Cornacchioni, da Abrafati: “Após o maior crescimento em 10 anos de 2024, setor de tintas deve crescer 3% em 2025"

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Executivo antecipa que novas opções de embalagens são tendência do varejo
(Mastrangelo Reino/Agência DC News)
  • Brasil produz 2 bilhões de litros de tinta por ano, mantendo-se quarto maior produtor mundial e líder na América Latina
  • Investimentos em P&D e novas embalagens prometem atender consumidores e varejo, aumentando competitividade frente a multinacionais
Por Victor Marques

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O Brasil produz, anualmente, 2 bilhões de litros de tinta, sendo o quarto maior produtor global, atrás somente de China, Estados Unidos e Índia. É da indústria brasileira que também saí 50% de todo o volume de tinta da América Latina. Os dados são da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tinta (Abrafati). No ano passado, o setor registrou o melhor crescimento nos últimos dez anos, 6%, mas para 2025, a perspectiva é outra. Considerando fatores econômicos como a alta da Selic, em 15% e a inflação, de 5,13% acumulado em 12 meses, o segmento de produção de tintas espera crescer entre 2,5% e 3%. “Estamos com uma meta mais comedida e realista”, afirmou Luiz Cornacchioni, presidente-executivo da Abrafati à AGÊNCIA DC NEWS.

Apesar disso, ele afirma que o setor não vive uma crise, uma vez que, além dos setores industriais e imobiliários sustentarem parte das vendas, o varejo tem se tornado um setor importante, já que o consumidor está cuidando mais da pintura do lar. “O isolamento fez as pessoas valorizarem mais suas casas. Agora elas querem uma cor, um efeito especial nas paredes”, disse. “Elas perceberam que pintar não é caro e é uma mudança simples. Isso têm auxiliado na venda de tintas.” Com um investimento médio de 3% do faturamento do setor em pesquisa e desenvolvimento, novas máquinas de mistura de pigmentos contribuem com essa tendência. “O lojista faz a cor que o cliente quer, e consegue reproduzir qualquer referência com a mistura de pigmentos.”

Entre os dias 23 a 25 de setembro, houve o Abrafati Show, evento que reúne as novidades da indústria das tintas, com participantes de todo o mundo. Sobre o evento, Cornacchioni adianta que haverá novidades para o varejo, como novas embalagens. Elas são de materiais diferentes, como plástico, para baratear o produto. Também será oferecido ao varejo embalagens com alternativas de peso, buscando atender uma gama maior de públicos. Ele explica que antigamente só era possível escolher entre as latas de metal nas quantidades de 18 litros, 3,6 litros e de 900 mililitros. “Atualmente você vê mais opções”, afirmou. As novas opções são de 10 litros, 20 litros e 16 litros. “Assim o consumidor tem mais opções para o que ele realmente precisa.” Confira a entrevista abaixo.

Escolhas do Editor

AGÊNCIA DC NEWS  – O ano passado foi positivo para o setor, o crescimento foi de 6%. Qual a expectativa para este ano?
LUIZ CORNACCHIONI – Ano passado, comparativamente, foi nosso melhor desempenho nos últimos dez anos. Para esse ano estamos com uma meta mais comedida, entre 2,5% e 3% de crescimento. Essa meta já considera o ano mais difícil devido aos fatores econômicos como a inflação e a manutenção da Selic a 15%.

AGÊNCIA DC NEWS  – O mercado imobiliário também é muito afetado pela alta na Selic e têm relação direta com o setor de tintas. Isso não deve afetar o crescimento neste ano?
LUIZ CORNACCHIONI
O mercado imobiliário continua em um ritmo bom. As mudanças nas faixas do Minha Casa Minha Vida puxaram os resultados e é um setor que trabalha com lançamentos de anos anteriores, o que ainda não nos permite ver os resultados desse patamar da Selic.

AGÊNCIA DC NEWS  – Vocês sentiram isso?
LUIZ CORNACCHIONI
Sentimos. O Minha Casa Minha Vida gera um volume bem expressivo. Mas a inflação e a Selic também afetam a venda de tinta para o consumidor.

Aspas

Nossa meta é reduzir nossa pegada de carbono em 25% até 2030

Aspas
Luiz Cornacchioni, Abrafati

AGÊNCIA DC NEWS  – Afeta como?
LUIZ CORNACCHIONI
O consumidor vê a pintura como uma compra adiável. E como a confiança na economia não está alta no momento, ele posterga. Por outro lado, a pandemia puxou uma nova tendência de cuidado com os lares.

AGÊNCIA DC NEWS  – Então as pessoas estão pintando mais suas casas?
LUIZ CORNACCHIONI
O isolamento fez as pessoas valorizarem mais suas casas. Agora elas querem uma cor, um efeito especial nas paredes. Elas perceberam que pintar não é muito caro e é uma mudança relativamente simples. Isso também têm auxiliado na venda de tintas.

AGÊNCIA DC NEWS  – Você comentou que na pandemia as pessoas começaram a cuidar mais da casa, inclusive com o uso maior de cores. A disponibilidade de cores vendidas aumentou no Brasil?
LUIZ CORNACCHIONI
A maioria do que se vendia no Brasil eram tintas brancas e de cores pastel. Com a entrada de máquinas misturadores de cores no mercado, facilitou muito a venda de cores. O lojista faz a cor que o cliente quer, na hora e consegue reproduzir qualquer referência com a mistura de pigmentos.

AGÊNCIA DC NEWS  – Há outros setores influenciando o crescimento do setor de tintas?
LUIZ CORNACCHIONI
O ritmo da infraestrutura também afeta muito o segmento. Se o PAC começa a andar, isso é positivo para nós. Então estamos na expectativa de novas ferrovias e outros projetos de infraestrutura.

AGÊNCIA DC NEWS  – O dólar acumula no ano perda de 14,25% ante real. Isso é uma boa notícia para a indústria?
LUIZ CORNACCHIONI
É importante, em especial, em função de matérias-primas. Atualmente, a indústria importa perto de 65% de suas matérias-primas e isso geralmente é tudo dolarizado.

AGÊNCIA DC NEWS  – De onde vem a matéria-prima?
LUIZ CORNACCHIONI
De todo o mundo. Dos Estados Unidos, Europa e China. Os países asiáticos têm uma participação relevante nisso, mas é algo bem distribuído.

AGÊNCIA DC NEWS  – Dos 10 maiores produtores de tintas global, 7 também estão por aqui e respondem por cerca de 90% da produção. Há perspectiva de um aumento de participação da indústria nacional no mercado de tintas?
LUIZ CORNACCHIONI
Das dez grandes produtoras globais, sete estão no Brasil, mas estão aqui com fábricas nacionais, gerando empregos e pagando seus impostos. Mas também temos uma participação importante do mercado nacional. Temos indústrias brasileiras com participação importante, investimentos e presença relevante.

AGÊNCIA DC NEWS  – E como a indústria brasileira compete com as gigantes multinacionais?
LUIZ CORNACCHIONI
O mercado de tintas no Brasil é bem regionalizado e a indústria nacional ganha nesse jogo. Devido ao território extenso, a distribuição de tinta no país é custosa. Há uma concentração no estado de São Paulo, mas também há fábricas importantes no Nordeste, Sul e Centro-Oeste, e muitas delas nacionais. E a qualidade da tinta brasileira é muito competitiva.

AGÊNCIA DC NEWS  – Competitiva como?
LUIZ CORNACCHIONI
Temos um nível de investimento importante. A indústria nacional investe em média 3% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento.

AGÊNCIA DC NEWS  – O que é essa inovação?
LUIZ CORNACCHIONI –
Nossa tinta tem muita qualidade. O primeiro fator é proteção, que é muito importante para setores da construção civil e industria. Fatores de anticorrosão, proteção ao calor e outros tipos de tensionamento são importantes. E o mercado vem exigindo cada vez mais produtos para aplicações específicas. 

AGÊNCIA DC NEWS  – O que o mercado tem exigido?
LUIZ CORNACCHIONI
Tem havido muito foco em buscar sustentabilidade. Isso envolve desde ter um processo mais eficiente, até a redução da pegada de carbono.

AGÊNCIA DC NEWS  – E como vocês mensuram isso?
LUIZ CORNACCHIONI
No ano passado fizemos um inventário setorial. Atualmente a nossa pegada é de 0,027 kg de CO² por cada 1 kg de produto. E nossa meta é reduzir esse total em 25% até 2030. No nosso setor, comparativamente com outros países, nossa pegada é muito baixa, muito em função das nossas matrizes de energia.

AGÊNCIA DC NEWS  – Qual a expectativa da indústria das tintas com a reforma tributária?
LUIZ CORNACCHIONI
Estamos nos preparando para isso. Temos feito ações internas para incentivar a indústria a realizar as adaptações necessárias para que ninguém tenha que correr atrás do prejuízo tardiamente. Mas, de forma geral, vemos como algo muito positivo. Principalmente com o IVA. É uma simplificação muito grande.

AGÊNCIA DC NEWS  – Como a indústria têm trabalhado para atender as classes C e D competitivamente?
LUIZ CORNACCHIONI
A indústria já trabalha com diferentes categorias de tintas há muito tempo, visando atender as demandas específicas de cada um. Há quatro categorias. As econômicas, standard, premium e super premium. As diferenças entre elas estão na cobertura, durabilidade, resistência e limpeza. No ano passado, as que mais venderam foram as premium. Já nesse ano, devido ao ambiente econômico mais delicado, foram as standard. O nosso entendimento é que as pessoas continuam pintando, mas estão mudando a qualidade da tinta, conforme o poder aquisitivo.

AGÊNCIA DC NEWS  – Como está a situação de mão de obra no setor?
LUIZ CORNACCHIONI
Somos muito próximos do sindicato dos pintores. E atualmente vemos uma valorização maior do trabalho dos pintores. Antigamente havia muitos pintores temporários, que estavam sem trabalho, ou que trabalhavam na função como bico. Atualmente, isso têm mudado. A categoria está mais bem preparada. Mas a quantidade ainda é insatisfatória. Calculamos uma média de 500 mil pintores no país. Então, a maioria deles têm a agenda muito lotada, mas existem profissionais disponíveis no mercado.

AGÊNCIA DC NEWS  – Na próxima semana, entre 23 a 25 de setembro, haverá o evento Abrafati Show. Há alguma novidade legal para o varejo que você pode adiantar?
LUIZ CORNACCHIONI
Temos visto mais opções de embalagens para o consumidor, tanto no quesito material da embalagem, assim como nas quantidades. Antigamente só havia as latas de metal, de 18 litros, 3,6 litros e de 900 mililitros. Atualmente você vê mais opções, de 10 litros, 20 litros, 16 litros. Assim o consumidor tem mais opções para o que ele realmente precisa. E as embalagens plásticas também ajudam a baratear o produto.

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