Artigo, por Adalberto Leister Filho: Por que o futebol brasileiro não consegue fazer uma liga?

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Palmeiras x Flamengo em jogo pelo Campeonato Brasileiro de 2025: disputa também fora de campo
(Edson Luiz Carvalho de Lima/Ato Press/Folhapress)
  • Divergência sobre divisão de receitas expõe entraves políticos e financeiros que impedem a criação de uma liga nacional de clubes no Brasil
  • "A liga brasileira, que deveria nascer da união de forças, está sendo sufocada por vaidades, disputas de poder e falta de visão estratégica"
Por Adalberto Leister Filho | colunista Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

Por mais que o futebol brasileiro clame por uma liga nacional de clubes — capaz de profissionalizar a gestão, centralizar negociações e valorizar o produto — o projeto segue empacado. E não é por falta de proposta. É por falta de união, de confiança e, sobretudo, de maturidade institucional.

A mais recente troca de declarações entre Luiz Eduardo Baptista, o Bap, presidente do Flamengo, e Leila Pereira, mandatária do Palmeiras, escancara o abismo que separa os clubes.

Bap foi direto, falando de maneira quase teatral, em entrevista aos amigos da Flamengo TV: “Sabe quando vou aceitar que eu receba no máximo 3,5 vezes a mais do que quem é pequeno? Nunca. Nunca não vai acontecer esse acordo nestas condições.”

Escolhas do Editor

Por trás de uma fala que buscava engajamento com seus torcedores, o dirigente jogava para escanteio um preceito básico de qualquer liga nacional bem-sucedida no planeta: a necessidade de distribuição mais igualitária de receitas como forma de melhorar a competitividade, valorizando o campeonato como um todo.

Falando em uma linguagem mais mercadológica, citando especificamente a questão das placas publicitárias dos estádios, o presidente rubro-negro considera usar essa verba na partilha entre os times uma ‘desapropriação de um ativo”.

Em entrevista à CNN, Leila rebateu com firmeza: “Eu jamais vou achar que o Palmeiras é maior do que o futebol brasileiro, porque nenhum [clube] é. Eu penso diferente do presidente do Flamengo”.

GESTÃO – Leila Pereira defende a criação da liga brasileira, mas afirma que é necessário melhorar as práticas de gestão em cada time: “Não vou pagar a conta de clubes irresponsáveis”. Talvez por essa e outras razões a dirigente ainda não tenha assinado um memorando de entendimento que circula entre os cartolas da Liga do Futebol Brasileiro (Libra) e da Liga Forte União (LFU), os dois blocos de clubes do país.

A divergência entre Flamengo e Palmeiras, as equipes mais ricas e bem-sucedidas do Brasil nos últimos anos, já seria suficiente para travar o projeto. Porém, o cenário se agrava com os problemas internos de outras agremiações.

O Corinthians, por exemplo, vive uma crise sem precedentes. O presidente afastado Augusto Melo tornou-se réu por associação criminosa, lavagem de dinheiro e furto qualificado, em um escândalo envolvendo o contrato com a casa de apostas VaideBet. O clube, que deveria ser protagonista na articulação da liga, está mergulhado em disputas judiciais e políticas.

No Atlético-MG, os jogadores protestaram com os bolsos para fora durante um treino, cobrando salários e direitos de imagem atrasados. A SAF do clube prometeu quitar os débitos, mas a crise expôs fragilidades na gestão e na comunicação com o elenco. Como esperar que clubes em situação tão instável consigam negociar coletivamente?

SOLUÇÃO? – A liga brasileira, que deveria nascer da união de forças, está sendo sufocada por vaidades, disputas de poder e falta de visão estratégica. Enquanto isso, o Campeonato Brasileiro segue sob gestão da CBF, com calendários desorganizados, arbitragem contestada e um produto que perde valor no mercado nacional e internacional ao ser negociado de forma fatiada.

A realidade é que, no Brasil, cada clube ainda joga por si. E enquanto isso não mudar, a liga continuará sendo apenas uma ideia — boa no papel, inviável na prática.

ADALBERTO LEISTER FILHO
Diretor de conteúdo da Máquina do Esporte, professor de pós-graduação na Faculdade Cásper Líbero (São Paulo), palestrante e autor de livros. É especialista em marketing esportivo e comunicação estratégica, com passagens por grandes veículos como Folha de S.Paulo, O Globo, Record, CNN Brasil e UOL. Atuou na liderança de equipes e na cobertura de eventos internacionais. Formado em Jornalismo e mestre em História pela USP

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