Indústria têxtil irá aos EUA discutir tarifaço. E calcula impacto de pelo menos US$ 38 milhões e 5 mil empregos perdidos

Uma image de notas de 20 reais
Setor têxtil e de confecção registrou superávit pela última vez em 2005
(Marilia Camelo/Folhapress)
  • "Em alguma hora a razão vai chegar", diz superintendente da Abit. "Não há nenhuma razão para isso, os EUA são superavitários"
  • Missão empresarial comandada pela CNI terá uma série de encontros no início de setembro, em Washington
Por Vitor Nuzzi Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

[AGÊNCIA DC NEWS]. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) vai integrar missão empresarial que irá aos Estados Unidos no início de setembro para discutir a questão do tarifaço. Com US$ 68 milhões em exportações em 2024, o mercado norte-americano foi o quarto principal destino dos produtos têxteis (US$ 46 milhões) e de vestuário (US$ 22 milhões). Apenas a produção de cordéis de sisal e outras fibras ficou fora da tarifação adicional – o superintendente da Abit, Fernando Pimentel, calcula que de 17% a 20% da produção exportada ficou fora da taxação. E estima que pelo menos US$ 38 milhões estão “perdidos” neste momento – além disso, 5 mil postos de trabalho diretos (15 mil com os indiretos) poderão ser afetados, caso não haja redirecionamento, mesmo temporário, da produção. “Acho que em alguma hora a razão vai chegar”, afirmou, durante divulgação dos resultados e das projeções do setor. “Não há nenhuma razão para isso. Os Estados Unidos são superavitários.” As importações norte-americanas somaram U$ 142 milhões no ano passado. A missão terá representantes de pelo menos 11 associações empresariais, além de federações e empresas. Os encontros serão realizados em Washington, nos dias 3 e 4 de setembro.

“Vamos buscar canais de negociação para que sejamos excluídos desse tarifaço”, disse Pimentel. A missão será comandada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Acho que vamos conseguir redirecionar, se não no todo, parte da produção”, afirmou ainda. “E [vamos] continuar insistindo na diplomacia empresarial, em consonância com as autoridades.” Segundo ele, o setor está sendo prejudicado não por incompetência, mas “por uma decisão do governo que nos tirou do jogo”. E que não dá espaço “para o produtor brasileiro dar um desconto dessa magnitude”.

A balança comercial brasileira é deficitária há duas décadas – o último superávit do setor foi registrado em 2005. No ano passado, as exportações totais somaram US$ 909 milhões e as importações, US$ 6,6 bilhões, com déficit de US$ 5,7 bilhões. Para 2025, a Abit projeta US$ 991 milhões e US$ 7,2 bilhões, respectivamente. Os principais parceiros são países da América do Sul. No caso dos Estados Unidos, o superintendente observa que as empresas atuam mais em “nichos” (como a moda praia) do que em volume.

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Para 2025, a associação estima crescimento de 3,1% na produção industrial – 6% no segmento têxtil e 1% no de vestuário – e 1,2% no ano que vem, acompanhando esperada desaceleração do PIB. As vendas no varejo devem subir 3% neste ano e 0,7% no próximo. Em volume, as exportações devem somar 178 mil toneladas neste ano (+10,4%) e 185 mil em 2026 (+3,9%). Segundo Pimentel, atualmente a capacidade brasileira de avançar nos mercados mundiais é inferior a “capacidade dos mercados mundiais avançarem no nosso mercado interno”. Ele cita juros, falta de acordos e “legislações restritivas” como fatores que limitam as vendas brasileiras. “Todo dia a gente é mais atacado do que consegue atacar.”

De janeiro a julho deste ano, a produção têxtil cresceu 11,4% e a de vestuário, 1,8º%. O varejo teve alta de 5,5% no ano e também no acumulado em 12 meses. De acordo com a Abit, o setor teve R$ 221 bilhões em faturamento no ano passado (+8,3% sobre 2023). São 25,5 mil empresas com mais de cinco funcionários – 25,5% em São Paulo, 18,1% em Santa Catarina e 13% em Minas Gerais – e 1,3 milhão de empregos diretos.

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