom João só liberou manufatura que não competisse com Portugal, nós terceirizamos estratégia comercial. Trocávamos pau-brasil por espelho, açúcar por tarifa preferencial, e seguimos no modo “plantation 5G”: produzimos commodities premium e importamos valor agregado com ágio. Agora, séculos depois, Washington nos aplica o mesmo remédio colonial, só que com código de barras e lobby – e o empresariado continua achando que negociar tarifa é assunto “de Brasília”, não de balanço.

Quer métrica? Os EUA mantêm superavit de US$ 7,4 bi sobre o Brasil mesmo antes da nova tarifa. Ou seja: levamos canetaço de quem já ganha no jogo. Pagar 50 % extra no porto de Charleston é a versão 2025 de levar “dízimo” na Casa Grande. A tarifa virou lipoaspiração fiscal: dói no exportador, emagrece o lucro e, ainda assim, promete “corpo novo” para o eleitor americano. Se não reagirmos, a conta chega em Real – e em real.

Escolhas do Editor

Hora de fazermos nosso miniTrump interno: pressionar Congresso, mapear correntes produtivas que merecem defesa e trocar selfie em fórum por estratégia em bloco. Agronegócio, manufatura e tech precisam de frente única – não de releases indignados. Lobby não é palavrão; é colete à prova de tarifa. Se não pautarmos a conversa, seremos pautados.

Chute final: em vez de discutir se Lula ou Bolsonaro errou, pergunte quanto do seu EBITDA está em risco quando a etiqueta “Made in Brazil” custar 50 % a mais. Se isso não acordar, nada acorda. 

Ação da semana: ligue para sua associação setorial e cobre plano de guerra. Sem chororô, porque tarifa não tem dó – tem alíquota.

ROBERTO VALVERDE
Conselheiro, M&A advisor e empreendedor. Após exit da empresa de mobilidade urbana que fundou, a Master Park, vendida para o fundo de Private Equity Pátria, atua como advisor de M&A em operações de venda e já transacionou mais de R$ 2 bilhões em deals. É conselheiro consultivo e de administração em diversos setores da economia, como transportes, saúde, indústria, consultoria, tecnologia, serviços e educação.

Voltar ao topo