SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar opera em queda nesta segunda-feira (21), com os investidores ainda atentos aos desdobramentos das medidas do governo dos Estados Unidos contra o Brasil, enquanto no exterior a moeda norte-americana caía ante a maior parte das demais divisas.
Em entrevista à rádio CBN nesta manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva insistirá na negociação comercial com os Estados Unidos, mas não descarta a possibilidade de não haver resposta dos EUA até 1º de agosto, data prevista para iniciar a sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros.
Às 10h06, a moeda norte-americana tinha oscilação negativa de 0,47%, a R$ 5,5619.
Na sexta-feira (18), o dólar encerrou a sessão com uma forte alta de 0,75%, cotado a R$ 5,588, maior nível desde 4 de junho, quando fechou em R$ 5,645.
A avanço foi na contramão da desvalorização da divisa dos EUA no mercado externo. Na semana, a moeda norte-americana acumulou alta 0,75%.
Já a Bolsa despencou 1,61%, a 133.381 pontos. Na mínima do pregão, chegou a 133.295 pontos, menor patamar intradiário desde 7 de maio, e, na máxima, atingiu 135.562 pontos. Na semana, a perda acumulada foi de 2,07%.
A operação da PF (Polícia Federal) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro gerou apreensão entre os investidores, que temem que isso possa levar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a adotar uma postura mais agressiva em relação às tarifas aplicadas ao Brasil.
Com uma agenda econômica esvaziada no Brasil, sem a divulgação de indicadores econômicos, o mercado se voltou para o noticiário político interno.
Logo no início do dia, os investidores concentraram a atenção na notícia de que Bolsonaro se tornou alvo de uma operação da PF, determinada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes.
Bolsonaro terá de usar uma tornozeleira eletrônica, está proibido de usar as redes sociais e deve ficar recolhido em domicídio entre 19h e 6h de segunda a sexta e em tempo integral nos fins de semana e feriados.
O mercado avaliou os potenciais efeitos da operação contra o ex-presidente na disputa comercial entre Brasil e EUA. Há um receio por parte dos agentes financeiros de que Trump possa retaliar o Brasil, ampliando seu ataques comerciais, o que deu força ao dólar ante o real. Na máxima do dia, a moeda chegou a subir 0,93%, a R$ 5,598.
“O que assusta o mercado não é só o barulho doméstico, mas o risco do presidente americano reagir. Há um temor real de que Trump use a situação para justificar uma escalada tarifária contra o Brasil”, afirmou Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital.
Com ele concorda Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
“O ambiente de tensão se eleva, principalmente por nesse imbróglio também estar Donald Trump, que pode reagir à decisão de Moraes.”
Na perspectiva de Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, existe um risco iminente de uma escalada no conflito após a determinação do STF.
“Até tivemos uma sinalização dos EUA de que poderia haver uma abertura para negociação com o Brasil, a partir da investigação de práticas comerciais brasileiras, mas Trump insistiu em puxar de novo para o centro do debate a questão do Bolsonaro. Ninguém sabe o que a Casa Branca vai fazer”, disse.
Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, a postura de Trump de vincular a aplicação de tarifas aos processos judiciais enfrentados pelo ex-presidente traz receios e dúvidas se será possível encontrar uma solução imediata para o problema.
“Ao vincular as tarifas a temas políticos e judiciários do Brasil, fica um pouco mais difícil tentar entender o que o Brasil pode oferecer ou negociar com os EUA para tentar resolver essas discrepâncias”, afirmou.
Os investidores também repercutiram as últimas declarações de Lula e Trump sobre a sobretaxa de 50% que será aplicada pelos EUA ao Brasil a partir de 1º de agosto.
Na noite de quinta-feira (17), Lula disse em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão que a decisão de Trump é uma chantagem inaceitável. O petista também criticou políticos favoráveis à sobretaxa, chamados por ele de “traidores da pátria”, e disse que todas as empresas, nacionais ou estrangeiras, devem cumprir as regras do país.
Mais cedo, Trump havia mandado uma carta ao ex-presidente Jair Bolsonaro em que diz estar vendo “o tratamento terrível” que o aliado estaria recebendo em “um sistema injusto” que se voltou contra ele. “Este julgamento deve terminar imediatamente!”, afirmou Trump em documento publicado na conta da sua rede social Truth Social.
Já no cenário externo, Trump voltou a ameaçar impor tarifas aos membros do Brics e disse que o grupo acabaria “muito rapidamente” se algum dia eles se formassem de modo significativo.
“Quando ouvi sobre esse grupo do Brics, seis países, basicamente, eu os ataquei com muita, muita força. E se algum dia eles realmente se formarem de modo significativo, isso acabará muito rapidamente”, disse Trump, sem mencionar os nomes dos países.
Trump também está pressionando por tarifas de 15% a 20% sobre a União Europeia.
Diante disso, os mercados globais analisam o impacto das tarifas de Trump sobre a atividade econômica nos EUA, com dados recentes demonstrando uma certa resiliência da maior economia do mundo.
Na quinta-feira, dados mais fortes do que o esperado para vendas no varejo e uma queda inesperada nos pedidos iniciais de auxílio-desemprego fomentaram a percepção de força da economia dos EUA.
Os resultados afetavam as apostas de operadores sobre o espaço que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) terá para cortar a taxa de juros neste ano, com as expectativas de momento mostrando uma boa probabilidade de o Fed reduzir os juros em setembro, apesar da pressão de Trump por cortes imediatos.