Alimentação fora do lar cresce acima da inflação, mas Nielsen indica cautela para os próximos meses

Uma image de notas de 20 reais
Com renda maior, brasileiros mantêm hábitos de alimentação fora do lar
(Felipe Iruatã/Folhapress)
  • Consumos dentro e fora do lar cresceram, respectivamente, 6,7% e 10,5% em valores nominais no segundo trimestre segundo indicador Mtrix
  • Principal cautela, segundo especialistas, é a oferta de crédito, pressionada pela Selic, que atinge tanto consumidores quando empresários
Por Bruno Cirillo Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

[AGÊNCIA DC NEWS]. Os indicadores para o varejo de alimentação e alimentação fora do lar elaborados pela MTrix, empresa da consultoria NielsenIQ, mostram que o consumo de alimentos tanto dentro de casa quanto nos restaurantes aumentou no no segundo trimestre, sobre um ano antes. O novo Índice Mtrix de Varejo (IMV), antecipado pela AGÊNCIA DC NEWS, revela crescimento anual de 6,7% no consumo dentro do lar e de 10,5% fora das residências, sem descontar a inflação. No período, a inflação medida pelo IPCA somou 5,23%, indicando alta real nas vendas na casa dos 1,4% e 5,2%. De acordo com Gustavo Eid, gerente de marketing da consultoria, o aumento se deve a três fatores: renda disponível, mercado de trabalho e índice de confiança do consumidor. A continuidade do bom desempenho, no entanto, ainda depende do comportamento do crédito e da pressão da Selic na renda do brasileiro.

A renda média mensal do trabalhador no Brasil atingiu R$ 3,4 mil no trimestre encerrado em julho, aumento de 3% em relação ao trimestre anterior, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Vale acrescentar que, entre 2017 e 2023, a parcela 0,1% mais rica do país viu a renda crescer cinco vezes mais que o conjunto dos brasileiros, segundo estudo do FiscalData, assinado pelos economistas Frederico Nascimento Dutra, Priscila Kaiser Monteiro e Sérgio Gobetti e publicado pelo Ipea. Em seis anos, a renda real no topo da pirâmide, composto por 160 mil pessoas, cresceu 6,9%, superando o ritmo de 1,4% da média dos brasileiros, segundo os economistas. Esse aumento tem sido, de acordo com Eid, uma das razões da resiliência do setor. “No food service, os preços continuam subindo”, disse ele, “mas a gente ainda vê uma resiliência desses mercados, provavelmente em função da população com renda mais alta.”

Já em relação ao mercado de trabalho, o índice de desemprego vem apresentando quedas desde o ano passado, o que contribui, segundo Eid, para disponibilidade de renda e oferta de crédito. Em 2024, o nível de pessoas desocupadas encerrou o ano com 6,6% da população (7,4 milhões de pessoas), 1,1 milhão a menos do que em 2023 (8,5 milhões). No segundo trimestre deste ano, esse índice estava a 5,8% (6,3 milhões), de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua). “Há menor taxa de desemprego e menos informalidade, o que reflete em massa de renda maior”, disse Eid.

Escolhas do Editor

O otimismo atual do consumidor, na avaliação de Eid, está muito atrelado ao otimismo das classes mais baixas, com renda de até R$ 2,1 mil por mês que, segundo o IBGE, registraram no segundo trimestre de 2025 o menor nível de informalidade e maior taxa de ocupação desde 2014. Para mapear o comportamento do consumidor, a empresa da Nielsen apura os dados junto a atacadistas e distribuidores e tem como clientes as empresas do setor industrial. “O consumidor reflete isso e o varejo acaba estocando mais.”

Outro ponto apresentado pela NielsenIQ diz respeito a à propensão ao consumo. Segundo o Índice Nacional de Confiança (INC) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o indicador alcançou 96 pontos em junho. Pela metodologia da pesquisa, o indicador vai de 0 a 100, sendo zero o pessimismo absoluto e 100 o otimismo absoluto. O resultado, que tem se motrado sem grandes variações ao longo do ano, reflete, segundo o economista da ACSP, Ulisses Ruiz de Gamboa “a atividade econômica e o emprego ainda resilientes.” Para o economista, fatores como o aumento do novo consignado e a outras transferências de renda governamentais, tem “sustentado o ânimo e o consumo das famílias.” Ainda assim, Gamboa afirma ser necessário atenção com o cenário que se forma, já que questões como aumento do endividamento das famílias e taxa de juros podem reduzir a confiança do consumidor ao longo dos próximos meses.

A principal cautela, segundo o Eid, é o mercado de crédito, pressionado por uma política desinflacionaria do Banco Central (BC) com a taxa básica de juros (Selic) a 15%, após sete aumentos consecutivos. Segundo ele, os efeitos da alta taxa básica de juros por longos períodos acaba por pressionar toda a economia, impactando também nas vendas relacionadas ao universo alimentar – seja dentro ou fora do lar. Além de comprometer a capacidade de crédito da pessoa física, o comportamento da Selic também tem atingido o empresário do ramo alimentar. De acordo com ele, empresários e consumidores mais pressionados ficam sem margem e sem recursos para buscar alternativas que vão além da cesta básica. “Isso ainda merece cautela daqui pra frente, mas o consumidor tem mostrado um otimismo maior até aqui.”  

Voltar ao topo