BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou nesta terça-feira (15) que a prioridade do governo Lula (PT) é reverter a sobretaxa imposta por Donald Trump, dos Estados Unidos, antes que ela comece a valer, em 1º de agosto, mas disse que pode pedir a prorrogação deste prazo, se for necessário.
O adiamento foi proposto pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). A entidade e outras do setor produtivo se reuniram com Alckmin e outros ministros nesta terça-feira (15) para tratar do assunto.
“Nós queremos resolver o problema o mais rápido possível. Se houver necessidade de mais prazo, vamos trabalhar nesse sentido”, afirmou o vice-presidente, após o encontro.
Já o presidente da CNI, Ricardo Alban, defendeu que o Brasil não adote medidas de retaliação.
“O mais importante [que foi definido na reunião] também é que o Brasil não pretende ser reativo intempestivamente. Nós entendemos dessa reunião que o Brasil não se precipitará de forma em medidas de retaliações, para que elas não sejam interpretadas como simplesmente uma disputa”, disse.
Alckmin defendeu que o setor produtivo brasileiro ajude no diálogo com as empresas dos Estados Unidos, uma vez que a economia dos dois países deve ser prejudicada com a tarifa.
“A exportação dos Estados Unidos ao Brasil é três vezes mais do que a nossa exportação [para eles], portanto é totalmente incompreensível a decisão da tarifa”, disse Alckmin.
O vice-presidente também disse que espera há dois meses uma resposta dos EUA sobre uma carta enviada pelo Brasil que trata de acordos comerciais, e que pretende cobrar uma devolutiva do governo Trump.
Na abertura da reunião, Alckmin também defendeu que as negociações sejam focadas em fatores econômicos, e não judiciais.
“Primeiramente, [temos que] separar questões de natureza jurídica”, disse. “A separação dos Poderes é pedra fundamental do estado [democrático] de direito, o governo não tem ação sobre outro Poder, e em relação à questão das tarifas, trabalhamos para reverter.”
O vice-presidente fez referência à justificativa dada por Donald Trump para a sobretaxa, que não tratou de motivos econômicos, mas citou a atuação do STF (Supremo Tribunal Federal) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu no inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado.
A família Bolsonaro vem defendendo que a única solução para o tarifaço é uma “anistia ampla, geral e irrestrita” aos golpistas.
Já Lula e seus aliados vem culpando justamente a atuação dos bolsonaristas, em especial a do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que fizeram campanha para que Trump desse uma sinalização de apoio ao ex-presidente.
A reunião com o setor produtivo faz parte de uma série de agendas que o governo federal pretende realizar para avaliar estratégias contra o tarifaço de Donald Trump.
Produtos importados pelos EUA do Brasil são sobretaxados atualmente em 10%, tarifa anunciada por Trump em 2 de abril. Ou seja, além das tarifas de importação já cobradas, há uma cobrança adicional de 10%. Essa alíquota será substituída pela de 50% a partir de 1º de agosto.
Um exemplo é o caso do etanol, de acordo com interlocutores. Os americanos impunham uma tarifa de 2,5% ao produto, elevada a 12,5% após a sobretaxa de 10%. Com o novo anúncio, a porcentagem sobe a 52,5% em agosto.
A sobretaxa não é adicionada a produtos que já sofrem tarifas setoriais, como aço e alumínio, sobre os quais há tarifas de 50%.
Participaram do encontro por parte do governo o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros Rui Costa (Casa Civil), a embaixadora Maria Laura da Rocha (substituta no Itamaraty), Fernando Haddad (Fazenda), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) e Simone Tebet (Planejamento).
Pelo menos 30 representantes do setor produtivo marcaram presença, dentre eles, Francisco Gomes Neto (Embraer), Ricardo Alban (CNI), Josué Gomes da Silva (Fiesp), além de líderes de entidades ligadas aos calçados, alumínio, indústria têxtil, madeira, minerais, automóveis e aço.