[AGÊNCIA DC NEWS]. Jorge Alberto Damasceno deve sua vida às tintas. O fundador e ainda uma das fortes lideranças do Porão das Tintas trabalha neste mercado há aproximadamente 55 anos – nos últimos 28 no próprio negócio. Ele credita ao universo das tintas desde o encontro com sua esposa até seu negócio, tido como o mais antigo do segmento na região de Santo Amaro, na capital paulista. O que começou com uma máquina de misturar tintas automotivas no porão de casa pode virar em 2025 um negócio de R$ 2,4 milhões em receita. Com a ajuda do filho, Thomaz Damasceno, envolvido no negócio desde a infância, o empreendedor paulistano quer aumentar as ações de marketing e investir em treinamento de pintores para crescer em 20% a receita. “Queremos ser a referência em tintas na Zona Sul de São Paulo”, afirmou Thomaz. “Em um futuro mais distante, temos o sonho de abrir uma loja no interior paulista.”
No início da década de 1970, Jorge começou sua evangelização no mundo das tintas. Trabalhava na Casa da Tinta, loja de tintas no bairro Cidade Dutra, próximo à Interlagos. Lá, foi funcionário por 17 anos. Começou como vendedor até galgar a posição de chefe de vendas. Foi onde conheceu sua esposa, Ana Aparecida de Lima Damasceno, com quem teve três filhos, Thomaz, o mais velho, Marina e Gabriela. Em 1996, a loja faliu e todos, inclusive Jorge, ficaram sem emprego ou pagamento. Jorge já tinha os três filhos e sustentava a família junto a esposa, que atuava como funcionária pública. No ano seguinte, para manter o rendimento da família, pegou um empréstimo, comprou uma máquina para misturar tintas automotivas e colocou no porão de casa para voltar a trabalhar com o que sempre gostou. “Meu pai era um vendedor nato e já tinha grande experiência com tintas”, afirmou Thomaz. Foi essa veia empreendedora que garantiu ao Porão das Tintas o Prêmio Empresário de Valor 2025, outorgado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), como destaque empresarial da distrital Sul da capital paulista.
A empresa foi nomeada pela filha mais nova, Gabriela. “Se a gente faz a tinta no porão, por que não Porão das Tintas?”, afirmou Thomas ao rememorar o momento. E também foi nesta situação que o primogênito da família, aos 12 anos, entrou no negócio e nunca mais saiu. Começou entregando as tintas de bicicleta até assumir o comando junto ao pai atualmente. No início, o pequeno comércio familiar era composto por três pessoas, Jorge, Thomaz e Cleiton, um ex-colega de trabalho da falida Casa de Tinta. Jorge cuidava das vendas. “Ia de porta em porta atrás dos funileiros.” Cleiton auxiliava na produção e Thomaz fazia as entregas. Tudo que entrava no caixa era revertido em material para virar pigmento, até o negócio virar.
Um ano após a compra da primeira máquina veio o primeiro endereço fora do porão da casa foi próximo à loja atual. Em 1998, veio primeira loja. Na Rua Nossa Senhora do Outeiro, número 496 – atualmente fica no número 410. Era uma lojinha ao lado de uma serralheria. Era uma portinha da dimensão da sala de uma casa pequena, de uns 20 metros quadrados, que pertencia ao dono da serralheria, o Antônio. “Era um cearense, baixinho e carequinha.” Foi com ele que Jorge conseguiu um bom negócio para pagar o aluguel só quando o negócio estivesse estabelecido no novo endereço. “Ele deixou a gente pagar sem calção ou nenhuma outra garantia”, afirmou Thomaz. Deu certo. Logo ele pagou o aluguel e o negócio começou a crescer.
Foi nesse momento que Jorge começou a expandir o repertório de tintas e entrou também no ramo imobiliário. Após cinco anos, veio para o endereço atual, no qual investiu um total de R$ 83 mil na compra. Foi então que trouxe as tintas industriais e, mais recentemente, as moveleiras, para a pintura de móveis. “Santo Amaro era uma região de muitas indústrias e meu pai já vendia para essas empresas na loja que faliu”, afirmou Thomaz. Os quatro segmentos compõe o portfólio atual de pigmentos e tintas. Além disso, a loja também vende outros produtos para pintura como espátulas, pincéis, rolos, entre outros itens.
Com o tempo, Jorge foi contratando os colegas com quem trabalhava na antiga empresa da Cidade Dutra. Atualmente a loja tem oito funcionários. Enquanto o negócio crescia, Thomaz se especializava. Se formou em direito pela FMU e finalizou duas pós-graduações, uma em direito trabalhista e outra em sucessão. Ele abriu seu escritório de advocacia, mas nunca deixou de trabalhar com o pai. Em 2015, decidiu vender sua sociedade no escritório para ficar mais tempo com os filhos, momento em que assumiu a liderança do negócio junto ao pai. Foi responsável por trazer ideias de marketing e atualizar o negócio que se mantém offline de certa forma. Por mais que haja um website, as tintas são vendidas por meio do telefone ou WhatsApp. E também nada de e-commerces. “Não faz sentido para a gente.”
Foi com as atualizações de Thomaz que o negócio ganhou novas ambições e um sonho. Nos próximos anos, a empresa quer abrir uma nova loja e, para isso, investe no relacionamento com pintores e no marketing para aumentar a receita. A ideia inicial consistia em uma loja em Indaiatuba, no interior de São Paulo, que custaria entre R$ 200 mil e R$ 300 mil mensais, considerando aluguel, material e capital de giro. “Não é algo plausível para a gente agora, mas é um sonho”, afirmou. A empresa sonda outras possíveis cidades da região para a empreitada. Enquanto o sonho não se torna crível, a ideia é aumentar a receita. A empresa quer crescer a presença no digital de forma orgânica ao crescer sua conta no Instagram. Atualmente são pouco mais de 5 mil seguidores. “Não compramos um seguidor dos nossos 5 mil, são todos orgânicos”, afirmou Thomaz. “Eu faço a divulgação pessoalmente, até quando estou passeando no shopping.”
A outra parte da estratégia é o treinamento dos pintores, para estreitar o relacionamento. “O pintor é meu principal cliente, mesmo que ele não seja o comprador, por ser ele quem indica a tinta.” Para isso, firma parceria com fábricas de tintas e realiza workshops com os pintores, para instruir, sem nenhum custo, a categoria. O retorno do investimento: a fidelidade. Ao manter a energia familiar da venda boca a boca e investir na fidelidade dos clientes, o Porão das Tintas almeja uma receita de R$ 2,4 milhões neste ano, alta de 20% em relação a 2024. E quem sabe, no futuro, uma nova loja no interior de São Paulo.
É a mesma que misturava os pigmentos no porão da casa dos Damasceno, onde começou o negócio
Conforme houve aumento na demanda, uma nova máquina foi adquirida visando incrementar o volume de vendas
Além das latas e baldes de tintas, a loja também vende diversos artigos para pintura, como pincéis, rolos, espátulas, entr outros
O negócio começou somente com tintas automotivas, mas, conforme foi crescendo, expandiu para outros segmentos, como o imobiliário, industrial e moveleiro
Máquina utilizada para mistura dos pigmentos para pintura automotiva é utilizada diariamente