BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Em busca de isenção de impostos, 7 em cada 10 empresas que se instalaram no Paraguai pelo regime de maquilas nos últimos 25 anos são brasileiras, de acordo com dados obtidos pela Folha.
A primeira delas chegou para a produção de calçados, e 203 se encontravam em atividade até o fim de 2024. A explosão no número de aberturas de empresas com sede no Brasil do lado paraguaio da fronteira se deu a partir de 2014. Na última década, 182 unidades a partir do Brasil foram inauguradas lá.
Em janeiro, o Grupo Lupo, com mais de cem anos de indústria têxtil, anunciou a investidores a abertura de sua primeira planta fora do Brasil, em Ciudad del Este (ao lado de Foz do Iguaçu), com investimento de R$ 30 milhões.
A nova unidade da empresa fundada em Araraquara (a 286 km de São Paulo) produzirá 20 milhões de pares de meias por ano e criará 350 empregos diretos, de acordo com previsão da empresa, que tem neste investimento parte da estratégia de expansão na América do Sul. As operações devem atingir plena capacidade em 2026.
“Além de ampliar sua capacidade produtiva, a administração está confiante que este investimento estratégico permitirá à Lupo fortalecer sua presença no mercado, melhorar suas margens e gerar novas oportunidades”, divulgou a fabricante.
Outro investimento que ganhou destaque ocorreu entre 2014 e 2015, quando a Guararapes, dona da rede de varejo Riachuelo, se uniu à Texcin para criar um centro de confecção no Paraguai, com investimento calculado na época de US$ 10 milhões e abertura de 2.000 empregos.
Pelo potencial de geração de empregos e para complementar a produção dos outros países do Mercosul, o governo paraguaio teve especial interesse na atração de fabricantes do segmento têxtil, no setor de plástico e o de autopeças. Os três grupos correspondem a 58,1% das brasileiras lá instaladas.
No ano passado, 60% dos produtos das maquiladoras paraguaias foram vendidos ao Brasil. As empresas brasileiras abriram 71% das 292 indústrias com programas de maquila no país vizinho, conforme informações do Ministério de Indústria e Comércio do Paraguai.
A Lei de Maquila do Paraguai permite que empresas estrangeiras se estabeleçam no país com isenções fiscais e taxas de importação para bens de capital, matérias-primas e serviços, além de um imposto de exportação de apenas 1%.
O sistema começou a tomar forma em 2000, quando os paraguaios emitiram um decreto que regulamentou a lei das maquilas. As primeiras operações no âmbito do regime de Maquila começaram em meados de 2001, segundo o Instituto Nacional de Tecnologia, Normas e Metrologia do país.
A relação entre Brasil e Paraguai nesse sistema é crucial, sendo que cada 1% de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil representa um aumento de 4,1% nas exportações das maquiladoras.
Produtos sob esse regime representam 68% das exportações industriais do Paraguai e têm crescido 20% ao ano.
Segundo a secretária-executiva do Cnime (Conselho Nacional da Indústria Maquiladora de Exportação), Natalia Cáceres, o Paraguai busca aumentar o número de investidores brasileiros, promovendo o país em feiras. “O objetivo não é retirar indústrias do Brasil, mas ajudar a melhorar a competitividade delas.”
Contudo, os empresários ainda se queixam das dificuldades no acesso ao crédito no Paraguai e da falta de mão de obra qualificada.
Até o final de dezembro, quase 30 mil pessoas estavam empregadas pelas maquiladoras, gerando o dobro de empregos indiretos, a meta do governo é fortalecer o sistema a partir de financiamento e de recursos humanos de outros países do Mercosul.
Ao chegar ao poder, em 2023 o presidente paraguaio, Santiago Peña, prometeu criar 100 mil novos empregos no setor até 2028, garantindo também que não aumentará impostos para atrair mais investidores.