Retaliação comercial contra tarifaço seria erro estratégico, diz ex-embaixador

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A adoção de retaliações comerciais em resposta às sobretaxas impostas pelos Estados Unidos seria um erro estratégico para o Brasil, segundo Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington.

“Se nós formos retaliar medidas políticas com medidas econômicas, vai ser contra o interesse brasileiro”, afirma. Segundo ele, o país precisa “separar a escalada político-diplomática da comercial”.

As declarações foram feitas durante a live “As Medidas do Governo Trump e os Efeitos no Brasil”, promovida pela FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) nesta sexta-feira (1º).

Barbosa também critica a ausência de uma resposta diplomática mais ativa por parte do governo brasileiro nos meses anteriores à imposição das tarifas. “Não é possível você ficar oito meses com a oposição bolsonarista lá em Washington, sozinha, falando para o governo americano o tempo todo, sem nenhuma [participação] do governo brasileiro para mostrar que o que estava sendo falado não correspondia à verdade”, diz.

Para ele, retaliar agravaria o cenário e poderia provocar novas medidas por parte dos EUA. O ex-embaixador lembra que a carta enviada ao Brasil pelo presidente Donald Trump afirma que qualquer retaliação vai voltar para o Brasil.

Segundo ele, até o momento, o Brasil negociou bem a parte econômica, com atuação de empresas brasileiras junto a seus compradores nos Estados Unidos. Ele diz, no entanto, que o governo deve continuar investindo no diálogo com Washington.

“Anteontem houve o primeiro contato, depois de seis meses, do ministro Mauro Vieira com o Departamento de Estado americano. Eu acho que é um começo, nós temos que estimular isso”, diz. Para ele, agora, o Brasil precisa focar a redução das tarifas impostas aos produtos que ficaram fora da lista de isenções.

O ex-embaixador ainda criticou declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre os Brics, em especial a fala de que o grupo estaria buscando alternativas ao dólar. Para Barbosa, esse tipo de posicionamento dificulta a política externa brasileira.

Thiago de Aragão, diretor de Estratégia da Arko Advice, afirma que o governo brasileiro precisa avaliar de forma pragmática o que tem a oferecer nas negociações. “O que faz com que os países tenham vontade de negociar com o Brasil não é necessariamente a nossa simpatia ou o fato de sermos um povo agradável, mas o que nós temos na mesa para oferecer”, diz.

Segundo ele, o momento ainda é de incerteza para investidores e empresas brasileiras, que buscam a inclusão na lista de isenções.

CARNE E CAFÉ FORA DA LISTA DE ISENÇÕES?

Entre os produtos que não foram incluídos na lista de isenções estão o café e a carne. Aragão diz que a exclusão desses itens tem como objetivo aumentar o senso de urgência por parte do Brasil nas negociações.

Segundo ele, se a lista viesse completa demais, a vontade do governo brasileiro para negociar seria reduzida.

O especialista afirma ainda que a escolha dos produtos excluídos também considera o poder de influência que determinados setores exercem no governo brasileiro.

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