ARTIGO, por Adalberto Leister Filho: Canais digitais gratuitos são a nova aposta da mídia brasileira

Uma image de notas de 20 reais
Futebol é visto em cada vez mais formatos e modelos de negócios
(Imagem gerada por IA/Freepik)
  • Com CazéTV como referência, ESPN e GeTV lançam iniciativas, enfrentam concorrentes já estabelecidos e brigam por audiência e anunciantes
  • Iniciativas multiplataforma ganham relevância ao combinar linguagem informal, acesso gratuito e conexão direta com público jovem
Por Adalberto Leister Filho | colunista Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

Nos últimos meses, os canais digitais e multiplataforma de transmissões esportivas passaram a ocupar papel central na estratégia das empresas de mídia no Brasil. A ascensão da CazéTV mostrou que o streaming gratuito, com linguagem informal e forte presença nas redes sociais, virou o novo polo a ser explorado de maneira mais eficiente no segmento.

A ESPN é a mais recente a reforçar sua presença digital. Com 7,14 milhões de inscritos no YouTube, o canal contratou profissionais experientes e com boa conexão no digital, como André Hernan e Bruno Andrade, como chamariz em seu novo projeto para o digital.

A ideia é ampliar a produção de conteúdo próprio e, futuramente, incluir transmissões ao vivo de atrações hoje restritas à ESPN e ao Disney+, desde que os contratos atuais permitam. O movimento segue a lógica de atrair a Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) e o mercado publicitário com formatos mais leves e conectados.

Escolhas do Editor

CAZÉ TV  A principal referência do setor, claro, é a CazéTV, criada pelo influenciador digital Casimiro Miguel em parceria com a LiveMode. O canal se consolidou com transmissões da Copa do Mundo do Catar, Copa do Mundo Feminina, Olimpíadas de Paris e, mais recentemente, a Copa do Mundo de Clubes.

Durante essa última, a CazéTV alcançou 5 bilhões de visualizações somadas entre YouTube, TikTok e Instagram. No YouTube, foram 1,1 bilhão de views e 51,7 milhões de dispositivos conectados.

A partida entre Flamengo e Bayern de Munique, pelas oitavas de final, foi a segunda maior audiência da história do canal, com mais de 6,5 milhões de dispositivos conectados. Como forma de manter o público motivado, a CazéTV já anunciou que transmitirá todos os 104 jogos da Copa do Mundo de 2026.

MULTIPLATAFORMA – A Globo também aposta no digital com o próximo lançamento da GeTV. O canal estreia em 4 de setembro com Brasil x Chile pelas Eliminatórias da Copa do Mundo 2026.

A equipe inclui nomes badalados do meio digital, como André Balada, Bruno Formiga, Fred Bruno, Jordana Araújo, Jorge Iggor, Luana Maluf, Mari Spinelli e Sofia Miranda.

A proposta é usar os direitos já adquiridos pela Globo para todas as plataformas, como Brasileirão e Copa do Brasil, e distribuir esse conteúdo também em TVs conectadas (LG, Samsung e TCL) e serviços de streaming como Disney+, Mercado Livre e Prime Video.

DEMOCRATIZAÇÃO – Mas o streaming esportivo gratuito já tem outros players significativos, como o Canal Goat, com 4,56 milhões de inscritos e 100% gratuito. O N Sports, por sua vez, fundado em 2018, tem oferecido novas atrações além dos eventos olímpicos tradicionais, que transmite em parceria com o COB.

Em outra parceria, com a Ola Sports, cede sua estrutura para as transmissões do Canal Desimpedidos, da Série B do Campeonato Brasileiro. Mais uma vez com jogos gratuitos.

Essa selva também vê a chegada de novos concorrentes. O SportyNet, antigo Nosso Futebol, foi adquirido pelo Sporty Group e tem atrações como Bundesliga, Copa da França e Copa da Itália.

A Xsports, que se anuncia como o primeiro canal esportivo da TV aberta com programação 24h, também prepara sua entrada no digital, com portfólio cheio de atrações entre ligas europeias e eventos olímpicos. O canal no YouTube ainda não estreou, mas anuncia transmissões ao vivo e programas próprios.

FUTURO – Nunca houve no Brasil tantos canais oferecendo jogos grátis via streaming. É uma característica própria do mercado brasileiro, no qual a TV por assinatura e o pay-per-view nunca tiveram grande popularidade e a TV aberta jamais perdeu o protagonismo dos últimos 50 anos.

Falar com essa ampla fatia da população traz o interesse dos grandes anunciantes e impulsiona gordas verbas do mercado publicitário. A combinação de informalidade, distribuição ampla e monetização por engajamento digital tornou o modelo atraente para empresas que já atuam na antiquada TV linear.

Há espaço para tantos canais? Provavelmente não. Quem souber oferecer as melhores atrações, empacotadas em linguagem clara e direta, com ampla conexão com as novas audiências, será capaz de tornar esses projetos – caros! – sustentáveis. Como diria aquele trecho clássico da nossa literatura: “Vais encontrar o mundo. Coragem para a luta.”

ADALBERTO LEISTER FILHO
Diretor de conteúdo da Máquina do Esporte, professor de pós-graduação na Faculdade Cásper Líbero (São Paulo), palestrante e autor de livros. É especialista em marketing esportivo e comunicação estratégica, com passagens por grandes veículos como Folha de S.Paulo, O Globo, Record, CNN Brasil e UOL. Atuou na liderança de equipes e na cobertura de eventos internacionais. Formado em Jornalismo e mestre em História pela USP

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