Após concessão, governo espera fim de gargalo na ponte por onde passa 23% do comércio Brasil-Argentina

Uma image de notas de 20 reais
Ponte tem extensão de 1,4 quilômetro: área de outorga é de 15,6 quilômetros
(Divulgação)
  • Empresa argentina, vencedora, pagará US$ 29 milhões pela outorga. Prazo é de 25 anos. Aporte total deve somar US$ 99 milhões
  • Brasil tem ligação com seis países via pontes. Ministério dos Transportes diz que não há previsão de novos leilões na atual carteira
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DC NEWS]. Com o leilão de concessão realizado neste mês, na terceira tentativa, o governo espera eliminar gargalos na ponte que liga São Borja (RS) a Santo Tomé (Corrientes, Argentina). Segundo o Ministério dos Transportes, que comandou o processo, a ponte concentra 23% do comércio Brasil-Argentina e 40% das transações com o Chile. Estudo de viabilidade elaborado para embasar a operação traz potencial de crescimento – “em um cenário mais otimista” – de até 4,6% ao ano. Mas o relatório destaca que a atual infraestrutura, que está em operação há 25 anos, apresenta sinais de “desgaste físico e operacional, o que gera impedimentos ao desenvolvimento e à capacidade de atender plenamente ao crescimento dessa demanda”. Assim, é esperada taxa média de crescimento, no Brasil, de 2,92%/ano para veículos leves (saindo de 102,3 mil até chegar a 204,1 mil) e 2,01% para pesados (de 45,2 mil para 74,9 mil). O Brasil tem ligação com seis países da América do Sul por meio de 12 pontes, sendo seis no Rio Grande do Sul (veja abaixo). O MT informa que não há previsão de leilões “na atual carteira de ativos”.

Em leilão realizado pelos governos brasileiro e argentino em Foz do Iguaçu (PR) e organizado pela B3, a vencedora foi a empresa argentina Plusbyte. A oferta foi de US$ 29 milhões, ágio de 9,43%. A proposta da CS Infra (grupo Simpar) foi de US$ 26 milhões. Uma terceira empresa (Consórcio Ponta Negra Logística) foi inabilitada por não atender a um dos itens do edital,mas ainda poderá recorrer à decisão. A ponte tem 1,4 quilômetro de extensão. A área outorgada incluiu acessos, em um total de 15,6 quilômetros. O projeto, segundo o governo brasileiro, incluiu tarifas sociais para moradores e usuários de ônibus da região. “Para quem cruza o percurso a turismo, a diminuição de até 97% no preço tornará as viagens mais acessíveis”, disse. Os caminhoneiros também terão descontos que auxiliam a amortecer custo do transporte de cargas, “beneficiando toda a comunidade envolvida”.

O ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou que as “preferências” não devem nortear as relações internacionais. “Potencializar o comércio é um jogo de ganha-ganha. Ganha a Argentina, ganha o Brasil”. Sem citar nomes, ele aproveitou para fazer provável referência ao recente tarifaço vindo dos Estados Unidos. “Em tempos tão confusos, em que se defende a construção de muros – alguns físicos, mas outros muros como barreiras tarifárias –, nós defendemos pontes entre governos.” O período de concessão será de 25 anos, com aporte previsto de US$ 99 milhões (aproximadamente R$ 551,7 milhões), entre investimentos e custos. Inclui ainda a operação do Centro Unificado de Fronteira (CUF), “garantindo atendimento eficiente aos veículos de carga, suporte às operações alfandegárias e inspeções exigidas pelos órgãos reguladores”. 

Ponte
Leilão em Foz do Iguaçu: “Jogo de ganha-ganha”, afirma ministro dos Transportes
(Michel Corvello/Ministério dos Transportes)

Argentina e Brasil assinaram um Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento em 1988 (governos Raúl Alfonsín e José Sarney) que permitiu acordo para construção de uma ponte sobre o rio Uruguai, firmado em agosto de 1989 – na Argentina, já havia assumido o presidente Carlos Menem, e no Brasil a primeira eleição direta após a ditadura, no final daquele ano, escolheu Fernando Collor de Mello (que tomou posse em 1990). Esse acordo criou a Comissão Mista Brasileiro-Argentina (Comab). A ponte São Borja-São Tomé foi inaugurada no final de 1997 (governos Menem e Fernando Henrique Cardoso).

As exportações brasileiras para a Argentina cresceram 55,4% no primeiro semestre em relação a igual período do ano passado, somando US$ 9,12 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. As importações também aumentaram, em menor intensidade (1,6%), e totalizaram US$ 6,17 bilhões. Com isso, a corrente de comércio bilateral subiu 28%, para US$ 15,29 bilhões.

PONTES NAS FRONTEIRAS DO BRASIL

*Brasil-Guiana Francesa

Amapá: BR-156 (Oiapoque/Saint-Georges de l’Oyapock)

*Brasil-Guiana

Roraima: BR-401(Bonfim/Lethem)

*Brasil-Argentina

Rio Grande do Sul
BR-287: São Borja-Santo Tomé (rio Uruguai)
BR-290: Uruguaiana-Paso de los Libres (rio Uruguai)
Paraná
BR-277: Foz do Iguaçu/Puerto Iguazú (rio Iguaçu)

*Brasil-Uruguai

Rio Grande do Sul
BR-472: Barra do Quaraí/Bella Unión (rio Quaraí)
BR-293: Quaraí/Artigas (rio Quaraí)
BR-116: Jaguarão/Rio Branco (rio Jaguarão, Ponte Barão de Mauá)
BR-471: Barra do Chuí/Arroyo Chuy (Arroio Chuí)

*Brasil-Peru

Acre
BR-317: Assis Brasil/Iñapari (rio Acre)

*Brasil-Bolívia

Acre
BR-317: Brasiléia/Cobija (rio Acre)

*Brasil-Paraguai

Paraná
BR-277: Foz do Iguaçu/Ciudad del Este (rio Paraná)

Fonte: Assessoria Internacional / Ministério dos Transportes

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