SÃO PAULO, SP E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Petrobras registrou fortes perdas na sessão da Bolsa desta sexta-feira (8), um dia depois de divulgar o balanço corporativo do segundo trimestre, que frustrou expetativas sobre a distribuição de dividendos da companhia.
As ações preferenciais e ordinárias despencaram 6,14% e 7,94%, cotadas a R$ 30,53 e R$ 32,78, respectivamente. O Ibovespa, pressionado pela petroleira, recuou 0,44%, a 135.913 pontos.
Com a sessão desta sexta, a companhia perdeu R$ 31,95 bilhões em valor de mercado -o equivalente a uma PetroRio- e agora está cotada a R$ 410,21 bilhões, segundo levantamento da consultoria Elos Ayta.
A estatal reportou lucro de R$ 26,6 bilhões durante o período analisado -uma reversão do prejuízo de R$ 2,6 bilhões registrados no mesmo trimestre do ano passado, mas aquém dos R$ 35,7 bilhões dos primeiros três meses de 2025.
Com o resultado, a Petrobras anunciou a distribuição de R$ 8,66 bilhões em dividendos a seus acionistas.
A perda de tração no lucro líquido não preocupou os investidores. Já era algo previsto, dada a queda no preço do petróleo Brent e a variação cambial, com o dólar mais fraco pressionando receita, Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e lucro bruto.
O que destoou -e gerou a reação negativa na Bolsa- foram os dividendos. Os R$ 8,6 bilhões (US$ 1,6 bilhão) a serem distribuídos a acionistas equivalem a R$ 0,6719 por ação ordinária e preferencial, ao passo que a expectativa era de R$ 1 por ação, segundo a Ativa Investimentos.
O diretor financeiro da Petrobras, Fernando Melgarejo, afirmou nesta sexta que a distribuição de dividendos extraordinários pela estatal é pouco provável se o cenário atual de preços do petróleo persistir até o fim do ano.
“A gente adoraria pagar dividendo extraordinário, mas isso depende de termos excesso de caixa”, afirmou Melgarejo em entrevista à imprensa no início da tarde para detalhar o balanço.
“E isso depende de duas variáveis, preço [do petróleo] e quantidade [produzida]. A quantidade vai evoluindo, mas o preço não. Se continuar nesse patamar, vemos baixa probabilidade de ter dividendos extraordinários até o fim do ano.”
Em relatório da XP, os analistas Regis Cardoso e João Rodrigues esperavam uma distribuição de R$ 11,9 bilhões em dividendos. A diferença entre a expectativa e o dado concreto, para eles, se deve ao fluxo de caixa operacional mais fraco do que o estimado, de R$ 40,6 bilhões ante projeções de R$ 44 bilhões pelo consenso do mercado. As despesas de capital também ficaram mais altas, a R$ 22 bilhões, contra estimativa de R$ 20 bilhões.
“Os investidores têm se concentrado principalmente na geração de fluxo de caixa livre e no pagamento de dividendos -isso é verdade para o setor de petróleo e gás, e particularmente para a Petrobras”, afirmam.
“Em nossa opinião, a diferença no fluxo de caixa operacional não é facilmente explicada pelo capital de giro, já que os principais culpados parecem ter sido itens como depósitos judiciais, abandono, impostos sobre vendas e ‘outros’. Em nossa opinião, a conversão do Ebitda em fluxo de caixa operacional será um tema a ser observado nos resultados futuros.”
É uma visão semelhante à de João Daronco, analista CNPI da Suno Research. Para ele, a surpresa negativa foi o nível de investimento, um dos pontos de pressão do fluxo de caixa livre -o que forma a distribuição de dividendos.
“Eu esperava que, com o novo patamar do Brent, a companhia pudesse adotar uma postura mais conservadora nos investimentos, o que não aconteceu. Isso acabou pressionando significativamente o fluxo de caixa livre, que caiu muito mais do que o esperado. Investidores que contavam com um fluxo de caixa mais robusto para garantir dividendos no curto prazo podem ter se decepcionado.”
Os analistas Monique Greco e Eric de Mello, do Itaú BBA, destacaram que os investimentos, um dos indicadores usados para definir dividendos, ficaram em US$ 4,4 bilhões (R$ 25 bilhões, pela cotação média do trimestre), acima do consenso do mercado.
Para Mateus Enfeldt, Tasso Vasconcellos e Victor Modanese, do UBS BB, o volume de investimentos da Petrobras é “tópico chave de discussões” sobre a empresa. Com os resultados divulgados até agora, dizem, a previsão de retorno sobre as ações (dividend yeld) cai de 12% para 10% em 2025.
Na teleconferência com analistas, a direção da Petrobras defendeu que os investimentos impulsionaram indicadores operacionais da companhia, como a produção de petróleo e gás, que cresceu 5% em relação ao primeiro trimestre.
O mercado se alertou também com o anúncio do retorno ao setor de distribuição de combustíveis, aprovado pelo conselho de administração da estatal nesta quinta-feira (7), como foco inicialmente no mercado de gás de botijão.
“Trata-se de um segmento com margens historicamente mais apertadas, o que tende a reduzir a eficiência da alocação de capital e pressionar o rendimento anualizado do caixa livre”, afirmou, em relatório, a Ativa.
A visão do analistas é que a entrada em um novo segmento que demanda altos investimentos pode impactar a distribuição futura de dividendos.
Sobre o assunto, a presidente da companhia, Magda Chambriard, afirmou que o retorno da empresa ao segmento de distribuição tem o objetivo de capturar margens na venda de combustíveis que terão crescimento de oferta nos próximos anos, como diesel e gás de cozinha.
A executiva disse, porém, que ainda não há hoje na mesa nenhum projeto de aquisição de empresas do setor. A aprovação do retorno à distribuição pelo conselho nesta quinta-feira (7), afirmou, tem apenas o objetivo de “deixar portas abertas”.
“As margens dos nossos produtos precisam ser capturadas”, afirmou ela, em teleconferência com analistas. “Temos produtos que vão ter produção crescente e, se for um bom negócio para a companhia, se for lucrativo e se tiver atratividade, por que não exercer mais essa sinergia?”
Magda explicou que a produção de gás de cozinha da companhia cresce com o início das operações, este ano, da unidade de processamento de gás natural do Complexo Boaventura, em Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro.
A unidade processa gás trazido do pré-sal pelo novo gasoduto Rota 3, inaugurado em 2025. Conhecido tecnicamente como GLP (gás liquefeito de petróleo), o gás de cozinha é uma das frações retiradas do gás natural.
O diretor de Comercialização, Logística e Mercados da Petrobras, Claudio Schlosser, disse a analistas que a estatal já começou a buscar grandes clientes industriais para GLP, inaugurando uma nova frente de venda direta de combustíveis.
“A Petrobras já vem atuando no sentido de ser a melhor opção para o cliente, o que significa ter o preço competitivo e ter disponibilidade do produto na medida em que for demandado”, afirmou.