Olivier Anquier: da République francesa à Praça da República (e rumo à Arábia Saudita)

Uma image de notas de 20 reais
Empresário francês chegou ao Brasil em 1979 como DJ. Agora, dirige restaurantes e padarias
(Andre Lessa/Agência DC News)
  • Empresário visa abertura de nova unidade em Curitiba (PR) para 2026 e a expansão para a Arábia Saudita até 2027
  • Público do L'Entrecôte d'Olivier dobrou desde a abertura da unidade na República, no Centro de São Paulo, em novembro de 2024
Por Anna Scudeller


[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Era 15 de dezembro de 1979 quando o francês Olivier Anquier chegou ao Brasil para férias de um mês no Rio de Janeiro. Aos 20 anos, teve a oportunidade de estender a estadia até o carnaval de 1980. “Depois do carnaval, falei: ‘É aqui que eu fico’. E há 46 anos estou de férias”, disse o cozinheiro e empresário em entrevista à AGÊNCIA DC NEWS. Hoje em São Paulo, Anquier está à frente das unidades da panificadora Mundo Pão – que inaugurou o primeiro ponto de rua em abril, na avenida São Luís – e do bar e restaurante L’Entrecôte D’Olivier no Jardim Europa, também presente desde 2024 na República. A nova casa do Mundo Pão, inclusive, está na mesma esquina do L’Entrecôte, encarando a Praça da República. “É o ápice de ser paulistano.”

Foram essas credenciais que garantiram a Olivier Anquier o Prêmio Empresário de Valor 2025, outorgado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), como destaque empresarial da distrital Centro da capital paulista. E agora o empresário constrói pontos de atuação dos empreendimentos em Curitiba (PR), previstos para abrirem no início de 2026, e começa a expandir para a Arábia Saudita com o Olivier Anquier du Brésil. Trata-se da criação de um projeto piloto na capital paranaense, no bairro Santa Felicidade, que será então implementado posteriormente na Arábia Saudita entre o ano que vem e 2027. A proposta surgiu do casal al-Abassi, formado por uma brasileira, Cilene, e Tariq, árabe, que viaja o mundo comendo diversas versões de entrecôtes. O prato é composto pelo corte bovino entrecôte, retirado da parte superior do contrafilé, considerado uma carne premium, acompanhado de batata frita e molho. Após inúmeras experimentações, o casal concluiu que a versão de Anquier é a “melhor do mundo”. “O conceito é oferecer algo simples com qualidade e emoção, sem ostentação”, disse. “O resultado está aí: 18 anos depois, o conceito é sucesso e vai para a Arábia Saudita.”

Contudo, a jornada de Anquier em território brasileiro é anterior à carreira culinária. Chegou aqui como DJ, seu então emprego parisiense. Com a abertura de uma casa noturna voltada para as “cores e exuberância” do carnaval brasileiro próxima a balada em que tocava, Anquier teve o primeiro contato com o Brasil. Na capital carioca conheceu o então vice-cônsul da França, que o apresentou ao fotógrafo francês Baland Pascal, que precisava de modelos para um ensaio de uma revista em São Paulo. “Não queria aceitar de primeiro momento, tinha preconceito na época”, afirmou. “Mas o vice-cônsul me disse que era um emprego que não precisava falar, então me convenceu.” Foi modelo até 1989, quando viajou pelo litoral durante três meses e chegou a Jericoacoara (CE). Lá, abriu o primeiro bar e restaurante pé na areia da praia da cidade, o Aloha. Ele lembra que o principal público do Aloha eram turistas europeus, já que Jericoacoara fazia parte do roteiro de volta ao mundo que jovens europeus faziam após encerrarem a graduação.

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Vista do L’Entrecôte D’Olivier Rooftop, no Edifício Esther, próximo à Praça da República, inaugurado em 2024
(Andre Lessa / Agência DC News)

Mas logo Anquier vendeu o negócio para retornar a São Paulo: conheceu a ex-esposa e atriz Deborah Bloch, com quem foi casado entre 1991 e 2006 e teve os filhos Júlia e Hugo. Continuou carreira em Santa Catarina, em 1991, ao criar e ser chef do Malaika, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Três anos depois, voltou de vez para São Paulo, onde abriu sua primeira padaria, a Pain de France, em Higienópolis, que não existe mais. “Sempre segui o mesmo processo: intuição, sinceridade e autenticidade”, disse. “Nunca fiz plano de negócios, porque um plano teria me desestimulado. Acreditei em mim e fui fundo.” Dois anos depois, decidiu sair do empreendimento para firmar uma parceria com a rede de supermercados Pão de Açúcar, vendendo com exclusividade sua linha de pães em 40 lojas da cidade.

Em 2008, o conceito da criação do L’Entrecôte D’Olivier surge como forma de resgatar as origens francesas através do menu único, com uma homenagem familiar: o molho que acompanha o bife e as batatas infinitas do prato principal, de sua tia Nicole, salada de folhas com típico molho francês como entrada e, para encerrar, a mousse Royal de chocolate, receita de infância da avó de Anquier. “A ideia de um entrecôte não é nova, existe há anos na França. Adaptei para os objetivos da casa”, afirmou. Os objetivos, segundo o empresário, são “ir à França sem pegar o avião” e emocionar o cliente – Anquier considera a refeição bife e batata frita como um prato “universal”, que abrange todas as camadas econômicas e também sociais. Mas lembra que a ideia de um cardápio único ainda não era comum por aqui, tendo chocado jornalistas e críticos. “Sou um ser humano que comunica e se relaciona e quer gerar emoção em outro ser humano”, afirmou. “Não sou chef para desmistificar nada, não é meu trabalho.”

A abertura do L’Entrecôte D’Olivier, então no Itaim Bibi, coincide com a mudança do cozinheiro para o Centro de São Paulo. “É o melhor lugar da cidade”, afirmou ao abordar sua relação com a região. O francês, que habita o coração da República, afirma ter o contato o humano como uma de suas principais motivações, “cruzar com pessoas diferentes todos os dias”, e não seria nada mais natural do que morar no Centro. “É o único bairro daqui que não é uma bolha”, disse. Anquier diz sentir uma gratidão imensurável pela cidade, ainda mais depois de receber o Título de Cidadão Paulistano pela Câmara Municipal em 2024 e, este ano, o Prêmio Cidade de São Paulo, concedido pela Prefeitura. Ele diz que nunca imaginou a vida que teria aqui, “que São Paulo me abriria os braços como abriu”.

Empresário diz que nunca fez planos de negócios, que ter feito o teria desmotivado
(Andre Lessa / Agência DC News)

A paixão pelo Centro se refletiu nos negócios: em novembro passado, abriu a segunda unidade do L’Entrecôte D’Olivier, no rooftop do edifício Esther – erguido em 1937 –, dividindo o andar com o Esther Rooftop, do chef francês Benoit Mathurin. Havia certo receio da unidade no Jardim Europa dividir público com a nova unidade, o que não se tornou realidade. O público dobrou. O ponto atrai clientes diversificados devido à rota de turismo cultural da cidade, seja de estrangeiros ou pessoas de outros lugares do país – e tem conseguido fidelizar a clientela do Centro, além de ter alcançado, para Anquier, o objetivo de ser uma viagem à França sem deixar solo nacional. “Aqui na Praça da República, com certeza absoluta, [é] uma viagem até lá”, disse ao apontar o edifício São Luís, o qual descreve como “o único verdadeiro prédio parisiense de São Paulo” no meio de coração paulistano, carregado de história. “Aqui, você está em Paris. Mas muito melhor, porque é nosso.”

E o cozinheiro não pretende parar de investir no Centro tão cedo. Em abril, inaugurou a primeira unidade de rua do Mundo Pão do Olivier na mesma esquina do endereço do restaurante nos entornos da Praça da República, na avenida São Luís. Anteriormente, as unidades do negócio estavam espalhadas pelos shoppings: no Conjunto Nacional da avenida Paulista, Shopping Morumbi e Anália Franco. O Mundo Pão do Olivier, iniciado em 2017, segue em expansão desde o primeiro ano. A vinda “assustadora” para São Paulo, há mais de 40 anos, colhe seus frutos. “Hoje me sinto profundamente brasileiro, especificamente paulistano.”

Olivier Anquier: “Aqui, você está em Paris. Mas muito melhor, porque é nosso”
(Andre Lessa / Agência DC News)

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